Fui surpreendido recentemente pelo email de uma aluna de jornalismo da ECA. Convidava-me, em nome desse jornal a ocupar o posto de defensor dos interesses do leitor. Achei que era trote (alunos costumam fazer isso com professores, acho). Mas quando o convite foi repetido aceitei antes que mudassem de idéia. Para quem trabalha em jornal há quase 30 anos, ser ombudsman é um passo importante.
Comecei como revisor na Abril, trabalhando e estudando. Uma edição da Veja em 1979 estampou dois títulos trocados, logo a Veja, que era revisada mais de uma vez. A matéria sobre a queda da inflação trocou de título com o texto sobre a volta aos céus de uma aeronave afastada das rotas aéreas. Enfim, na revista, a inflação decolava e o avião caía de novo. Imagino que algum leitor achou que a revista estava criticando a ditadura. Era só um erro. Ou vai ver foi um pequeno ato de crítica e heroísmo.
Anos depois, estava na Folha, que publica erros em destaque e instituiu no país o cargo de ombudsman. Errar lá era mais chato pela visibilidade do fato. Mesmo assim, errava-se. Muitas vezes saía correção (que chegava a ser corrigida no dia seguinte). Presumo que enganos nem foram notados. Sem revisores surgiam erros de ortografia, concordância, sintaxe, informação. Lembro-me de seções ostentando a taxa de erro zero. Eram seções virgens. A virgindade, no entanto, durava pouco.
Não me alongarei sobre minha carreira (e minha história de erros, que afinal, é longa), até porque o espaço é bom, mas curto. Imagino que os alunos começam a se arrepender do convite (ainda mais se me compararem àqueles que me antecederam). Enfim, vai ver erraram.