Professor da FAU se recusa a dar aulas de sexta-feira

Após reunião sem participação de alunos, diretoria muda aula para sábado

Sexta-feira é dia de happy hour na FAU. Se isso é motivo de felicidade para estudantes de toda a USP, para o curso de Design, cujas aulas ocorrem à noite, trata-se de um grande problema. Insatisfeito com o barulho durante as aulas, o professor João Bezerra deixou de dar aulas às sextas. Semana passada a diretoria se reuniu para buscar soluções e, sem consultar os estudantes, anunciou que a aula será temporariamente dada no sábado.

Na última sexta-feira, dia 8 de Abril, alunos de Design protestaram contra a medida tomada e fizeram um debate com membros da diretoria. Os estudantes apresentaram soluções alternativas como a troca do professor ou do espaço onde a aula é dada. A diretoria rebateu afirmando que seria interessante manter o professor que já vinha dando a aula nos últimos anos e, portanto, já tinha um programa organizado. Já a sugestão de realizar as aulas em outras unidades da USP esbarra em uma questão política do curso, que teve de enfrentar resistência de alunos e professores de Arquitetura para se firmar dentro da FAU. “O curso de Design complementa o de arquitetura, ele faz parte da FAU (…) nós não temos que nos deslocar, não devemos nos calar”, afirma a vice-diretora da FAU, Maria Cristina da Silva Leme.

De acordo com Thomaz Abramo, do 2º ano de Design, há alunos em sua sala que não podem atender às aulas no sábado por trabalharem ou dependerem de ônibus fretado para chegar à USP. Bezerra, professor de Modelos Tridimensionais, afirma que a mudança também não o beneficia, mas reforça a impossibilidade de dar as aulas com o barulho do som ou mesmo da conversa em voz alta dos estudantes. “A aula não é minha, é do departamento, então os professores que acham que não tem problema que venham dar aula na sexta”.

O professor Carlos Zibel Costa pediu desculpas por não terem consultado os estudantes na tomada da decisão. “Eu não me dei conta da ausência dos alunos”, afirmou. Para buscar soluções alternativas, a diretoria convocou para segunda-feira, dia 11, às 17h, uma reunião com participação de representantes estudantis.

Diretoria conversa com estudantes da FAU durante manifesto (foto: Pedro Ungaretti)
Diretoria conversa com estudantes da FAU durante manifesto (foto: Pedro Ungaretti)

Barulho

Beatriz Azevedo faz parte da primeira turma de Design, e convive com barulho desde 2006. Embora reconheça uma melhora em relação aos primeiros anos, continua incomodada. “A gente vê quase um clima de pânico entre os alunos do Design quando vê um anúncio de festa na sexta-feira. Na terça já estamos preocupados se vai ter banda, se ela tocar cedo, se já não é melhor fazer um abaixo assinado e entregar para o grêmio”.

O acordo feito entre a diretoria e as entidades estudantis que organizam os happy hours é de que só pode haver música após 23h, após o término das aulas. No entanto os professores também reclamam do barulho dos alunos conversando.

Marcos Saad, do gfau [grêmio da FAU], afirma que a entidade faz esforços para manter um diálogo com os alunos de Design, mas que estes não costumam aparecer nas reuniões do grêmio. “Eles inclusive criaram uma espécie de comissão pra discutir entre eles”, afirma Marcos.

O gfau é a entidade que organiza o evento dentro do prédio. “O piso do museu [onde ocorre o happy hour] desde o início foi pensado como um espaço dos estudantes. A festa faz parte da vivência universitária”, justifica Gabriel Almeida, do gfau.

Heitor de Andrade Pinto, ex-membro da atlética da FAU também ressalta que os happy hours são a única fonte de renda das entidades, e por isso precisam ser feitos. “É com eles que a gente sustenta onze times com técnico, bola, uniforme. E assim como a gente, o gfau e o Equador [comissão de alunos do 3o ano que realizam uma festa open bar no final do ano] também precisam dos happy hours”.

Este texto foi atualizado e apresenta diferenças de redação em relação ao publicado na edição impressa do JC.