Universidade pode regularizar PM no Campus

A efetivação da polêmica medida depende apenas da assinatura de convênio firmado entre a USP e Secretaria de Segurança Pública

No dia 5 deste mês, o Diário Oficial publicou a aprovação do convênio entre a USP e a Secretaria da Segurança Pública (SSP), a fim de oficializar a entrada da Polícia Militar no campus Butantã. Além da entrada da PM, ainda são previstas outras ações, como a apresentação de palestras à comunidade uspiana e um treinamento específico aos policiais encarregados de agir no campus.

O convênio foi elaborado tendo como base o sistema de policiamento comunitário participativo, adotado no Japão há 130 anos. Nesse modelo, os policiais não apenas reagem a chamadas emergenciais, cumprindo a lei penal, mas apresentam-se como  membros integrados à sociedade, colocados em diálogo com a comunidade local. Nessa relação de igualdade, o cidadão sente-se impelido a cumprir a lei.

A criação do Fórum da Cidadania pela Cultura da Paz é um dos termos do convênio, e possibilita a todos os cidadãos envolvidos com a Cidade Universitária discutir a violência, desde medidas que devem ser tomadas até avaliações sobre o que vem sendo feito.

O policiamento

A Universidade de São Paulo terá em torno de 15 a 20 policiais e duas bases móveis da PM, posicionadas mediante diagnóstico das áreas de maior criminalidade. Wanderley Messias da Costa, coordenador de Relações Institucionais da Universidade, que participou da elaboração do convênio, afirma: “Os policiais terão treinamento especializado para lidar com o público universitário. Mediante convênio, a USP cooperará para esse treinamento e em outros cursos e pesquisas para a PM estadual”. A Guarda Universitária será integrada a esse novo modelo de segurança. “Será mais necessária do que nunca”, diz Messias.

Apesar da presença da PM na Cidade Universitária já ter provocado diversas discussões, para Messias, a aceitação é quase unânime. “Minha intuição é que se fizéssemos um plebiscito por meio eletrônico, chegaríamos a índice altíssimo de aprovação, certamente acima de 90% dos consultados”.

Controvérsia

Sobre essa questão Gabriel Neves Martins, membro do Centro Acadêmico das Ciências Sociais (Centro Universitário de Pesquisas e Estudos Sociais), acha que “foi tudo muito mal debatido”. Para ele, o grande problema é que a decisão foi tomada pela Reitoria sem haver qualquer diálogo com a comunidade. “Não houve votação, a comunidade acadêmica não foi consultada, foi uma decisão arbitrária”.

Além disso, Gabriel acredita que a entrada da polícia militar no campus não resolve o problema. Para ele, a má distribuição da moradia, os grandes intervalos inabitados entre as unidades, a grande demora dos ônibus e a falta de iluminação à noite são questões determinantes para a insegurança na Universidade.

Já membros do Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC) da FEA redigiram um manifesto defendendo a entrada da PM no campus. “A ampla maioria dos alunos da FEA-USP, como foi nitidamente verificado tanto em nossa assembléia no período diurno quanto na do noturno, é favorável à ampliação da presença da Polícia Militar no campus Butantã”, diz o documento.

Os dois Centros Acadêmicos concordam que manifestações políticas devem continuar a ocorrer sem interferência das forças de segurança. “Uma vez dentro do campus, é importante que os policiais sejam devidamente instruídos sobre as particularidades do ambiente universitário. Manifestações políticas pacíficas são uma constante no cotidiano da USP e o uso de força contra tais movimentos não poderá ocorrer. Para que se garanta a segurança, é preciso também que se garanta a convivência harmônica entre a autoridade policial e a comunidade”, completa o documento do CAVC.