USP participa pela 1ª vez de campeonato de biologia sintética

Um grupo formado por estudantes de graduação, pós-graduação e professores é o primeiro time da USP a participar do iGEM, uma competição de biologia sintética organizada anualmente pelo Massachussets Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos. Eles são também os únicos representantes do Brasil no evento deste ano.

“Na competição, cada time deve montar uma bactéria com fim tecnológico”, explica Carlos Hotta, professor do Instituto de Química (IQ) e um dos coordenadores da equipe. Assim como programadores conseguem desenvolver softwares para realizar determinadas tarefas, o biólogo sintético é capaz de programar a célula para desempenhar funções. Ele utiliza a linguagem genética com objetivo de gerar soluções para problemas até então insolúveis ou realizar uma tarefa de maneira mais eficiente.

Os times participam primeiro de uma etapa regional, que será realizada na Colômbia para a América Latina. Nela os grupos apresentam o projeto e os times selecionados vão para a etapa final, no MIT. O time da USP conta com 12 alunos de graduação, 5 de pós, 4 coordenadores e 5 conselheiros – que incluem professores e pós-graduandos. São pessoas do Instituto de Biociências (IB), Instituto de Química (IQ), Escola Politécnica (Poli), Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), Instituto de Física (IF), Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) e Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp Araraquara (FCFAR).

Estudantes conseguiram pagar a inscrição no iGEM com crowdfunding (foto: Juliana Mendonça Santos)
Estudantes conseguiram pagar a inscrição no iGEM com crowdfunding (foto: Juliana Mendonça Santos)
Integração

A multidisciplinaridade do projeto e a oportunidade de aprender na prática são aspectos valorizados pelos alunos. “Quando eu vi que tinha gente da Física, Química, Biologia, achei bem legal, porque é algo que falta na Universidade”, conta Cauã,Westmann, estudante de Biologia. “É bacana que o chamado partiu dos alunos, então você propõe uma idéia e o professor discute com você. Geralmente é ao contrario, o professor propõe uma idéia, você não tem muito know-how pra discutir com ele e acaba fazendo”, destaca Pedro Medeiros, aluno de Ciências Farmacêuticas. “Além disso, o iGEM está treinando pessoas em técnicas de biologia molecular. Eu sou graduado em Biologia pela USP, e saí sabendo tudo de biologia molecular, mas faltava conhecimento de laboratório”, completa.

Propriedade Intelectual

Um dos destaques do iGEM é o incentivo à produção de conhecimento livre de royalties. “A biologia molecular tem um grande problema com patentes, porque você não pode patentear coisas vivas, e se fosse preciso pagar pelo uso de todas as partes necessárias, em nível molecular, ninguém conseguiria fazer nada”, conta Andrés Ochoa, doutorando do IB. O intuito da competição é gerar um banco de dados de partes biológicas para livre uso. Ao se inscrever, a equipe recebe material biológico da organização do iGEM e os utiliza em seus experimentos, deixando os resultados em livre direito de uso para compor o banco de dados. “Com as partes de livre uso, essa tecnologia vai poder avançar mais rápido”, completa Ochoa.

Crowdfunding

Segundo o professor Carlos Hotta, este é o primeiro projeto científico brasileiro a arrecadar verba através do crowdfunding. A idéia surgiu porque o grupo não conseguiu patrocínio de empresas e o processo de pedido de verba na Universidade não seria concluído em tempo hábil para a inscrição no iGEM. “Então a gente resolveu tentar um plano C. Nos inscrevemos em um site em inglês [o RocketHub], os alunos divulgaram para os contatos deles e nós acabamos recebendo doações tanto do exterior quanto do Brasil – inclusive de uma empresa e uma ONG”, conta Hotta. O grupo espera conseguir o dinheiro das passagens com a Pró-Reitoria de Graduação e Pós-Graduação.