Ensino a distância: tendência ou única opção?

Aulas de língua de sinais acontecem por meio de ensino a distância para cursos de licenciatura

A partir de 2009, a Universidade de São Paulo iniciou a contratação de profissionais para o ensino de língua de sinais. A necessidade, que se intensificou com a obrigatoriedade da disciplina para os cursos de licenciatura da USP, fez com que a proposta do curso fosse alterada pela pró-reitoria: as aulas, presenciais, passaram a ser realizadas via ensino a distância (EAD). “Havia uma demanda de alunos, uma escassez de professores e, com a crise, a contratação de profissionais ficou dificultada”, disse Felipe Venâncio, professor de língua de sinais da Universidade.

Por duas vezes, o edital para professor do curso de libras na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) foi aberto e não houve sequer uma inscrição. Em meados de 2013, Venâncio e Janice Temoteo – especialista em libras – construíram o atual curso: “Fiz uma visita a uma universidade britânica em Bristol, que tem um centro de pesquisa muito importante sobre estudos da surdez, contando, inclusive, com um curso a distância. Trouxemos uma proposta que, embora não seja parecida, devido a questões técnicas, é bem interessante”, conta o professor.

“O curso [via EAD] surgiu na urgência de se cumprir o decreto de 2005. No começo, estávamos temerosos em relação ao seu funcionamento – até porque ele ainda não está em seu formato ideal – mas temos tido um feedback muito legal dos alunos”, confessa Temoteo. O ensino de língua de sinais à distância na Universidade tem a duração de 120 horas, e metade dessa carga horária é teórica. A outra metade, prática, é desenvolvida a partir de uma websérie – toda em língua de sinais.

“A websérie conta a história de um garoto surdo em uma escola de ouvintes, e aí vem não só a discussão do enisno da língua, mas também a temática da inclusão, da inadequação da escola e de como os colegas e professores recebem esse aluno. A gente conseguiu discutir isso”, disse Venâncio, que propôs o argumento da websérie e desenvolveu todo o conteúdo prático, dramatical e lexical das aulas.

Em 2014, o primeiro semestre da disciplina “Língua Brasileira de Sinais EAD” foi oferecido: “Foi um semestre meio atrapalhado, porque não tínhamos terminado a websérie ainda. Começou a valer em 2015. E pretendemos melhorar o curso ainda mais”, disse Venâncio. Um dos problemas que ainda não estão resolvidos, por exemplo, é o fato da websérie apresentar legendas enquanto os personagens fazem sinais, fazendo com que haja um estímulo competitivo: ou você olha para a mão, ou para a legenda.

Os dois desenvolvedores da disciplina garantem que a matéria é pesada. “Todo mundo acha que vai ser fácil, e não é bem assim. Tem um texto obrigatório por semana, um vídeo de aula teórica com o professor Felipe e a websérie. Tenho escutado dos alunos que a disciplina é legal, mas que é pesada”, conta Janice.

O ensino à distância é uma tendência para a Universidade?

“Espero que os cursos EAD não sejam uma tendência para a USP, sinceramente”, diz Venâncio, que completa: “Isso não substitui a presença do professor em sala de aula. Pode servir como um suporte, uma ferramenta, mas que possa ser utilizada por um professor em cursos presenciais”. Além dos problemas técnicos, Felipe Venâncio diz que sente falta do contato com o aluno: “Acho que esse contato enriquece muito. É um ponto negativo, mas inevitável”.

Janice concorda com seu colega de trabalho: “Não vejo [o ensino a distância] como tendência. Por ser EAD, não significa que não vai ter que ter mais gente trabalhando no curso. Além disso, ainda há muita resistência com o ensino a distância. Quando fomos montar o curso, escutamos muitas críticas. Mas a gente teve que fazer. E, agora, temos tido uma aceitação.”