Interdição traz reflexão sobre o papel da instituição na sociedade e no imaginário social
![Museu Paulista fechado para restauração](https://www.jornaldocampus.usp.br/wp-content/uploads/2016/11/CMYK_cultura20161018_144903-1024x576.jpg)
Desde sua inauguração, em 1895, até os dias atuais, muita coisa mudou no Museu do Ipiranga. Até acervo de História Natural já morou lá, mas nenhum dos Dons Pedros o fez – o Pedrão sequer viu a bela obra que fizeram em homenagem a seu ato proclamativo. Mais de um século se passou desde sua construção, e o Museu sofreu os males do tempo. Fachadas e coberturas viraram esponja com as chuvas de 2011 e 2012. Em 2013, uma das grandes construções políticas do Brasil foi fechada para restauração. A previsão de reabertura dói no peito dos amantes museológicos: 2022 – data nada aleatória, já que neste ano o Brasil comemorará 200 anos de independência. Até lá, as mudanças serão além de fisico-estruturais, e transpõem o imaginário de um Brasil inteiro.
Para tamanha restauração, o museu precisou se ver nu. Hoje, equipes, laboratórios e reservas técnicas se encontram espalhados em 7 imóveis alugados. As atividades de pesquisa ligadas à universidade continuam intensas. “O museu não se restringe ao edifício, não é só exposição (…) é um campo mais largo que tem uma inserção muito importante na sociedade”, esclarece Solange Ferraz, diretora do Museu Paulista. Um dos primeiros locais alugados foi justamente voltado para atividades educativas e de extensão, com oficinas, palestras, e cursos. Aos falantes de “no museu só tem coisa velha” durante os almoços de domingo, estes precisam revisitar esses espaços: focados no entendimento do público por meio de interações, uma nova forma de pensar tem sido pleiteada. Busca-se uma maior relação entre o patrimônio e seus frequentadores de forma afetivo-cultural.
Até 2022, o Museu Paulista pode pensar qual é o tipo de museu que deseja ser. “Que história estaremos trazendo para a sociedade por meio do nosso acervo?”, questiona Solange. A construção do museu é um marco para a criação do imaginário brasileiro a respeito do próprio Brasil. “É importante entender como a arte esteve a serviço dessa construção do imaginário, qual é o tipo de discurso e como isso ocorre nos livros didáticos”.
Tanto tempo para refletir sobre o próprio museu não acontece só pelas terras tupinanquins. O Rijksmuseum, o museu nacional dos Países Baixos, passou 10 anos fechado para restauração e digitalização das obras. Tamanha obra dói no bolso da universidade, que optou por abrir a captação externa de recursos. Em março firmou-se convênio com o grupo Mulheres do Brasil, comandado por Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza. A próxima etapa da restauração é o diagnóstico estrutural do Museu do Ipiranga. Não apenas o Museu, mas todos devem refletir se esse é o melhor diagnóstico para a universidade que desejamos ser no futuro. Pelo menos um dos vovôs da USP está bem encaminhado para tal reflexão.