Museu Paulista fechado não limita atividades

Interdição traz reflexão sobre o papel da instituição na sociedade e no imaginário social

Museu Paulista fechado para restauração
Museu Paulista fechado para restauração | foto: Larissa Lopes

Desde sua inauguração, em 1895, até os dias atuais, muita coisa mudou no Museu do Ipiranga. Até acervo de História Natural já morou lá, mas nenhum dos Dons Pedros o fez – o Pedrão sequer viu a bela obra que fizeram em homenagem a seu ato proclamativo. Mais de um século se passou desde sua construção, e o Museu sofreu os males do tempo. Fachadas e coberturas viraram esponja com as chuvas de 2011 e 2012. Em 2013, uma das grandes construções políticas do Brasil foi fechada para restauração. A previsão de reabertura dói no peito dos amantes museológicos: 2022 – data nada aleatória, já que neste ano o Brasil comemorará 200 anos de independência. Até lá, as mudanças serão além de fisico-estruturais, e transpõem o imaginário de um Brasil inteiro.

Para tamanha restauração, o museu precisou se ver nu. Hoje, equipes, laboratórios e reservas técnicas se encontram espalhados em 7 imóveis alugados. As atividades de pesquisa ligadas à universidade continuam intensas. “O museu não se restringe ao edifício, não é só exposição (…) é um campo mais largo que tem uma inserção muito importante na sociedade”, esclarece Solange Ferraz, diretora do Museu Paulista. Um dos primeiros locais alugados foi justamente voltado para atividades educativas e de extensão, com oficinas, palestras, e cursos. Aos falantes de “no museu só tem coisa velha” durante os almoços de domingo, estes precisam revisitar esses espaços: focados no entendimento do público por meio de interações, uma nova forma de pensar tem sido pleiteada. Busca-se uma maior relação entre o patrimônio e seus frequentadores de forma afetivo-cultural.

Até 2022, o Museu Paulista pode pensar qual é o tipo de museu que deseja ser. “Que história estaremos trazendo para a sociedade por meio do nosso acervo?”, questiona Solange. A construção do museu é um marco para a criação do imaginário brasileiro a respeito do próprio Brasil. “É importante entender como a arte esteve a serviço dessa construção do imaginário, qual é o tipo de discurso e como isso ocorre nos livros didáticos”.

Tanto tempo para refletir sobre o próprio museu não acontece só pelas terras tupinanquins. O Rijksmuseum, o museu nacional dos Países Baixos, passou 10 anos fechado para restauração e digitalização das obras. Tamanha obra dói no bolso da universidade, que optou por abrir a captação externa de recursos. Em março firmou-se convênio com o grupo Mulheres do Brasil, comandado por Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza. A próxima etapa da restauração é o diagnóstico estrutural do Museu do Ipiranga. Não apenas o Museu, mas todos devem refletir se esse é o melhor diagnóstico para a universidade que desejamos ser no futuro. Pelo menos um dos vovôs da USP está bem encaminhado para tal reflexão.