Estudantes da FMUSP entram em greve

Uma das reivindicações dos alunos é a contratação de médicos para a ala pediátrica do HU
Por Dado Nogueira

No dia 9 de Novembro, conforme nota divulgada pelo Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (CAOC) em suas redes sociais, os alunos da Faculdade de Medicina da USP deliberaram greve estudantil em Assembleia Geral dos estudantes, que foi iniciada na última segunda-feira, 13. A principal reivindicação dos alunos é a contratação de preceptores — médicos vinculados à USP, que também têm participação no ensino — para suprir a demanda da pediatria do Hospital Universitário (HU), e da disciplina obrigatória para os alunos de medicina, o internato de pediatria. O problema se acentuou depois do pedido de demissão da professora Patricia Takahashi, que ocupava essa posição anteriormente.

A diretoria da FMUSP afirmou lamentar a opção dos estudantes pela greve, e reforçou a manutenção das atividades acadêmicas e o não abonamento das faltas dos alunos que aderirem à greve.

(Foto: Natan Novelli Tu)

Segundo Amanda Vidotto, estudante da FMUSP e integrante do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, a nota escrita pela diretoria coloca a greve dos estudantes como uma atitude isolada. A aluna defende o movimento, dizendo que “desde 2014 a gente vem tentando falar com a Reitoria, mas eles se negam. Já a diretoria até faz reunião com a gente, mas na última, depois da paralisação, foi dito que nossa posição era ‘ideologia’, dando a entender que nós não sabíamos do que estávamos falando.” Ainda segundo a integrante do CAOC, a diretoria não se mostra disposta ao diálogo. Segundo ela, nas reuniões, os diretores apenas propuseram alternativas que não levavam em conta a principal reivindicação dos alunos: a contratação de profissionais vinculados à USP para suprir a demanda da pediatria do HU.

Estopim

A deliberação da greve não foi uma ação repentina e isolada dos estudantes da FMUSP, que já tentam contato com a Reitoria desde 2014 para tratar do tema. Conforme publicado pelo JC na última edição, outras manifestações recentes foram realizadas pelos alunos, que, em protesto, fecharam as avenidas Rebouças e Doutor Arnaldo.

A precarização do setor de pediatria do Hospital Universitário começou em 2014. Ela ocorreu devido à queda no número de funcionários do HU, por conta do Programa de Incentivo à Demissão Voluntária (PIDV), que se somou a uma diminuição na carga horária dos preceptores de 40 para 20 horas. Com essa situação, a professora Patrícia Takahashi passou a atuar como preceptora de 15 estudantes ao mês, além de desempenhar a função de médica assistente, com os plantões de atendimento, e coordenadora do estágio.

Recentemente, o Ministério Público fez a exigência de que o atendimento da pediatria do HU fosse estendido para o período da noite. A diretoria da FMUSP acatou à exigência, mas para isso não contratou novos profissionais. Dessa forma, Patrícia Takahashi entendeu que acatar a exigência do MP seria inviável, o que resultou no seu pedido de demissão.

Com a saída da professora, o futuro da disciplina não está assegurado, como afirmou André Ruiz, aluno do quinto ano de medicina, à reportagem do JC. “Não só a população fica sem atendimento, como os estudantes não podem desenvolver o estágio, já que alguns grupos ainda precisam fazê-lo esse ano”.

Segundo os estudantes, o setor de pediatria do Hospital Universitário tem um déficit de dez profissionais: há hoje apenas 22 dos 32 pediatras necessários para o funcionamento do setor.

A diretoria da FMUSP reconhece o déficit de profissionais, e afirmou, em nota, que está “envidando todos os esforços” em um convênio com a Secretaria Municipal de Saúde, para suprir a falta de médicos e “prover total funcionamento” da pediatria. “Este convênio já está finalizado para ser assinado com as autoridades municipais”, diz a nota. Porém, a medida ainda está em análise pela Secretaria de Saúde, de forma a definir se é viável pô-la em prática. Para os estudantes, essa ação resolveria o problema apenas em partes, visto que a questão da falta de professores para o internato em pediatria não seria resolvida.