Como os franceses impediram duas vezes a extrema direita

Por Lucille Polizzi

Por duas vezes, em 2002 e 2017, a França teve que bloquear o partido de extrema direita nas eleições presidenciais, o Le Front National, representados por Jean-Marie Le Pen, e depois Marine Le Pen.

Le Front National é um partido criado em 1981 e que por muito tempo assustou o povo francês. Seu fundador, Jean-Marie Le Pen, ofensivo e provocador em seus discursos nacionalistas, era contra a imigração, contestava a história francesa e a identidade multicultural do país.

Jean-Marie Le Pen concorreu pela primeira vez em 1974 e ficou com menos de 1% dos votos no primeiro turno. Mas a partir do final dos anos 80, o partido passou a obter mais votos em cada eleição presidencial. Em 1995, obteve 15% dos votos.

Em 2002, os franceses deram a Le Pen 16,9% dos votos, permitindo que ele alcançasse vitória histórica e traumática para a França. Uma forte mobilização contrária ocorreu então.

Políticos, artistas, sindicatos e a população se mobilizaram para votar “contra o ódio”. Le Pen perdeu para Chirac, que obteve mais de 82% dos votos em maio 2002.

Segunda derrota da direita

Quinze anos depois, em 2017, o cenário era semelhante com Marine Le Pen. Qualificada para o segundo turno da eleição presidencial contra o social-liberal Emmanuel Macron.

A líder da Frente Nacional, o partido da extrema-direita francesa, Marine Le Pen. Foto: Wikimedia Commons

Diante das altas chances de vitória de Marine Le Pen, os chamados para votar em Macron se multiplicaram, inclusive entre seus maiores críticos, como François Fillon (candidato da direita conservadora) e Benoit Hamon (socialista).

Também encorajaram votos a favor de Macron entidades como LICRA, SOS Racisme133 (associações anti-racismo), CRIF134, CFCM e UOIF (organizações islâmicas e judaicas). O presidente da LICRA, Dominique Sopo, o dia após o primeiro turno, tomo a palavra: “Ontem tivemos um dia de vergonha pela democracia francesa, com Marine Le Pen, representante de um partido racista, anti-semita, homofóbico e sexista, contrário aos valores da democracia, qualificado para o segundo turno. É importante que uma dinâmica seja colocada em prática, não apenas para ser derrotada, mas além disso, para que a pontuação alcançada em 7 de maio seja a mais baixa possível”.

Grandes encontros foram realizados em lugares emblemáticos da Liberdade francesa, como a Praça da República, em Paris. Estavam presentes também associações feministas, anti-homofobia e anti-racismo. Diretores das grandes escolas francesas como ENS e Essec também se engajaram contra Le Pen para derrotar a ideologia do Front National. “O objetivo é bloquear o FN, mostrando um rosto da França fraterna”, diz Jimmy Lesfeld, presidente da FAGE, a federação das associações estudantes francesas.

No entanto, em 2017 a mobilização foi muito menor do que em 2002 : no segundo turno Macron obteve 66% dos votos e Le Pen 34%, com mais de 25% de abstenção. Isso parece mostrar um desinteresse e uma insatisfação geral dos franceses pela política.