A entrevista é um dos gêneros clássicos do jornalismo. Por meio de perguntas e respostas, conseguimos tatear universos e acessar informações importantes. A última edição do Jornal do Campus trouxe, por exemplo, uma entrevista com o ex-senador Eduardo Suplicy sobre educação. Suplicy é uma voz relevante e traz reflexões pertinentes, mas confesso que senti falta de mais reportagens sobre o tema da vez. Na coluna da edição passada, falei sobre a necessidade de uma cobertura na Assembleia Legislativa de São Paulo a respeito da CPI das Universidades, mas isso não aconteceu.
É fato que a educação está em pauta no jornal. Na edição passada, o JC publicou reportagem sobre a falta de professores e a epidemia de contratações temporárias na USP (com o dado estarrecedor de que o professor temporário com título de mestre ganha R$ 1.342,26 para 12 horas de trabalho semanais). Publicou também uma matéria sobre o Atlas da Rede Estadual de Educação de São Paulo, organizado pelo professor Eduardo Donizeti Girotto. O mapa revela como as áreas com maior vulnerabilidade social continuam desassistidas, enquanto áreas de baixíssima vulnerabilidade estão mais bem equipadas. Acredito que a reportagem poderia ter ficado ainda melhor se os repórteres fossem a escolas do centro e das periferias para mostrar exemplos dessas disparidades, e não fechassem o texto com base apenas nas entrevistas.
Outro exemplo de reportagem que seria engrandecida pela presença do repórter in loco é a sobre o Concurso Rainha e Rei, realizado na abertura dos Jogos da Universidade Santa Cecília, em Santos. Pela competição, jovens universitários, homens e mulheres, precisam necessariamente desfilar de sunga e biquíni. Caso a faculdade não consiga nenhum candidato, fica impedida de participar dos jogos. Uma das universidades participantes é a Escola Politécnica de Santos. A Comissão Contra Opressão da Poli divulgou uma nota de repúdio ao concurso, e acendeu a polêmica. Achei a história tão interessante, que fui procurar mais informações e descobri que o desfile deste ano aconteceu no dia 3 de maio. Fiquei me perguntando: Por que nenhum repórter foi cobrir esse evento?
Entrevistas são ferramentas fundamentais para o exercício da nossa profissão, mas elas podem virar muletas. Colocar informações na boca dos outros é uma forma de se proteger da responsabilidade que a publicação de qualquer conteúdo traz. Mas jornalismo exige coragem – e muita andança também.