Quando a soma de 1+ 1 NÃO É igual a 2

Por Rebecca Gompertz

Ontem cruzei com um antigo amigo no metrô. Olhei pro lado e vi uma pessoa que costumava encontrar todos os dias e que, agora, para ser sincera, só conhecia pelo Facebook.

Quando nos formamos eu sabia que isso ia acontecer e, como costumo falar o que não devo, fiz questão de compartilhar minha previsão. Ele, envolto no medo do incerto que cobre o futuro quando se tem 17 anos, me garantia que não – e parecia ver minha certeza quase como ofensa.

Foi lembrando desse olhar de traição na sua cara, de quando eu disse que a gente não ia mais se falar depois da formatura, que eu tomei a iniciativa de chamar sua atenção ontem, meu amigo.

Não tínhamos muito tempo, mas nos cumprimentamos com um abraço e você começou a me perguntar as coisas educadas que pessoas que não ficam facilmente sem graça costumam perguntar pra conhecidos.

Eu, constrangida, percebendo o quanto a proximidade que a gente teve não nos pertencia mais (e me lembrando que já eram 23h, eu não queria perder meu ônibus, mesmo que fosse conversando com você), fiz os comentários de sempre sobre faculdade, estágio e todas as amenidades que a gente compartilha com os estranhos nas conversas rápidas do dia a dia.

Comecei esse texto querendo te contar sobre a conversa que a gente não teve. Aquela em que eu sento do seu lado, como no colégio, e te conto todas as reviravoltas dos últimos anos e você me conta as suas. Consigo quase te ver achando graça enquanto te falo que de uns tempos pra cá, descobri o álcool e o amor. E tenho certeza que você me traria alguma história que eu acharia absurda, mas me divertiria imaginando.

Entretanto, a verdade é que não consigo.

Não consigo te narrar como seria essa conversa porque faz tempo que a gente não se fala e eu não lembro mais da sua risada. Não tenho certeza como você reagiria a mim e nem sei se você continua se metendo no mesmo tipo de situação que me deixava em choque naquela época.

Outra coisa que não sei fazer é acabar esse texto. Acho que do mesmo jeito que acabamos nossa conversa ontem: com um abraço e um “bom te ver”, de quem sente saudades de um tempo que já passou e o vê materializado num estranho com quem cruzou no metrô.