O casamento do curso superior com a prática esportiva pode custar caro ao corpo
Por Laura Scofield
Bárbara Palmeira, aluna da ECA, chegou à universidade já com a intenção de praticar um esporte. Testou o atletismo e, em pouco tempo, já estava se esforçando e cobrando como muitos dos atletas mais antigos. Começou a sentir dores nas canelas e parou a prática por dois meses. Voltou depois, mas as dores nunca cessaram. Hoje, já incluem as duas canelas e os dois joelhos. Ela, entretanto, continua – com o auxílio da fisioterapia. Ela e muitos outros atletas lesionados.
O médico do esporte do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) da FMUSP, Tiago Lazzaretti, sabe que casos como o de Bárbara são comuns. A energia da juventude, aliada à inexperiência de alguns técnicos, leva jovens a iniciarem a vida esportiva de forma mais intensa que o saudável.
O corpo despreparado e a falta de estrutura das equipes e centros de treinamento – o Cepe incluso – favorecem as lesões. Outro potencializador dos ferimentos é a falta de tempo de recuperação para o corpo, comum aos multiatletas.
A estrutura
A medicina do esporte tem como intenção analisar, prevenir, acompanhar e tratar as doenças relacionadas às práticas. Porém, infelizmente, a área ainda não está tão presente no cotidiano dos esportistas.
Isabela Argollo, presidente da atlética da FMUSP, afirma que “a estrutura de tratamento disponibilizada pela USP ainda é pouco desenvolvida, ou pelo menos divulgada.”
O IOT possui o Laboratório de Estudo do Movimento, um centro de excelência da Fifa, mas muitos alunos não chegam até lá – antes, é necessário passar por uma UBS ou pelo HU, como de costume para unidades hospitalares terciárias.
Mais um caso
Clarissa é ginasta desde seus 8 anos e atleta da equipe Olympus de Cheerleading. No dia 20 de agosto, na FUPE, competição da Federação Paulista de Esporte Universitário, o rompimento de um ligamento de seu joelho interrompeu a apresentação de sua equipe.
Ela já estava lesionada antes mas, em função da iminente competição e dores suportáveis, continuou treinando. A segunda lesão foi mais grave e, atualmente, Clarissa parou de treinar. Está com a cirurgia marcada. Por bastante tempo, seu diagnóstico foi confuso, e não se sabia muito sobre sua real situação.
O que está em jogo
Em função das complicações, os atletas têm seus desempenhos e saúde danificados por algo que deveria ser fonte de bem-estar. Mesmo assim, Isabela afirma: “se você me disser um malefício do esporte universitário, eu te digo como isso pode ser um ensinamento benéfico pra sua vida. A presença de tantas dificuldades é o que torna a experiência enriquecedora e seus protagonistas tão diferenciados.”
Para reduzir os danos e tornar a prática mais saudável, Tiago aconselha que os esportistas não esperem a situação se tornar grave para buscar auxílio. Clarissa, com uma pitada de remorso, completa: “o problema é que a gente só busca ajuda quando não estamos aguentando mais.” Tiago, com certeza, concordaria.