As histórias de um BIFE

Atletas e outros participantes relatam como foram suas experiências no último torneio esportivo entre institutos da USP

Foto: Leonardo Lopes

BIFE é o torneio esportivo universitário criado pelas atléticas de quatro institutos da USP, são eles: Biologia, IME, FAU e ECA. Atualmente na sua 20ª edição, a competição conta com mais de 10 atléticas diferentes, que competem entre si em diversas modalidades esportivas e também em e-sports.


Jogos e festas se alternam como entretenimento da galera. As festas deve dar pra imaginar mais ou menos. Mas os jogos talvez precisem de mais palavras. No primeiro confronto do meu time, o de vôlei da ECA, estávamos com o primeiro set ganho. Batíamos nos 23 pontos e o outro time, acho que nem nos 15 tinha chegado. E aí como aconteceu o resto eu não consigo nem explicar direito, mas a outra equipe acabou levando. E naquele mesmo jogo a gente ganhou e perdeu mil vezes ainda antes de ganhar. É o que todo mundo diz, já é tradição: “eu não tenho coração pra assistir o Quebeleza [vôlei feminino da ECA] jogar”. Mas ao longo da partida o que se manteve mais constante foi a determinação da torcida, que no dia seguinte estaria na arquibancada novamente, em peso. Um torcedor me disse que depois do drama vivido em quadra, o time ganhou a empatia da galera. 

E com suportes a gente se colocou na quadra nesse inter, talvez até de mais lados do que o esperado, porque, além da torcida e da nossa técnica, o fisioterapeuta que acompanhou a gente era ex-jogador profissional de vôlei! Ele fazia bem mais que a sua obrigação comemorando junto cada ponto e dando várias dicas pra gente… A mais marcante pra mim foi, no segundo jogo, quando estávamos novamente na iminência entre o perder e o ganhar. Enquanto a gente roía unhas, ele veio perguntar porque estávamos tão quietas. “Estamos tensas”, o que nos pareceu uma resposta muito sensata pela repetição das vezes que aparece. Mas ele disse, sem agressividade e como quem de fato não entendia aquela sensação, “ué, por que ficar tensa? Não adianta nada ficar tensa, tem que ir lá e se jogar agora, passa o jogo e a tensão fica”. Por mais que a gente não tenha ganhado, dali pra frente eu estava em quadra de um jeito diferente. E deve ter gente que não vai achar, mas, talvez pelo timing, talvez pela honestidade, eu achei aquela fala genial.” POR ANA GABRIELA ZANGARI DOMPIERI

Foto: Pedro Henrique Esperança

A volta é sempre a pior parte. Após quatro horas de estrada movimentada em uma noite de domingo e sabendo que ainda restavam mais duas para voltarmos para casa, perguntei a meus companheiros de viagem: “por que a gente faz isso?”

A pergunta se referia aos últimos três dias, nos quais couberam cinco partidas, duas festas, horas de transporte e alguns machucados – no meu caso, uma contratura na virilha e um dente quebrado. O tempo passava e o zumbido dos veículos inundava o carro abarrotado de bagagens e colchões. Nenhuma resposta. Com a boca ainda inchada, o estômago embrulhado, o central mole e a medalha de prata no peito (talvez o que mais doía naquele momento), tentei formular a indagação: “como atletas amadores, sem preparo físico, se submetem a uma carga de esforço absurda, entremeada a álcool e poucas horas de sono? É loucura!”. Os olhares baixos e cara de cansaço acenavam para resposta alguma.

Mas o silêncio me fez bem, lembrei do que um amigo de time certa vez me disse: somos amadores, amamos o que fazemos. A resposta estava ali: não havia explicação, era apenas amor na sua forma mais pura, despretensiosa e cruel.” POR PEDRO SMITH

Foram seis horas para ir e seis horas para voltar de Franca. Tudo isso por conta de esportes e cerveja. No meu caso, nenhum dos dois deu muito certo: saímos sem nenhum título, não deu nem tempo de afogar as mágoas e já estávamos na estrada novamente.

No nosso carro, um Sandero 1.0 que tinha dificuldades nas subidas da Anhanguera, só eu, no banco do passageiro, e o motorista acordados; os outros três dormiam no banco de trás. Já era de noite e estávamos num trecho sinuoso da rodovia. Aí aconteceu tudo muito rápido: um gambá no acostamento. Vindo em nossa direção. Sai daí meu filho! Silêncio. Eu e meu amigo que estava no volante trocamos olhares assustados. Nenhum tranco, nenhum solavanco. Só uma história de susto pra contar na volta de mais um final de semana.” POR ANDRÉ NETTO

Uma das coisas que só um inter proporciona é dormir quase nada por vários dias em uma barraca, e quase sempre dividir ela. Isso pode ser muito bom ou pode mostrar que as pessoas são muito bagunceiras, mas no fim dá tudo certo 

Quase tudo o que a gente faz durante a viagem deixa os amigos muito mais próximos e até te aproxima de pessoas que você não conhecia tão bem assim, conversas na fila do banho, almoçar e jantar em lugares que você não conhecia, pegar o último ônibus pra balada abarrotado de gente, conversas de arquibancada, tudo isso torna a experiência ainda melhor.” POR MARIANA ARRUDAS

Uma das coisas que me deixou mais curioso em relação ao BIFE foram as percepção dos moradores de Franca sobre os jogos universitários. Quando eu e minhas amigas pegamos um Uber para chegar no ginásio, César, o motorista, nos perguntou se estávamos na cidade por conta de algum evento da faculdade. A pergunta deve ter vindo pelos abadás que vestíamos, chinelos e glitter no rosto. Nós dissemos que sim. Ele quis saber se era só no ginásio para o qual estávamos indo. Então, explicamos que estavam ocorrendo em vários e que um ônibus nos levava para os destinos. Quando ele perguntou onde estávamos alojados, falamos de uma escola. 

César quis saber qual, afinal existem várias em Franca, mas nós mesmos não lembrávamos o nome e nem o endereço, o que foi motivo de piada para o motorista: “vocês não sabem onde estão?”. Como o ônibus nos levava para todos os lugares, não gravamos o endereço e nem o nome do lugar. Isso fez mais sentido para ele. O motorista parecida acostumado com essa situação. Nos falou um pouco mais de Franca durante o trajeto, das escolas aos mercados. Parece que as pessoas que tinham algum comércio também estavam acostumadas, não era algo incomum. No último dia, eu e outras três amigas fomos até uma sorveteria próxima ao alojamento. Estava fechada. Foi aí que uma delas olhou um freezer em uma farmácia e exclamou: “é aqui!”. Entramos e compramos picolés. Então o atendente perguntou se tínhamos ganhado os jogos. Dissemos que não (aliás, perdemos o único jogo das finais), mas o resultado do BIFE era desconhecido ainda, então a resposta ficou no ar (por mais que nós soubéssemos o resultado).” POR MARCELO CANQUERINO

Foto: Matia Vitória Pessôa

Uma das coisas que me deixou mais curioso em relação ao BIFE foram as percepção dos moradores de Franca sobre os jogos universitários. Quando eu e minhas amigas pegamos um Uber para chegar no ginásio, César, o motorista, nos perguntou se estávamos na cidade por conta de algum evento da faculdade. A pergunta deve ter vindo pelos abadás que vestíamos, chinelos e glitter no rosto. Nós dissemos que sim. Ele quis saber se era só no ginásio para o qual estávamos indo. Então, explicamos que estavam ocorrendo em vários e que um ônibus nos levava para os destinos. Quando ele perguntou onde estávamos alojados, falamos de uma escola. 

César quis saber qual, afinal existem várias em Franca, mas nós mesmos não lembrávamos o nome e nem o endereço, o que foi motivo de piada para o motorista: “vocês não sabem onde estão?”. Como o ônibus nos levava para todos os lugares, não gravamos o endereço e nem o nome do lugar. Isso fez mais sentido para ele. O motorista parecida acostumado com essa situação. Nos falou um pouco mais de Franca durante o trajeto, das escolas aos mercados. Parece que as pessoas que tinham algum comércio também estavam acostumadas, não era algo incomum. No último dia, eu e outras três amigas fomos até uma sorveteria próxima ao alojamento. Estava fechada. Foi aí que uma delas olhou um freezer em uma farmácia e exclamou: “é aqui!”. Entramos e compramos picolés. Então o atendente perguntou se tínhamos ganhado os jogos. Dissemos que não (aliás, perdemos o único jogo das finais), mas o resultado do BIFE era desconhecido ainda, então a resposta ficou no ar (por mais que nós soubéssemos o resultado).” POR AMANDA CAPUANO