Competições de e-Sports universitárias ganham maior destaque durante isolamento social

Por César Costa

Foto: César Costa/JC

Quase todos esportes universitários sofreram uma interrupção forçada devido a situação da pandemia do novo Coronavírus.  No entanto, o que acabou sendo impeditivo para alguns possibilitou que outras modalidades mantivessem sua relevância no período de isolamento. 

Esportes eletrônicos, os e-Sports, conseguiram manter competições mesmo com o distanciamento social. Até mesmo grupos que não eram tão ligados aos ciberesportes, ou que não enxergavam tanto no potencial na modalidade, investiram em competições desse âmbito. E tiveram surpresas com os resultados obtidos. 

A seguir, o JC irá contar a história de dois torneios universitários que ocorreram nesses últimos três meses. O primeiro de uma comunidade mais distante dos e-Sports e a segunda de um projeto que já era pensado há algum tempo dentro da USP. 

 

Inter Quarentena EEL ECA de FIFA 20: crescimento inesperado

O torneio de nome comprido mas apelidado de IQEEF foi resultado de uma amizade de longa data entre dois amigos. Davi Bastos, estudante do segundo ano de Relações Públicas da ECA-USP, e Pedro Vinícius, estudante do segundo ano de Engenharia Química da EEL-USP,  juntaram-se em torno de uma ideia: trazer entretenimento para os atletas da modalidade da qual eram diretores, no caso, futebol de campo masculino.

Ambos já tinham trabalhado juntos algumas vezes para organizar campeonatos. Lideraram competições mais simples como interclasses no Ensino Médio no qual estudavam até um campeonato solidário de nível municipal. Mesmo os dois amigos tendo seguido caminhos distintos nas graduações escolhidas, a parceria continuou. 

Como gostava de fazer no seu tempo livre antes das aulas, Pedro jogava FIFA 20, jogo de futebol virtual, quando caiu a ficha: “por que não faço um campeonato de FIFA para meus jogadores? Por que não faço isso para motivar eles?”, conta o aluno da EEL em entrevista ao JC. Foi então que ele entrou em contato com o Davi para sugerir a ideia que teve. 

O estudante da ECA topou de imediato. De início, o pensamento era muito mais modesta. Seria um desafio entre as duas faculdades, EEL contra ECA, no FIFA. O intuito, além do entretenimento, era de arrecadar alguma quantia para auxiliar os times de futebol da EEL e ECA, cobrir os gastos, principalmente em relação ao pagamento dos treinadores. 

Pensando em ajudar outros times universitários, convidaram mais duas atléticas: a entidade da USP Leste, a EACH, e a da faculdade de Direito da USP, a Atlética XI de Agosto. E a ideia só crescia: “seguimos chamando outras faculdades. Oito atléticas ingressaram nessa primeira sondagem. Entramos em contato também com Mascote Universitário, que fez uma ótima cobertura. Depois da divulgação deles, começou a chover atléticas querendo participar do torneio”, explicou Davi também em entrevista ao JC.

“Mascote Universitário é um veículo de imprensa que cobre esporte universitário”.

O que começou como um confronto de FIFA entre dois times de futebol de campo virou um campeonato com a participação de 16 atléticas, totalizando 20 equipes, sendo que quatro delas entraram com dois times, separados em A e B. 

 O IQEEF passou a ter alcance, atraiu patrocinadores, teve transmissão das partidas e, o mais importante, uma função social: “o Davi deu a ideia. Muita gente está sofrendo com a pandemia e ele encontrou a ONG PG Invisível para ajudarmos com doações. Conseguimos arrecadar aproximadamente 25 cestas básicas” conta Pedro.

Davi entregando cestas básicas conseguidas para a ONG PG Invisível. Foto: Pedro Vinícius/JC

O campeonato serviu como divertimento para além dos próprios participantes. Pedro e Davi disseram sentir um vazio em termos de entretenimento neste período de isolamento. O IQEEF foi como um atrativo aos jovens universitários que estavam com saudades de ver competições de seus times.

Só na primeira live feita na página do Facebook do time de futsal masculino da EEL, o alcance foi de 2000 pessoas. Pedro Vinícius, que além de organizador também foi narrador dos jogos, mencionou que o engajamento das torcidas era muito grande: “a interação do público mostrou que tudo isso é real. 30 minutos antes do início das partidas, já havia pessoas cobrando o link para assistir. A torcida estava ansiando pelos jogos”.

 O Inter Quarentena EEL ECA de FIFA 20 acabou com a equipe A da Universidade de Ribeirão Preto, a Unaerp, como vencedora, a equipe B da Universidade Federal do ABC, a UFABC, em segundo e a equipe A da UFABC  em terceiro. E se, por um lado, o IQEEF foi uma ideia humilde que se tornou  algo tão expressivo e popular, já haviam outros projetos ambiciosos de e-Sports que foram colocados em prática durante a pandemia. 

 

Taça JúpiterWeb demonstrando o e-Sports subindo de categoria

A comunidade de e-Sports da USP tem um interesse em buscar uma unificação. Gabriel Celestino, aluno do quarto ano de Publicidade e Propaganda da ECA-USP e organizador da Taça JúpiterWeb, conta sobre isso em entrevista ao JC. Faculdades do BIFE e Interusp, duas das maiores competições universitárias envolvendo faculdades da USP, tiveram agora um campeonato em que todas puderam participar juntas. 

A ideia de um campeonato unificado de ciberesportes entre as faculdades dos dois jogos universitários já existia antes da pandemia. “O plano inicial era bem mais ousado. Nós queríamos organizar um verdadeiro Inter (competição universitária de tiro curto) de e-sports da USP, reunindo todas as faculdades presencialmente por um final de semana, com torcidas e atividades extras”, conta Gabriel.

No entanto, originalmente era uma competição para o segundo semestre de 2020. Com a pandemia, e a natureza online dos e-Sports, houve uma rápida mudança e uma reestruturação dos planos dos organizadores. 

Idealizado por um grupo de estudantes mais engajados dessa comunidade de esportes eletrônicos, essa enorme Copa USP contou com 16 atléticas participantes na modalidade League of Legends e 13 no Counter Strike.

Considerando que os times contam com cinco integrantes, sem contar possíveis reservas, são no mínimo 140 jogadores. Estiveram presentes atléticas tradicionais dos e-Sports até algumas de menor expressividade, de acordo com Gabriel. 

Assim como o IQEEF, o campeonato tinha um propósito além de ser mais uma competição universitária. Havia uma proposta de aproximar os times de esportes eletrônicos e também trazer entretenimento para a torcida. O organizador conta que houve muito carinho e cuidado para ser feita uma transmissão divertida e de qualidade. 

“Queríamos que os jogadores se sentissem estrelas, e que os espectadores se sentissem vendo um grande campeonato. Por isso tanto trabalho em desenvolver uma identidade visual legal, telas bonitas de transmissão, vídeos para passarem durante os intervalos, patrocínios, transições de tela” — Gabriel Celestino

As artes demonstram o cuidado e a qualidade do trabalho de comunicação feita pelo campeonato. Ilustração: Reprodução/ Instagram Taça JúpiterWeb

Tendo jogos transmitidos pela plataforma “Twitch”, o alcance chegou a bater um pico de 250 espectadores simultâneos durante um dos dias. E diferente do FIFA, que já se inspira num esporte consolidado e popular no Brasil, as duas modalidades da Taça JúpiterWeb ainda brigam por seu espaço e visibilidade.

Gabriel crê que, com esse período de distanciamento social, é um momento propício e com maior facilidade de haver uma aproximação do e-Sports, reconhecendo também que é momento  de dificuldades enfrentados por todos durante a pandemia. 

 

 Futuro dos campeonatos

Ambos terão prosseguimento. A segunda edição Taça JúpiterWeb já está em planejamento e terá ainda mais modalidades. Já o IQEEF, ambos os organizadores afirmaram que têm vontade e também acenaram para um possível edição no segundo semestre.

Se tiver interesse em conhecer mais sobre os campeonatos e ser alertado das novidades relativas a eles, é possível conhecer mais seguindo as seguintes páginas:

https://www.instagram.com/tacajupiterweb/

https://www.instagram.com/familiafutsal_ecausp/

https://www.instagram.com/futsalmasculinoeel/