Graduandos e profissionais formados contam como o esporte os motivou para sua a escolha profissional

Texto por Giovanna Bergamaschi, Guilherme Ribeiro e Julia Teixeira*
Uma graduanda em direito, uma estudante de jornalismo, um jornalista formado e uma psicóloga têm algo em comum. Todos esses diferentes profissionais têm o esporte como norteador de suas carreiras, mesmo longe das quadras, tatames e pódios. Trabalhar com o esporte pode estar muito distante de sonhar em ser um atleta. Essa é a realidade de diversos estudantes, que entram na faculdade almejando construir carreiras dentro do mundo esportivo.
É o caso de Laura Martins Vulcani, estudante de Direito de 19 anos. Ela conta que o esporte mudou a sua vida, e a direcionou em qual caminho seguir profissionalmente: “O esporte veio na minha vida para ressignificar muita coisa e me dar um norte com o que seguir no mercado de trabalho. Mas acredito que ele, também, é uma ferramenta para promover o bem estar social, tanto para quem pratica, quanto para quem assiste.” A jovem relata que foi na Faculdade de Direito da USP que conheceu o Direito Desportivo – área que regulamenta legalmente as práticas esportivas – e que gostaria de seguir no ramo.
O ingresso no curso desejado nem sempre significa que o objetivo da carreira seguirá o mesmo, ou que a faculdade vai direcionar o aluno para atuar na sonhada área esportiva. No caso de Miriã Gama foi o contrário. A estudante de 20 anos está no 5º semestre do curso de jornalismo na Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP e diz que escolheu o ramo por ser uma profissão em que ela poderia se conectar à sua grande paixão: o futebol.
“O que mudou desde que entrei no curso foi que eu descobri como é o jornalismo esportivo por trás das câmeras. Não é tão inclusivo, nem tão acessível. As poucas vagas que aparecem, têm períodos noturnos, plantões de final de semana, coisas que não se adequam à minha realidade”, explica Miriã. Mesmo se vendo distanciada, a estudante clama: “O esporte mobiliza pessoas e transforma realidades, e isso é algo que eu admiro muito. Por isso, trabalhar com o esporte seria um sonho, mesmo que agora seja um sonho mais distante”.
Henrique Votto, jornalista formado pela ECA-USP, compartilha do mesmo sentimento de Miriã. Ele conta que hoje o mercado esportivo dentro do jornalismo é mais amplo, mas que em sua época as coisas eram mais difíceis.
Dinho, como é chamado por seus amigos de faculdade, teve uma breve experiência com produção de conteúdo esportivo em seu trabalho e relata que após isso teve uma nova percepção sobre o mercado: “Eu gostei muito de ter essa experiência com esporte. Mas uma coisa que eu fui percebendo ao longo da graduação e ao longo do período de trabalho, foi que aquela máxima que diz ‘trabalhe com o que você gosta e você nunca vai trabalhar de verdade’ é uma grande mentira, porque você acaba se estressando com aquilo que você gosta”.
Trabalhar com uma coisa que você gosta é realmente bom, mas pode ser que você perca a única coisa com o que você é realmente apaixonado, é uma faca de dois gumes. Observando alguns colegas que trabalham com esporte, eu percebi que talvez eu não tenha tanta vontade de ter essa vida
Henrique Votto
Mesmo que as circunstâncias da vida e suas escolhas tenham sido diferentes do que ele planejava no início, quando começou a estudar jornalismo, ele afirma que as coisas sempre podem mudar: “Mas tudo é meio incerto. Pode ser que amanhã surja uma oportunidade de trabalhar com esporte e eu queira”.
Anna Clara Mialaret, psicóloga de 24 anos formada pelo Instituto de Psicologia (IP) da USP, descreve que estava em dúvida entre a psicologia e a educação física, mas fez a escolha após tomar conhecimento do ramo da Psicologia do Esporte, área na qual é pós-graduanda atualmente.
Mialaret relata que o esporte sempre foi especial em sua vida, e que a entrada na graduação ampliou o seu leque de opções de carreira. “Na faculdade, eu tive a oportunidade de conhecer sobre as possibilidades de atuação de um psicólogo do esporte. Isso fez com que eu vislumbrasse possibilidades desconhecidas até então. Sempre quis atuar no esporte de alto rendimento, e hoje também penso em outros ambientes como projetos sociais.”
O JC entrevistou profissionais da área da psicologia para entender melhor porque o esporte pode se tornar tão importante na vida de alguém a ponto de influenciar carreiras.
“As escolhas de carreira são construídas ao longo da vida, embora tendam a ser efetivadas no final da adolescência. Assim, ter boas experiências prévias em atividades esportivas certamente são importantes para a escolha” explica Rodolfo Ambiel, doutor em psicologia e especialista em orientação de carreira. Ele completa dizendo: “É importante também entender que, quando falamos sobre trabalhar com esporte, não necessariamente isso está relacionado com ser atleta. Cada vez mais, há formações para trabalhar em equipes técnicas, de gestão e até de análise de dados voltados para o esporte. Enfim, a indústria do esporte é bastante grande e vai bem além dos atletas”.
Tayná Almeida é psicóloga formada e atua como psicopedagoga em um cursinho pré-vestibular do ABC Paulista. Ela explica que, ao seu ver, o que difere o esporte de outros hobbies é o sentimento de realização através de vitórias: “Mas não só as vitórias de ganhar um título ou algo do tipo, acho que tem a ver com pequenas vitórias, quando você ganha um jogo e você vê todo aquele trabalho sendo, sabe, realizado, e isso é muito gostoso”.
Para Tayná, o que leva alguém a escolher uma carreira no esporte é o sentimento de materialização de um sonho: “Tem a ver com perceber como o esporte transforma vidas e como a gente quer também transformar vidas, só que por outros meios”.
*Editado por Natalia Tiemi