Coletivos instalam estrutura provisória na frente do prédio central para provocar debate; diretoria diz que “atitude é autoritária”

Por Isabel Briskievicz*
Desde o dia 26 de março, o cenário da Escola de Comunicações e Artes (ECA) mudou. Agora, na frente do prédio central, há uma estrutura geodésica de PVC que, montada em cerca de 8 horas, é coberta por lonas coloridas. Ela é uma referência à estrutura original, que é de ferro e fica na Prainha, e semelhante em forma e tamanho, porém um pouco menor. Durante o dia e a noite, ela virou um novo ponto de encontro dos alunos da Universidade.
Em carta-manifesto publicada no perfil do Instagram do Canil (coletivo político e cultural da ECA) a geodésica é definida como “um espaço de vivência simbólico que representa a autonomia estudantil e suas expressões artísticas”. O coletivo também divulgou uma petição online intitulada “A Geodésica Fica! Assine pelo Espaço Estudantil Democrático e Autogestionado!”.
Cuidado: em obras
A Prainha está em obras desde o início de 2024 para dar lugar ao Criateca, projeto de vivência estudantil aprovado em 2017 pela Congregação da Escola.
Fernando Coelho, aluno de Educomunicação e membro do Canil, ressalta ao Jornal do Campus que a diretoria da ECA, no início das obras, propôs uma vivência provisória para substituir a vivência interditada, mas que até agora não pôs esse projeto em prática. “O Quadrado das Artes [espaço em frente aos Departamentos de Música, Artes Cênicas e Artes Plásticas] é reservado para ser a vivência provisória, mas de provisória não tem nada. Não tivemos nenhuma adaptação física, [a diretoria] não deu nenhum suporte para usá-lo, como novos bebedouros ou mais banheiros”.
Foto: Isabel Briskievicz/JC
Protestando pela ausência de um espaço de encontro, o coletivo cultural e alunos externos decidiram montar a geodésica na frente do prédio central da ECA,que também abriga a sala da diretoria. “Isso ia obrigá-los, visualmente, a verem que essa falta de uma vivência é um problema. A gente precisa de um espaço para se encontrar. Procuramos deixar esse embate institucional evidente no dia a dia”, explica o aluno.
Gustavo Bulla, estudante de Relações Públicas, afirma que a falta de uma vivência causou um grande impacto na adesão dos calouros deste ano e do ano passado às entidades estudantis. “Cada vez menos se tem o vínculo com o lado estudantil. A partir do momento que você tira a vivência, quais são os outros espaços que as pessoas vão conviver, trocar ideia? Nós estamos ocupando o Quadrado das Artes, mas é uma cultura difícil de ser criada”, afirma.
Diálogo
Alunos de entidades estudantis da ECA demonstram descontentamento com o diálogo estabelecido entre eles e a direção, mas veem com bons olhos as atitudes da nova diretora, Clotilde Perez, que tomou posse em 3 de abril. “Tudo isso que a gente está fazendo não é um problema da Clotilde e nem da direção atual que acabou de assumir. É [outro] problema: os alunos estavam órfãos de direção”, afirmaram ao JC.
Durante sua montagem, a estrutura chamou atenção do corpo administrativo da ECA, que tentou impedi-la e, segundo fonte anônima, chamou a equipe de segurança da Escola e a Guarda Universitária para intervir, sem sucesso. A instalação, no final das contas, pavimentou um diálogo: as entidades conseguiram uma reunião com a diretoria no dia seguinte.
Em entrevista ao JC, a Diretoria diz que a instalação requer consulta prévia à administração. Também tem preocupações com a resistência da geodésica para enfrentar eventos climáticos extremos, com sua resistência diante às fortes chuvas, e reclama do barulho, que atrapalha as aulas: “Quaisquer problemas decorrentes de instalações ou intervenções não autorizadas recaem sob nossa responsabilidade”. Porém, reconhece a importância de “iniciativas estudantis” para a vida acadêmica.
Na carta-manifesto publicada pelo Canil, o coletivo diz que, em reunião com a diretoria, a instalação foi referida como uma atitude que “flerta com formas autoritárias tal como o fascismo”. A diretoria reafirma: “a Diretoria afirmou que a instalação da geodésica, da forma como foi realizada, foi considerada uma atitude autoritária, pois a decisão não foi discutida coletivamente com os seus pares — os mais de 2.500 estudantes de graduação da Escola — nem levou em conta outros grupos que utilizam o espaço, como estudantes de pós-graduação, pesquisadores, docentes, funcionários e equipes terceirizadas”.
*Com edição de Gabriela Barbosa