Alunos da universidade têm usado espaços como Inova, Brasiliana ou Ocean, na Poli, como espaço de trabalho

Por Davi Caldas, Isabel Briskievicz e José Adryan*
Embora o trabalho remoto tenha se consolidado durante a pandemia como uma alternativa ao presencial, sua implementação no Brasil é complexa e multifacetada. Em uma cidade grande como São Paulo, com alto tempo de deslocamento, o “home office”, muitas vezes, acaba não sendo, de fato, home. Uma tendência que tem crescido entre alunos da USP é o “USP office”. Utilizando-se de espaços cedidos pela universidade, os alunos aproveitam dos benefícios de estar próximo à faculdade para economizar tempo, esforço e até mesmo dinheiro.
Segundo o professor Álvaro Comin, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e especialista em mercado de trabalho, não se deve partir do pressuposto de que toda forma de trabalho remoto seja precarizada. Ele observa que, enquanto profissionais em algumas áreas enfrentam condições instáveis, outros encontram alívio em trabalhar remotamente: “Se estamos falando de profissionais mais qualificados, o home office pode ser um conforto. Na prática, pode significar menos tempo de deslocamento e redução no gasto com transporte e com alimentação”.
No contexto universitário, essas diferenças tornam-se ainda mais evidentes. Leticia Muniz, estudante de Engenharia Ambiental na Escola Politécnica (Poli-USP) e estagiária em uma startup de inteligência artificial, conta que não trabalha nos espaços universitários por preferência, mas sim por necessidade. “Tenho aula todos os dias, às vezes de manhã, às vezes é de tarde; então eu costumo trabalhar de lá [da Poli] por ser mais fácil, já que eu moro longe da USP”, diz.
Mesmo não sendo uma escolha, ela acredita que o ambiente acadêmico ajuda na produtividade e, principalmente, na construção de networking no trabalho remoto. “O home office acaba afastando isso do seu trabalho, mas na faculdade você tem contato com outras pessoas de outras áreas”, complementa.
Falta de Ambientes Adequados para Trabalhar
A principal reclamação entre os estudantes é a falta de espaços silenciosos e estruturados na Universidade para praticar o trabalho remoto. Muniz afirma que o Samsung Ocean, na Escola Politécnica, é o único lugar que ela conhece na Universidade que oferece essas demandas.
A USP deveria lidar com isso um pouco melhor, disponibilizando esses lugares. Isso ajuda os alunos não só a fazer o home office, mas também a estudar. Uma vez que eu fico na faculdade o dia todo, isso faz com que eu vá a todas as aulas.
Letícia Muniz, , estudante de Engenharia Ambiental
Outra reclamação feita por alunos é em relação à internet da USP. Sophia Lopes, estudante de economia na FEA, usa o Centro de Pesquisa e Inovação (Inova) para trabalhar remotamente e comenta sobre a instabilidade da rede. “O Wi-Fi da USP às vezes não funciona, só cai sem explicação nenhuma e não tem nada que você possa fazer.”
“Uma vantagem de vir aqui no Inova é que tem o Inova Guest [rede de internet no local] que, se você pedir o voucher, é possível usá-lo por um dia. Então quando o Eduroam está muito ruim, você pode usar o Inova Guest e esperar que seja melhor. Mas tem dias que não dá conta”, diz.
Lopes já tentou usar diferentes locais para trabalhar na USP e comenta que poucos têm condições para atender todos os alunos. “Acontece uma competição por lugar e tomadas, principalmente quando está cheio. Podia ter mais salas como o Inova”, comenta.
Leticia Yamakami, do curso de jornalismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), também reforça a questão tecnológica. “Nós precisamos de internet para ficar em contato com o trabalho, e o Labri, do CJE [na ECA], não oferece isso. Nós ficamos dependentes do Eduroam, que às vezes não funciona e acaba prejudicando o nosso trabalho. Ter um ponto de internet já ajudaria muito.”
Contudo, Yamakami defende que o “USP office” é, além de um encaixe muito conveniente na rotina estudantil, uma reivindicação dos alunos para ampliar a experiência da Universidade, que vai muito além das aulas. “Ajuda a aproveitar os espaços que a faculdade oferece, como bandejão, CEPEUSP [Centro de Práticas Esportivas] e até o CINUSP”, conclui.
*Editado por Giovanna Castro