Direção alega baixa procura dos praticantes e ausência de infraestrutura para atender todas as modalidades

O Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo (Cepeusp) concentra grande parte das atividades esportivas desenvolvidas no campus da Cidade Universitária. Mas nem todas as modalidades contam com estrutura adequada dentro das instalações. A direção do Cepeusp fala de baixa adesão dos estudantes e menciona questões de segurança. Enquanto isso, esportes como beisebol, boxe e cheerleading, precisam ter seus treinos realizados em outros locais.
Um dos exemplos é o time de beisebol da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA). Segundo Leonardo Yamauchi, aluno de Ciências Contábeis e atleta da equipe, a falta de estrutura específica no Cepeusp obriga os praticantes a buscarem alternativas externas.
“Pela primeira vez conseguimos o uso do campo 5, uma vez por semana, mas precisamos dividir com um time de futebol americano. Apesar disso, ainda é um campo de futebol e temos que adaptar para o treino de beisebol, o que nos traz muitas limitações técnicas”, conta Yamauchi, esclarecendo que nenhum espaço além do campo 5 é liberado para essa prática.
A ausência de um local apropriado dentro da Universidade gera uma série de dificuldades logísticas e financeiras. No caso do beisebol, os treinos muitas vezes precisam ser realizados em cidades vizinhas, como Ibiúna, onde há campos específicos para aluguel. Mesmo com o apoio das atléticas, grande parte das equipes dependem de arrecadações, doações e contribuições mensais dos próprios atletas, as caixinhas, para manter suas atividades.
“O CEPE é a representação do esporte na USP. Quando você entra no local e vê diversas quadras de infinitas modalidades, você sente ânimo, é um espaço onde está todo mundo treinando para representar a USP ou sua faculdade. Mas, a partir do momento que temos que treinar em outros lugares, nos sentimos um pouco marginalizados”, diz Yamauchi.
Busca por espaço
Luís Nakamichi, aluno de Engenharia Naval e diretor da modalidade de boxe da Escola Politécnica (Poli), conta que, apesar do CEPE autorizá-los a praticar o esporte dentro de suas instalações, não há qualquer apoio. Anteriormente, os treinos eram realizados num espaço aberto embaixo do velódromo, porém recentemente migraram para o Biênio da Poli por questões de praticidade.
“Dava muito trabalho ter que pegar ônibus, ir até o CEPE carregando luvas e sacolas, porque não tinha um local próprio para deixar. Foi a primeira vez que o boxe da Poli saiu do Cepeusp, inclusive teve uma maior adesão. Além disso, agora nossa atlética disponibiliza um espaço para armazenar o material”, diz o diretor.
A falta de competições no InterUSP ou até no Bichusp frustra os praticantes que desejam colocar seus treinos em prática. Os atletas evoluem na modalidade, mas não têm oportunidade de testar suas habilidades devido à ausência de suporte da Liga Atlética Acadêmica da USP (LAAUSP) ou de qualquer atlética. Segundo Nakamichi, a justificativa dada pelas entidades é que o boxe é considerado muito violento, o que impede a organização de torneios.
Laura Diaz, praticante de cheerleading da Escola de Comunicações e Artes (ECA), explica que o Centro libera os treinos em seu espaço, porém não reconhece como modalidade, o que cerceia o esporte em detrimento a outros. Algumas das impossibilidades incluem não ter direito à reserva de quadra ou à carteirinha especial para ingresso de treinadores não-uspianos no local, como é o caso do técnico da equipe ecana.
“Eles não impedem que os treinos ocorram por lá, porém o Cepeusp não oferece nenhum tipo de estrutura ou suporte, não tem espaço adequado e os times que treinam lá ficam sob o velódromo, o que é perigoso. Acho absurdo que, mesmo com tantos times, o CEPE não se mobilize para fazer algo a respeito”, diz.
Para Laura, o cheerleading enfrenta dificuldades por ser uma modalidade recente e ainda pouco difundida no meio universitário. Alguns dos problemas são o baixo apoio público da torcida e das atléticas. Além disso, a falta de estrutura financeira, situação comum em diversos times universitários, impacta diretamente a segurança e a participação em competições.
Resposta do Cepeusp
Em resposta ao JC, José Carlos Farah, diretor do Cepeusp, afirmou que a oferta de espaços para determinadas modalidades depende de fatores como segurança, infraestrutura e demanda. Segundo ele, o beisebol deixou de ser praticado no Campo 5 devido à baixa demanda e o cheerleading não conta com condições adequadas para a prática segura da modalidade, embora haja conversas em andamento com grupos praticantes da modalidade. Já no caso do boxe, havia um professor que, recentemente, se aposentou e, após isso, a sala e os equipamentos foram oferecidos às atléticas, que não demonstraram interesse.
Farah também destacou que há diálogo com as atléticas e com a LAAUSP, e que a inclusão de novas modalidades depende de limitações físicas do espaço, além de estudos de viabilidade. Entre as possíveis expansões mencionadas, estão projetos para modalidades como beach tennis, vôlei de praia e futevôlei — já praticados na Poli.