Banda uspiana anuncia novo álbum e movimenta cena do rock alternativo

Aproximando-se dos dez anos de carreira, eliminadorzinho reflete sobre a vida na estrada e a presença na Universidade

Pedro Malta/Jornal do Campus

Por Otávio Augusto Aguiar*

No mês de abril, o Hangar 110 sediou uma apresentação um pouco fora de seus padrões. Os portões da casa foram abertos às 18h em ponto, mas desde muito antes já se via uma longa fila decorando a fachada. Em sua maioria jovem, o público estava presente por não mais do que três motivos: Bella e o Olmo da Bruxa, Chococorn & The Sugarcanes e uma banda uspiana até os ossos: eliminadorzinho. Assim mesmo, com “e” minúsculo.

Uma das casas noturnas mais tradicionais de São Paulo, o Hangar 110 é célebre no underground em boa parte pelas memoráveis noites regadas a música emo e pop punk dos anos 2000. O lugar já recebeu diversas bandas e artistas consagrados do estilo, entre eles nomes como Fresno, Hateen, NX Zero e CPM 22. Além disso, também foi palco de apresentações de numerosas bandas do cenário punk nacional. Daí a importância da banda ocupar esse espaço.

Rock no diminutivo?

eliminadorzinho é uma banda independente de rock alternativo fundada em São Paulo na metade dos anos 2010. Abeirando-se de uma década desde sua formação, o trio conta com um bom número de material disponível nas plataformas de streaming de música. O primeiro EP, nada mais restará. (2016), elevou o grupo à condição de figurinha rara da cena underground, no auge da profusão de um gênero brasileiríssimo apelidado carinhosamente de rock triste.

Desde então, a banda manteve viva sua presença no cenário independente com o lançamento de mais um EP solo e dois splits em colaboração com contemporâneos da cena, além de protagonizar diversos shows ao redor do país. Rock Jr. (Cavaca Records, 2021), disco de estreia do grupo, foi bem recebido tanto pela crítica quanto pelo público, e garantiu à banda uma posição entre os 50 melhores álbuns brasileiros lançados naquele ano no rol elencado pelo júri de música da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA).

A eliminadorzinho é formada por João Pedro “Hadd” Haddad (contrabaixo), Tiago Schützer (bateria) e Gabri Eliott (guitarra, voz), e é fruto de uma amizade cultivada desde a infância. No palco, o trio divide os vocais entre si, a depender da música. Entre cabelos esvoaçantes e distorção pesada no baixo e guitarra, a banda mostra, a cada apresentação, o porquê da escolha do nome de seu álbum de estreia. “Muita gente fala – e a gente até concorda – que o rótulo ‘rock alternativo’ não diz muita coisa, mas sinto que funciona justamente por isso”, compartilha Eliott em entrevista ao Jornal do Campus (JC). “A gente faz rock que não é o rock que os nossos pais escutavam ou o rock que a gente imagina quando pensa em rock and roll.”

No dia 21 de maio, o trio revelou ao mundo seu primeiro lançamento inédito em quatro anos. O single A cidade é uma selva surge como prévia do próximo disco, ainda sem previsão de lançamento, e sugere um novo direcionamento para a sonoridade do grupo. Sobre o álbum, Eliott comenta: “Não sei se é o melhor disco do mundo, não sei se a galera vai amar, mas a gente ama. É um disco em que cada música tem um pouco da gente.”

“Não seria diferente se eu estivesse em seu lugar”

Para além da música, os três membros da eliminadorzinho possuem conexões próximas com a Universidade de São Paulo (USP). “Eu me formei na FAU em 2022. Faz três anos que estou tentando entrar no mestrado em pedagogia”, conta Tiago. “O bom filho à casa torna.” Hadd é aluno de filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, e possui graduação completa pela Faculdade de Economia e Administração (FEA). Eliott também é aluna da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, ingressante no curso de design em 2021, ano de lançamento do primeiro disco da banda.

A vocalista lista as diferenças marcantes entre a USP em 2015, quando foi aluna pela primeira vez, e sua versão de 2021, ano em que reingressou. “Eu lembro que era muito mais branca, muito mais hétero, muito mais cis. Hoje a gente vê um ambiente muito mais aberto, apesar de não ser perfeito. As cotas raciais foram muito importantes; a gente conseguiu ter algum espaço, mesmo que talvez até pequeno. Eu espero que realmente role o quanto antes da gente ter as cotas trans.” Eliott também conta que fez parte de movimentações pela criação de um coletivo trans no curso de design da FAU.

A cidade (universitária) é uma selva!

Tiago relembra um momento em que pôde tocar para um público em espaços do campus. O relato evoca imagens de um carro pichado, uma ex-namorada, um brownie de maconha e o Espaço Verde da FFLCH. Na ocasião, em meados de 2015, o baterista apresentou covers de Morphine acompanhado de uma banda de vida curta. No entanto, mesmo sendo uma banda 100% uspiana, a eliminadorzinho nunca se apresentou na Cidade Universitária.

Recentemente, o Ato-Festival Grave na Greve recebeu apresentações de dezenas de artistas no prédio do Departamento de História e Geografia da FFLCH, além de promover oficinas ao longo de toda sua duração. Organizado durante a Greve Geral dos Estudantes de 2023, o festival foi cenário de uma apresentação calorosa da banda Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo, expoente da nova cena de música independente brasileira. A vocalista, que empresta seu nome à banda, é aluna de Geografia na FFLCH e já foi entrevistada em uma edição anterior do JC. Eliott conta que a eliminadorzinho chegou a ser convidada para o festival, porém não puderam estar presentes por conflitos de cronograma.

“A gente sabe que a gente poderia ser um pouco mais proativo,” pontua Eliott. “Agora é um momento em que nós três nos vemos com frequência na USP, e acho que é a primeira vez que isso está acontecendo de fato. Acho que realmente falta um convite, uma oportunidade, alguma coisa para a gente poder tocar.”

Convidamos a eliminadorzinho para o Estúdio JC, projeto piloto que une música ao vivo e entrevista jornalística. Em breve, esta matéria será atualizada com o vídeo na íntegra.

*Com edição de Bernardo Arabolante