Reitoria quer desvinculação do HU

Protesto contra a desvnculação do Hospital Universitário (Foto: Pedro Passos)
Protesto contra a desvnculação do Hospital Universitário (Foto: Pedro Passos)

A transferência do Hospital Universitário (HU) e do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais de Bauru (HRAC) para a Secretaria Estadual de Saúde foi listada em um documento vazado da reitoria e publicado na Folha de S. Paulo. Um inquérito foi aberto para investigar como foi o plano foi difundido.

As desvinculações fazem parte das propostas da administração universitária para solucionar o problema financeiro enfrentado desde o início do ano. Em reunião do Conselho Universitário na tarde de ontem no IPT, a proposta do HRAC foi aprovada. Já a questão do HU foi tirada de pauta por um prazo de 30 dias.

O documento dá como justificativa para a desvinculação do HU a recomendação por parte da Secretaria de Saúde, que considera inadequada a administração de grandes instituições de saúde por uma universidade. O texto também coloca como motivação a incapacidade financeira da USP de renovar pessoal ou ampliar seus serviços. A Secretaria de Saúde assumiria imediatamente a gestão e os investimentos, enquanto que os funcionários serão progressivamente substituídos.

A reitoria colocou também a possibilidade de o HU ser incorporado como mais um dos institutos ligados à autarquia especial do Hospital das Clínicas, que por sua vez é administrado pela Fundação Faculdade de Medicina, em regime de parceria público-privada.

O Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), a Associação dos Docentes da USP (Adusp) e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) se mostraram contrários à iniciativa de desvincular o hospital, pois o processo levaria à perda de qualidade no tratamento dos pacientes. “Não queremos que o HU deixe de ser referência na medicina e de cumprir seu papel de trazer extensão à sociedade das pesquisas na área da saúde, feitas na universidade” disse Donizete, funcionária do hospital.

Os médicos do HU declararam não apoiar a medida por entender que a mudança prejudicaria a formação dos estudantes de medicina. “Se formar recursos humanos com qualidade para atender a população, fazer pesquisas baseadas nas necessidades das pessoas, prestar atendimento com qualidade às pessoas do nosso distrito não forem missões da universidade, não entendemos o que possa ser” afirmou em nota Gerson Salvador, diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp) e médico no HU.

GREVE NO HU

Cerca de 30% dos funcionários do Hospital Universitário já estavam paralisados desde o dia 27 de maio, lutando por um reajuste salarial, mesmo antes das notícias tratando do projeto de desvinculação. Os médicos que atendem no local também promoveram uma paralisação de uma semana, entre os dias 16 e 20 de junho, realizando um esquema de revezamento para o atendimento no plantão emergencial.

De acordo com o Sintusp, parte dos servidores foi alvo do corte de ponto, havendo desconto de 32 dias parados mesmo para funcionários que cumpriam a escala mínima prevista em lei. Ainda  assim o sindicato afirmou que o número de trabalhadores que voltaram aos seus postos de trabalho temendo a represália foi mínimo.

A direção do hospital também vinha afirmando que a greve dos funcionários impedia a circulação e o atendimento no pronto-socorro do hospital e que por isso pacientes socorridos pelo SAMU e pelo Corpo de Bombeiros não estariam sendo levados para a unidade. Os funcionários desmentiram a afirmação, mostrando uma placa afixada na entrada do pronto-atendimento, com a frase, “Pronto-socorro em reforma, procure a AMA ou UBS mais próxima”. De acordo com o Sintusp, trata-se de mais uma tentativa de deslegitimar a paralisação.