Na biologia, existe um grande problema sobre o conceito de espécie, pois há muitas definições diferentes que não se aplicam a todas as formas de organismos. Um dos principais métodos utilizados é a descrição da morfologia (como aparência e estrutura de corpo). Esse método, porém, é problemático para espécies com uma morfologia muito simples, como as algas. Além disso, existe a plasticidade morfológica, ou seja, a morfologia pode se alterar de acordo com as condições ambientais. Um outro problema é a subjetividade, pois no processo de descrição das características cada pesquisador adota padrões próprios.
Para lidar com esses conflitos, Paul Hebert, pesquisador canadense, propôs que se usasse uma região do DNA como definidor de o que é uma espécie. Essa região deveria ter variações significativas entre espécies, mesmo que próximas, de forma que permitisse diferenciá-las. Ele também propôs a existência de um banco internacional, de livre acesso, que contivesse a seqüência genética de cada espécie, além de outras informações. Mariana Cabral de Oliveira, pesquisadora do Instituto de Biociências (IB) da USP e coordenadora do projeto no Brasil aponta que, a princípio, a região marcadora na célula seria a mitocôndria, e receberia o nome de DNA Barcoding. Seria um método análogo ao do código de barras que possuem os produtos comerciais.
O PROJETO NA PRÁTICA
Apesar de o projeto estar bem avançado com aves e peixes, por exemplo, sabe-se que a região escolhida não é ideal para todos os seres. Nas plantas, por exemplo, é necessária uma combinação de vários marcadores para poder identificar a espécie, de forma que a idéia original não seja sempre viável. Para as esponjas marinhas, esse processo também não é eficiente, de forma que é preciso que se escolha outra região como marcadora, dependendo da espécie a ser analisada.
O objetivo é tornar o processo de identificação das espécies mais rápido e formar um banco de dados de toda a biodiversidade mundial disponível para consulta por qualquer pessoa. O papel do Brasil se destaca devido ao extenso número de espécies já descobertas, além da sua conhecida biodiversidade.
No início, o projeto recebia fortes críticas, pois muitos acreditam que reduzir a descrição da espécie a uma pequena região do genoma não é suficiente (já que a região do DNA analisada é muito curta). A professora aponta que o erro sempre está embutido no processo científico, e que o importante é saber o índice de erro no processo. Outra critica apontada é que esse projeto poderia extinguir a taxonomia, importante área da ciência que estuda as características de cada espécie.
Uma das principais vantagens do banco de dados é facilitar a identificação de novas espécies: caso um estudioso se encontre diante de uma espécie que não sabe identificar, ele poderá extrair seu DNA para compará-lo com os dados já arquivados no banco. Outras aplicações são a avaliação dos alimentos que estão sendo ingeridos pelos organismos, a identificação de espécies de peixes após serem processados, o reconhecimento de madeiras e espécies vegetais após serem cortadas e até mesmo a identificação de espécies de aves que ainda se encontrem em seus ovos, para evitar o contrabando.
por THAIS FREITAS DO VALE