As aulas no campus da USP-Leste foram retomadas no último dia 18 depois de o espaço ter sido interditado por mais de 7 meses devido a questões ambientais. Com a instalação de equipamentos necessários à captação e ventilação de gás metano pela Weber Albiental, a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) emitiu parecer favorável à desinterdição do campus no fim de julho.
Para os calouros que ingressaram na universidade no semestre passado, essa foi a primeira vez que entraram no campus da USP para ter aulas nos prédios da EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades). O segundo semestre letivo do ano, que começou com duas semanas de atraso em relação ao calendário oficial da Universidade, deve durar até 19 de dezembro.
INSEGURANÇA
O reitor Marco Antônio Zago, acompanhado do representante da Superintendência de Espaço Físico da USP, Osvaldo Nakao, fez uma visita à unidade no último dia 20 para acompanhar a retomada das atividades na EACH e conversar com a direção da Escola e alguns alunos. Uma das questões abordadas foi a não-assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) pela Cetesb que, apesar de ter liberado a reabertura do campus, apontou outras medidas cabíveis à universidade, que ainda não foram tomadas, para garantir a segurança e funcionamento do espaço.
Salete Perroni, que é aluna do programa de pós-graduação em Mudança Social e Participação Política e membro da Comissão Ambiental criada no ano passado, reclama do pouco diálogo da administração da Universidade e da Escola e do pouco espaço que tem sido dado aos alunos na tomada de decisões que afetam diretamente a rotina acadêmica. Perroni afirma que existe uma preocupação geral por parte dos estudantes para que as medidas assumidas pela EACH, que garantem a reocupação completa e consciente do campus, sejam, de fato, executadas. Para ela, ainda existe muita insegurança quanto à permanência dos alunos na USP-Leste.
Paula Freitas, aluna do curso de Lazer e Turismo, disse que “a volta no campus era um desejo de todos, não pela facilidade de ter a graduação, sessão de estágio e biblioteca reunidas, mas por termos um lugar que nos pertence. Todo o processo de interdição até a retomada do campus só mostra o descaso do reitor. Poderia ter sido resolvido mais rápido, devolvido mais rápido e prejudicado menos pessoas. Mesmo de volta, é notável a atmosfera de insegurança e incerteza”.
As aulas acontecem regularmente para os alunos de graduação e pós-graduação. Foi feita uma reunião de boas-vindas com a direção da Escola aos calouros. Segundo Maria Cristina de Toledo, diretora da EACH, os espaços e ferramentas do campus, como salas, laboratórios, biblioteca, internet sem fio e banheiros estão funcionando normalmente.
No entanto, um tapume cerca uma área extensa com terra contaminada. 23 bombas foram instalados no campus pela empresa Weber Ambiental para ventilar o metano existente na região. Carlos Frederico, representante da empresa contratada, explicou que, com o sistema de tubulação instalado, o gás inflamável, mas não tóxico, se dissolve no ar e não oferece nenhum risco à saúde dos alunos.
O campus também apresenta um impasse quanto ao ginásio de esportes, que está em reforma, e à necessidade de nova licitação para o funcionamento da tenda de atividade física. Em nota, a assessoria da EACH afirmou que “a nova licitação está em preparação” e que “instalações provisórias foram providenciadas e estão em processo de adaptação”.
INTERDIÇÃO
No começo do ano, a juíza Lais Amaral emitiu liminar que suspendeu as atividades no campus e determinou a realocação da rotina acadêmica para um espaço adequado. As aulas foram transferidas para a Unicid, Fatec do Tatuapé e outros prédios da USP.
Foi descoberta a presença de gás metano no subsolo do campus, com risco de incêndio e explosão. Além disso, devido ao um aterro implantado de forma ilegal, o solo foi comprometido com substâncias tóxicas e cancerígenas. A água foi contaminada devido à ausência de um sistema de captação e reserva adequados. O campus também apresentou problemas com infestação de pombos e ácaros. A Cetesb, ligada à Secretaria de Meio-Ambiente de São Paulo, emitiu laudos que confirmavam a inadequação do campus e, com isso, veio a decisão judicial pela interdição do espaço.
O Ministério Público investiga a possibilidade de descarte ilegal no campus de terras contaminadas oriundas da construção do Templo de Salomão, da Igreja Universal, na região central do Brás.
A diretoria da Escola preferiu não se posicionar quanto à polêmica, mas afirmou que está disposta a colaborar com as investigações, apesar de a estrutura do campus ser uma responsabilidade da USP, e não da EACH.
GREVE NA USP
Questionada sobre a possibilidade de alunos e funcionários aderirem à greve da USP, a direção da Escola declarou que não tem um plano alternativo para assegurar a continuidade das aulas no campus. Para Maria Cristina, as greves já fazem parte da rotina da universidade e as unidades devem se adequar aos diferentes níveis de paralisação.
Servidores da USP, inclusive alguns da EACH, entraram em greve parcial no fim de maio em manifestação ao arroxo salarial apresentado pela reitoria. A paralisação já se estende por três meses.
Nalim Granzotto, aluna de gestão de políticas públicas da EACH e representante do Centro Acadêmico Herbert de Sousa, disse que é improvável que os alunos da Escola entrem em greve.
por JOÃO PAULO FREIRE