Estudantes agredidos em protesto criticam PM

Depois de ser amplamente televisionada, truculência culminou em afastamento de oficial

Uma manifestação com poucas centenas de participantes – a maioria, trabalhadores e estudantes da USP – nas proximidades da Rodovia Raposo Tavares (cerca de 5 km da Cidade Universitária) ganhou os principais noticiários da última sexta-feira, 29 de maio, graças à violência policial. Após ser ateado fogo a uma barricada de pneus, que havia sido erguida para impedir o trânsito nas ruas adjacentes, os policiais militares presentes no protesto avançaram sobre os manifestantes mais próximos, dispersando-os com spray de pimenta e, posteriormente, bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha. Imagens da TV Globo, amplamente reproduzidas durante o dia, mostraram um policial militar atirando de dentro de uma viatura em movimento contra manifestantes que corriam pela calçada, enquanto outro oficial aparecia socando uma estudante logo no início da confusão. O ato, que começou no portão principal da Cidade Universitária, era integrado ao Dia Nacional de Paralisação e Manifestações, organizado por centrais sindicais contra a diminuição de direitos sociais e trabalhistas. O Jornal do Campus ouviu Jéssica, a aluna agredida, e Franciel de Souza, atingido por bala de borracha, sobre os acontecimentos.

(Foto: Marcela Fleury)
(Foto: Marcela Fleury)
Empurrões, pimenta e soco

Em vídeos do protesto, é possível ver uma mulher de cabelo curto e roupas pretas, portando um guarda-chuva e acompanhando um manifestante que fora detido. Outra moça segura a mochila do rapaz, que um policial de capacete se aproxima para pegar. A primeira mulher se aproxima e, imediatamente, é atingida pelo policial com spray de pimenta. Começa uma confusão e, ao insistir em disputar a mochila, a mulher leva um soco do policial no rosto. Essa é Jéssica. O detido era Carlos, estudante de Ciências Sociais e seu amigo, que foi levado para o 34º Distrito Policial e liberado no mesmo dia. A estudante do curso de Letras diz que brigou pela mochila de Carlos por temer que a polícia pudesse implementar provas para forjar uma prisão em flagrante. Ela conta ainda que, após a agressão, foi ajudada por uma secretária do Sindicato dos Trabalhadores da USP. “O Sintusp acompanhou todo o processo: me levaram no hospital, na delegacia, disponibilizaram advogado, etc.” Para ela, “apesar dos problemas do movimento estudantil”, a repressão policial sempre teve resposta da comunidade universitária. “Quando dizemos que ninguém fica pra trás, falamos sério.”

Atingido pelas costas

Nas imagens aéreas em que o policial atira da viatura, é possível reconhecer seu alvo como um grupo de pessoas que corria pela calçada. Entre elas estava Franciel de Souza, estudante de Artes Cênicas. Ele, que tocava percussão no ato, conta que os manifestantes “tentavam fazer uma barreira na rodovia para garantir o protesto, legítimo” quando “a PM começou a reprimir de forma incontrolada os estudantes e trabalhadores.” Sobre o momento televisionado, diz: “a políicia, de carro, nos caçou como em um safári, nesse momento que senti um tiro nas costas de um policial que não estava a nem dez metros de mim. A partir daí foram várias agressões, chutes, cacetete, xingamentos.” Para ele, a atuação da polícia na USP tem sentido político. “Todas as vezes que encontrei a PM em ‘ação’ foi agredindo estudantes e trabalhadores para impedir que pudessem protestar.” Ainda acrescenta que a detenção de Carlos não pode ser esquecida pelos estudantes e pela mídia. “Não podemos aceitar a criminalização de alguém que estava protestando. Isso abre precedente para termos que aceitar calado tudo que qualquer governo e reitoria fizerem”, diz.

Providências da PM

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública defendeu que “foram utilizados os meios necessários” para que a rua não fosse fechada, mas admitiu que que o policial que atirou de dentro da viatura foi afastado “pois o procedimento em questão foi totalmente irregular”. Para Jéssica, a medida só foi tomada devido à repercussão da mídia. “Acho que não teriam afastado o policial se não tivessem sido gravadas aquelas imagens”, diz. Ela também não acredita na punição contra oficiais abusivos. “Acho que esse é um problema da corporação – e sua existência – como um todo e não do cara que me agrediu individualmente”.

Por: Marcelo Grava