A versatilidade do vírus influenza é a principal causa do crescente temor de uma pandemia da chamada gripe suína. O vírus A (H1N1), do tipo influenza, causador da doença recém-descoberta, é capaz de combinar seus fragmentos com os de outros vírus do mesmo tipo, o que pode aumentar sua capacidade de infecção e disseminação, bem como seus efeitos no organismo infectado.
Para a professora Clarisse Machado, pesquisadora do Instituto de Medicina Tropical da USP, os vírus do tipo influenza podem infectar humanos, aves, e outros mamíferos. Um deles, o porco, é o reservatório que permite mais facilmente que os fragmentos de um vírus se combine com os de outro. “Na traquéia e no trato digestivo do porco existem receptores tanto para os vírus humanos como para os aviários. Desta forma, o porco pode ser infectado por vírus humano, suíno e de aves. Nessa situação, quando os vírus se multiplicam dentro das células do hospedeiro, pode haver uma mistura do material genético, fazendo surgir um novo vírus com a capacidade de infectar humanos”, afirma Clarisse.
Professora do departamento microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), Maria Lucia Rácz acrescenta que a preocupação com a gripe suína também se justifica por esse ser um vírus emergente. “A doença que ele causa ainda não pode ser bem compreendida. Por se tratar de um vírus novo, quase toda a população apresenta alta vulnerabilidade, já que seus organismos ainda não estão preparados com anticorpos”.
Gripe ou resfriado?
As características do vírus A (H1N1) não são os únicos perigos para a população. A falta informações corretas sobre as doenças podem levar à auto-medicação e, conseqüentemente, ao uso incorreto dos medicamentos.
Tomar remédios por conta própria para combater gripes pode ser desastroso para o organismo “porque os sintomas podem ser mascarados, dificultando o diagnóstico correto”, diz Clarisse. Além disso, “o uso indiscriminado de antivirais pode fazer com que o vírus desenvolva resistência ao medicamento, acarretando em conseqüências mais drásticas”, afirma.
Para a professora do ICB, Charlotte Harsi, especialista em virologia, há diferenças de sintomas entre gripes (causadas por vírus do tipo influenza) e resfriados. Além disso, os medicamentos para tratá-las também são distintos. “Normalmente chamamos qualquer infecção respiratória que temos de gripe, mas não é assim. O resfriado comum é afebril ou com febre baixa, raras vezes infecta pulmão e não costuma provocar tosse. A gripe começa com febre alta, dores de cabeça e no corpo. Depois vêm sintomas respiratórios, como tosse e dor de garganta. O quadro de gripe pode até evoluir para uma pneumonia”, diz Charlotte.
A professora ressalta que existem remédios para tratar sintomas de resfriados e gripes, como analgésicos e antitérmicos, que podem ser tomados livremente, desde que respeitada a dose indicada. Os cuidados devem ser maiores com os medicamentos que combatem o vírus da gripe.
“Não se deve estocar antivirais como o Tamiflu [apontado como o único capaz de combater a gripe suína] nem tomá-los sem recomendação médica. Eles só têm efeito sobre o vírus influenza e só devem ser usados após diagnóstico laboratorial do vírus”, conclui Charlotte.