Vestígios arqueológicos apontam produção de bebidas alcoólicas em quase todas as civilizações. Os egípcios e os babilônios as utilizaram há cerca de 8000 anos. Os gregos e os romanos cultuavam o deus do vinho. Os árabes, na Idade Média, incluíram a destilação em seus processos, o que aumentou o teor alcoólico das bebidas. No cristianismo, o vinho representa o sangue de Cristo. Mas foi na Era Moderna que as bebidas ganharam status de mercadoria e foram amplamente produzidas e comercializadas.
Para Henrique Carneiro, professor da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e membro do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (Neip), o consumo de álcool está embutido nos hábitos humanos, fazendo parte das tradições sociais. Segundo ele, “a relação do jovem com o álcool, assim como com outras drogas, é de uma aprendizagem nas formas sociais do seu uso. O consumo e autocontrole fazem parte da iniciação na vida adulta.”
O professor é contra o veto de bebidas nas instituições de ensino superior, como propõe a lei. “Para o consumo de bebidas, deve haver normas de controle e restrição. Não devem ser comercializada em cantinas. Mas o uso moderado faz parte das tradições de nossa sociabilidade em comemorações”, diz ele. Assim como cerveja e chope são vendidos no Clube dos Professores e vinhos são degustados em coquetéis, “deve haver o direito dos estudantes de consumir bebidas em festas, desde que isso não atrapalhe o andamento das atividades escolares”.
Carneiro defende que a proibição total poderá facilitar usos descontrolados e clandestinos de bebidas no campus. Segundo ele, quando o consumo se torna ilícito, “é mais difícil de ser observado e regulamentado. É melhor regular com equilíbrio, tolerância e moderação do que proibir e provocar o uso ilegal”.
Lucro para Atléticas e CAs
Com a venda de bebidas em festas no campus, centros acadêmicos e atléticas arrecadam fundos que auxiliam na manutenção de suas atividades. Segundo o Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), “aproximadamente 70% da nossa renda é oriunda de eventos promovidos pelo CA”.
De acordo com a sua diretoria administrativa, “esta renda é convertida em benefícios para os alunos. Promovemos cursos, financiamos taxas para congressos, realizamos eventos culturais gratuitos, confeccionamos um jornal mensal”. Já a Atlética da Poli afirma que os lucros são usados para pagar técnicos e quadras para os treinos.
Segundo o diretor de eventos da Atlética da Poli, Renan Falcão Vaz, a comercialização de bebidas no campus não deve ser proibida. Ele é a favor do consumo, se for “realizado em ambientes adequados com horários especificados. Não se deve vendê-las durante o dia, como ocorre em algumas faculdades. Mas, por outro lado, a bebida alcoólica faz parte das festas e estas devem ser realizadas no campus, como sempre foram”.