Pesquisa revela reais preocupações da comunidade uspiana
“A pesquisa aponta prioridades e desmistifica a celeuma [alvoroço] em torno de alguns temas: o que move a cabeça da comunidade uspiana não é a questão do ensino à distância ou a questão salarial, mas os objetivos permanentes da universidade – ensino e pesquisa”. A afirmação é de José Álvaro Moisés, professor do Departamento de Ciência Política da FFLCH. A pedido do Jornal do Campus, Moisés analisou os resultados da pesquisa.
ASPAS
Professores, funcionários e alunos opinam sobre temas pesquisados
Ensino
“Com as novas tecnologias, precisamos continuar investindo no ensino para conseguir uma universidade de ponta”
Dilson Gabriel dos Santos, professor da FEA
“A longo prazo, acho que a melhoria do ensino deveria ser a plataforma principal dos reitoráveis, pensando na qualidade dos docentes e nos investimentos em infraestrutura. Mas a curto prazo apoio a democratização da USP”
Firas Freitas, aluno da ECA
Democratização
“Quando um único grupo de pessoas toma as decisões pela universidade, não se atinge a necessidade do todo”
Telma Fernandes de Oliveira, funcionária da Reitoria
Infraestrutura
“No meu curso usamos muito os computadores, que estão sucateados; não temos vários programas de que precisamos”
Isabela Galego, aluna da FAU
Segurança
“Já temos uma Guarda Universitária. Ou a universidade dá condições de ela manter a segurança na USP, ou a elimina e dá carta branca para a ação da PM aqui”
Irina Frare Cezar, aluna da FFLCH
Segundo ele, o fato de os quatro temas mais votados serem ligados às atividades-fim da universidade é um sinal importante para os reitoráveis. Isso mostra que a comunidade está preocupada com a qualidade de ensino e pesquisa, com as condições de infraestrutura e com as formas “como as decisões a respeito desses objetivos são tomadas”.
O professor acredita que esse dado deve ser levado em conta também pelo movimento de funcionários e estudantes, por mostrar que discussões postas como centrais na greve deste ano – como política salarial e a Univesp – não estão no centro das preocupações dos uspianos.
Com relação aos votos para a democratização, o professor enxerga o indício de um problema estrutural da USP. Segundo ele, isso precisa ser enfrentado, inclusive, no que diz respeito à eleição para reitor.
Disparidades
Considerando cada categoria da USP, há sensíveis diferenças entre os votos de alunos e docentes e as prioridades apontadas por funcionários.
Para Moisés, “a integração desses segmentos nos objetivos estratégicos da USP tem de levar esses dados em conta”, embora as demandas próprias dos funcionários “não possam ser transformadas no centro da vida da universidade”.
A partir dos dados da pesquisa, Moisés acredita que “o próximo reitor terá de ser extremamente sensível às prioridades da comunidade uspiana, ou seja, ensino, pesquisa, infraestrutura e democracia interna”.
“Se [o reitor] não fizer isso, vai prolongar a crise que vem assolando a universidade nos últimos anos e a USP correrá o risco de perder sua liderança intelectual no Brasil e na América Latina”, completa.