Reitora e entidades falam sobre as polêmicas presentes em sua gestão
Termina em 2009 o mandato de quatro anos da reitora Suely Vilela na Universidade de São Paulo. No período, duas grandes greves e diversas manifestações tornaram controversas suas decisões. Mesmo assim, a USP alcançou mais prestígio junto à comunidade acadêmica, já que o número de alunos vindos de escola pública chegou a 30% – valor nunca antes atingido. A Universidade também apareceu em boas colocações em rankings mundiais de qualidade de ensino superior.
O JC foi a campo para saber a opinião de professores, funcionários e alunos a respeito do mandato de Suely Vilela, além de entrevistá-la via email.
ASPAS
Opiniões sobre o mandato de Suely em frases
Democracia
“Ela passou uma expectativa de gestão mais aberta, democrática, e não foi isso o que ocorreu”
Otaviano Helene, ex-presidente da Adusp
“A democracia não chegou à USP”
Brandão, diretor de Informação do Sintusp
“A estrutura de eleições para reitor da USP é a mais antidemocrática do país”
Lucas Derisso, membro do DCE
PM no campus
“Não responsabilizo só a reitora [pela entrada da PM]. Ela agiu atendendo uma resolução da maioria do Conselho Universitário, com a recomendação de que a PM fosse chamada sempre que se fizesse necessário”
Brandão
“Chamar a PM para reprimir os estudantes foi o que materializou o sentimento de revolta contra a reitoria na figura de Suely”
Lucas Derisso
Diálogo
“Na greve de 2007 a reitora estava muito afeita à negociação, que era o que deveria ter sido feito [na greve deste ano]”
Otaviano Helene
“O canal de comunicação entre o DCE e a reitora foi dificultado pelo conservadorismo de Suely”
Lucas Derisso
Ensino e Pesquisa
Suely Vilela entende que a qualidade de ensino melhorou porque foram concedidas mais bolsas de pesquisa e a produção científica teve um crescimento de 58%, segundo seus próprios dados. Otaviano Helene, presidente da Adusp durante parte do mandato da reitora, contesta essa informação: “Tem havido uma enorme redução de investimentos e recursos para pesquisa por número de pesquisadores, porque eles cresceram muito e o valor do investimento permaneceu o mesmo”.
Helene acredita haver más condições de trabalho na USP, o que causa a falta de professores e não contribui para o padrão de qualidade. “Também nos posicionamos contra o ensino à distância e contra a reforma da carreira dos docentes, do modo como ela ocorreu no mandato de Vilela”.
A respeito do modelo da Univesp, Helene acredita que existe um déficit de professores que se dá mais pela má qualidade de trabalho do que pela falta de formados. Para ele, o ensino à distância não resolve o problema, apenas cria outro. Já a reitora tem uma visão positiva: “A USP já mantém 40 projetos de extensão à distância, um pressuposto da aceitação do modelo.”
Mudanças administrativas
A reitora considera que um dos pontos altos de sua gestão foi a implantação do Projeto de Descentralização Administrativa, que funcionou aliado ao programa de Gestão Estratégica e Desburocratização na Administração da USP. Ela entende que essas mudanças tiveram reflexos relevantes na agilização dos processos de gestão de diplomas, contratos e convênios, contratos de estagiários e gestão de frotas, entre outros. Alunos professores e funcionários julgam que as mudanças foram tímidas e que a burocracia continua.
Democracia e diálogo
Para o presidente da Adusp, a reitora passou em sua candidatura uma expectativa de gestão mais aberta e democrática da que de fato ocorreu. Segundo Helene, a reitoria rompeu com a Adusp e foi pouco afeita a negociações. Claudionor Brandão, um dos diretores do Sintusp, concorda. “Esse foi o mandato mais reacionário que já vi desde que comecei a trabalhar na USP, em 1987”. Suely Vilela não aceita essa crítica e lembra que na Reforma do Estatuto toda a comunidade da USP teve a oportunidade de opinar.
Sobre a presença da PM no campus durante as ocupações, a reitora diz que “não há norma pré-estabelecida para se tratar conflitos. Cada situação é única, peculiar e merece tratamento condizente”.
Autonomia
Para o DCE, Adusp e Sintusp, a questão da autonomia da universidade foi determinante para que o mandato da reitora fosse considerado submisso aos caprichos do governo. Sobre as relações com o Governo do Estado, Vilela responde que “O diálogo mantido foi cordial, buscando-se sempre, a consecução de objetivos maiores, em benefício do Estado e do País”.