Zago avalia questões centrais para sua gestão, fala sobre cortes no orçamento, PM e EACH

Apesar de não emitir respostas definitivas para muitas questões referentes aos problemas da universidade, Zago expõe o que está mudando e mostra-se interessado
em dialogar com os diferentes setores da universidade. A necessidade de modernizar
a USP, principalmente em suas estruturas de poder e de ensino, foi reiterada várias vezes em seu discurso.

JC – Na consulta feita à universidade para escolha de reitor, a sua chapa (“Todos pela USP”) foi a mais votada e o senhor foi escolhido pelo governador. O que o senhor pretende fazer para responder a essas expectativas?

Zago – O que pretendo fazer essencialmente é cumprir aquilo que eu prometi durante a campanha […] Eu poderia destacar, em primeiro lugar, a importância
[de rever a estrutura] dos cursos de graduação da USP. Em segundo lugar, a necessidade da Universidade se modernizar – tanto em sua estrutura burocrática
quanto administrativa [….] Além desses dois pontos, há um terceiro que é essencial para que os outros se realizem, que é reestabelecer um bom relacionamento entre a reitoria e os diferentes componentes da Universidade. No que diz respeito à modernização da Universidade, por exemplo, nós começamos um processo no Co., dia 25 [de março], no qual se discutiu uma agenda e criou-se uma comissão específica para tratar da reforma do estatuto, do regimento e de outros diplomas legais da universidade. Além disso, […]eliminamos a lista tríplice para escolha de diretores […] das unidades […]. Com relação ao ensino de graduação, […] tenho me reunido com grupos de estudantes para ouví-los. O que eles consideram importante na Universidade? O que eles querem mudar? […] Eu sei que os alunos sabem, muitas vezes até melhor do que os docentes, o que precisa ser feito. […]

Zago afirma que pretende devolver às unidades de graduação a principal responsabilidade sobre a organização do seu currículo (Foto: Luiza Fernandes)

JC – Qual seu posicionamento em relação às eleições diretas para os cargos diretivos nas unidades? O senhor pensa em levar essas transformações mais a fundo?

Zago – […] Eu diria que houve uma supervalorização da eleição de reitor […] Muito mais importante é nós examinarmos os outros aspectos que garantem que uma vez eleito, o reitor se comporte de modo a atender os interesses da Universidade. Esse é o primeiro ponto. O segundo aspecto importante é que a Universidade fez uma imensa mudança no processo de eleição. […] Não quero dizer que o que temos é ideal, mas quero dizer que não é mais o mesmo processo que tínhamos antigamente. […] O grande mal [do processo de eleição anterior] era que o colégio eleitoral era extremamente limitado e muito dependente da reitoria. Isto não acontece mais, porque quem votou foram as congregações – cerca de 2 mil pessoas ou um pouco mais. […] Agora este processo terá que ser rediscutido. […] Poderiam, por exemplo, ter votado todas as congregações mais todos os conselhos departamentais. […] Aí permaneceria a crítica de que os estudantes e servidores estão subrrepresentados. […] Há um caminho para aperfeiçoar ainda. […]

JC – Quais as prioridades de investimento na sua gestão?

Zago – A questão do orçamento foi uma surpresa não agradável para toda Universidade […]. Nós temos hoje comprometido com folha de pagamento, isto é, com pessoal, mais de 100% do que recebemos na forma de repasse do governo estadual. […] Portanto, nós tivemos que tomar as seguintes medidas: proibir todas as contratações, em todos os níveis, de toda forma […] exceto os compromissos previamente assumidos em termos de docentes que vinham sendo processados pelas unidades […], redução do orçamento de todos e supressão de todas as construções e obras a não ser aquelas que são essenciais para sobrevivência. […] A Universidade vai a falência? Não, se todos entendermos que temos que reorganizar nossos gastos.

JC – As obras que já estavam em andamento, irão continuar ou serão paradas?

Zago – As obras que estão em andamento têm que ser analisadas uma a uma – você sabe que tem um momento na obra que é melhor deixar terminar. Mas há obras que estavam começando e que paramos. Por exemplo, um prédio de 16 andares que ia ser construído na Rua da Consolação. […] Não há motivo para tocarmos em frente. Outros prédios que já estão quase prontos, talvez seja melhor completar. Então está sendo feita uma análise técnica. Mas as construções novas que estavam sob licitação foram canceladas neste momento. 

JC – As bolsas de intercâmbio serão cortadas?

Zago – As bolsas internacionais terão que ser revistas sim. Veja, o Governo Federal tem o Ciência Sem Fronteiras, que fornece uma quantidade bastante significativa de bolsas para intercâmbio. A USP é a entidade brasileira que mais as usa […] Portanto, as bolsas que nós mantivermos serão complementares ao Ciência Sem Fronteiras, ou seja, nós vamos procurar manter [bolsas para] aquelas áreas que não são atendidas [pelo programa federal]. […] Do ponto de vista da Universidade, entendemos que todas as áreas são importantes.
[…] Mas certamente o número total de bolsas vai cair.

JC – A gestão anterior criou uma série de benefícios a funcionários e professores. O senhor pretende retirar algum incentivo financeiro para equilibrar as contas da Universidade?
Zago – Eu não posso dizer com clareza ainda porque não chegamos neste ponto. Eu posso dizer o que eu gostaria de fazer – que é não retirar nenhum incentivo financeiro. Mas eu devo dizer que […] eu sou obrigado a equilibrar as contas da Universidade. Isto é uma responsabilidade pessoal minha que se não fizer, poderei ser responsabilizado até do ponto de vista judicial. […] Não adianta nada conceder benefícios se chegar em um momento
que nós não pudermos pagar. […] Os benefícios sociais são úteis e serão mantidos na medida do possível.

JC – Que medidas estão sendo tomadas para solucionar definitivamente a situação da EACH? Há alguma previsão para o retorno das atividades no campus, mesmo que o problema não tenha sido solucionado de maneira definitiva?

Zago- […] Esta é uma resposta que apenas o promotor e a juíza podem dar, porque voltaremos assim que for desinterditado. Pode ser na semana que vem, pode ser daqui a um mês, pode ser daqui a seis meses[…]. Tomamos todas as medidas que estão sendo solicitadas. Temos uma pessoa que tem gerenciado esta crise, que, pelo menos uma vez por semana, se reúne com o promotor e seu assessor técnico […]. [Sobre o gás metano que está no terreno] Contratamos uma empresa para fazer [o monitoramento], colocamos as bombas para fazer a extração de gás […]. Quem monitora e, finalmente, diz tecnicamente se está atendido é a CETESB, que em um relatório anterior disse que não havia risco de explosão [na área do campus]. […] Sobre a questão da área que foi aterrada [com solo contaminado]
foi feito um monitoramento da seguinte forma: foram colhidas 198 amostras de diferentes áreas do espaço de 25 mil m² que foi aterrado. Das amostras colhidas, detectou-se que havia sinais de contaminação em oito delas. Portanto, não é uma contaminação generalizada.
Claro, pode ser importante mesmo assim. Agora é preciso fazer um mapeamento mais fino para delimitar essas áreas.[…]. Nesta questão da solução dos problemas há medidas que precisam ser tomadas imediatamente, para diminuir o risco imediato da contaminação ambiental, e depois, as medidas de remediação que provavelmente se estenderão por […] quanto for necessário. Nós estamos comprometidos a fazer tudo isto […]. Primeiro porque eu não gostaria que os alunos e professores voltassem lá se houver algum risco […]. Agora, eu estou convencido de que esses riscos, hoje, desapareceram. Não quer dizer que todo o problema ambiental desapareceu, mas os riscos graves, sim. […] Nós teremos que continuar trabalhando lá porque isto ocorre em outras áreas da cidade de São Paulo […] e nós entendemos que uma das funções da Universidade  é exatamente providenciar soluções. […] Se nós conseguirmos resolver definitivamente a questão da USP Leste nós teremos um modelo a mostrar para a cidade de São Paulo.

JC – Qual a principal defasagem na graduação da USP, na sua opinião? Com a burocracia e tamanho da USP, é realmente possível adotar outro modelo de ensino?

Zago – […] Para envolvermos a reitoria em um processo que seja permanente, que dure quatro anos, nós temos que procurar algo que tenha um impacto mais geral. […] Um dos instrumentos mais importantes no que diz respeito a graduação é devolver às unidades a principal responsabilidade sobre a organização do seu próprio currículo […]. Quer dizer, nós queremos que as decisões nas unidades sejam, sempre que possível, as decisões finais, cabendo à reitoria e aos órgãos centrais estabelecer parâmetros para avaliar depois o que foi feito. […] Segundo, definir que […] não é quanto mais tempo de aula que é melhor. Não há nenhuma dúvida: todos os estudantes que eu conversei se queixam do exagero da carga horária […]. Quando nossos estudantes saem para o exterior, sua primeira surpresa é de como a carga horária é muito menor, mas como que eles têm que estudar muito mais. […] Então, sim, eu vou falar os quatro anos a respeito disso, vou cobrar […] que façam modificações para modernizar o nosso ensino.

Reitor pretende melhorar o diálogo com setores da USP (Foto: Luiza Fernandes)

JC – Qual a sua opinião sobre o acordo feito com a Polícia Militar pela gestão anterior?
O Senhor pretende rever o acordo que temos atualmente com a PM?

Zago – […] O que que é ruim da vinda da polícia do campus? […] O problema é a polícia do Brasil e de São Paulo ter ainda comportamentos em sua educação que precisam ser aperfeiçoados. Se há um comportamento que não é ideal, se há desrespeito aos direitos humanos, isso ocorre em todos os lugares e nós temos obrigação de contribuir para melhorar. Há também uma lembrança histórica [período da ditadura]
em que a polícia e o exército invadiram a Universidade […]. Eu era estudante nesta época, eu sei o que foi. Neste momento, em um país que é democrático, a polícia e o exército jamais poderão ser usados como elementos opressores de opinião […]. Nós vamos rever este acordo? Claro que vamos rever. Eu nem li ainda este acordo, mas eu tenho a impressão que ele autoriza o que a Constituição já autoriza, que é a entrada de forças policiais aqui para conter crimes e desrespeito a lei, o que estão autorizados a fazer em qualquer local.

JC – Em entrevista anterior ao JC, o senhor disse que a vida comunitária é muito importante
para uma universidade. Para o senhor, festas e happy hours organizados pelos CAs e Atléticas fazem parte dessa vida comunitária? O senhor pretende auxiliar ou facilitar de alguma maneira essas atividades? Como?

Zago – Eu acho que esta é […]talvez a questão mais difícil que você me fez. Eu continuo achando que a vida comunitária é muito importante. Ela é muito reduzida aqui no campus da USP. Nós precisaríamos promover várias medidas para ampliar isto e eu convidaria alunos, servidores e professores a fazerem propostas para isto, desde espaços – nós quase não temos espaços – para isso até formatos. […] As festas são parte intrínseca da vida dos jovens. Não me cabe querer controlá-los, mas há limites. […] Este é meu grande dilema: eu quero que os jovens se reunam, eu gosto que eles se divirtam; sei que quando você coloca mil, dois mil jovens juntos e tem acesso a álcool e drogas, se torna uma situação incontrolável e em última instância isso acaba se tornando uma responsabilidade minha. Como é que eu deixo isto acontecer no campus da USP? Então eu não queria te responder isso ainda, mas eu vejo isso com muita preocupação.