Candidatos a governador de São Paulo discutem propostas para a Universidade

O Jornal do Campus conversou com seis dos nove candidatos a governador de São Paulo para descobrir mais sobre suas propostas para a Universidade. Questões como oferta de vagas, segurança, criação de novas unidades e autonomia da universidades foram alguns dos temas abordados. Todos os candidatos foram entrevistados pessoalmente, com exceção de Aloizio Mercadante e Paulo Skaf, que nos concederam entrevista por email.

Maior Controle Social

Aloízio Mercadante (foto: Divulgação)
Aloízio Mercadante (foto: Divulgação)

Para Aloizio Mercadante o aprimoramento do ensino superior deve se basear no aumento da oferta de vagas em conjunto com a manutenção da qualidade. O candidato do PT tem como objetivo fortalecer o papel social das universidades públicas: ele pretende implementar o sistema de cotas para negros, indígenas e alunos de escolas públicas, rever a relação com as fundações para garantir maior transparência e controle social e estimular a extensão universitária.

No que se refere ao processo de escolha do reitor na USP, o candidato acredita que, como forma de respeitar a autonomia universitária, o governador deve escolher o primeiro indicado da lista tríplice. Ele afirma ainda que pretende aumentar os canais de diálogo do governo com a reitoria e o restante da comunidade universitária.

Sobre a atuação do governo do PSDB nos últimos anos, Mercadante condena os Decretos de 2007 (série de decretos promulgados que criavam a Secretaria de Ensino Superior, diminuindo a autonomia universitária) e a entrada da polícia militar no campus para reprimir manifestações no ano passado. Ele considera a situação “exemplar da maneira autoritária com que o governo tucano lida com críticas e reivindicações”.
Questionado sobre como melhorar a segurança dentro da USP, o candidato demonstra a intenção de manter a PM fora do campus: “É necessário investir na Guarda Universitária e no policiamento das áreas vizinhas”.

Leia a entrevista com Aloizio Mercadante.


Diálogo com Alunos

Celso Russomanno (foto: Divulgação)
Celso Russomanno (foto: Divulgação)

Candidato ao governo pelo PP, Celso Russomanno aponta as falhas na infraestrutura das universidades como o principal problema a ser enfrentado: “Ainda é feito um bom trabalho porque os professores são bons. Mas falta investimento em infraestrutura – nos laboratórios, bibliotecas”, afirma. Segundo ele, os cerca de R$ 7 bi destinados pelo governo de São Paulo às Universidades Estaduais Paulistas são insuficientes: “Isso é menos que 5% do orçamento. Acredito que a prioridade do governo que está aí até hoje é obra pública, não qualidade de vida para o cidadão. Porque quando você investe nas pessoas, o único retorno que você tem é ver que as pessoas estão mais felizes.” Além de aumentar o repasse de verba, seus planos incluem a construção de novos campi universitários nas áreas mais pobres do estado, como o Vale do Ribeira.

Admitindo conhecer pouco sobre o trabalho do atual reitor da USP, Russomanno defende que o ele seja eleito pelos alunos, com os quais diz querer manter estreito diálogo. Mote de sua campanha, o jargão “Tá bom para você?” seria aplicado à lógica universitária: “O que importa para mim é saber dos alunos se está bom. Por isso mesmo sou favorável que o reitor seja eleito pelos próprios alunos”. De acordo com ele, é importante que o governador esteja sempre disposto a dialogar com a comunidade universitária. Para ele, foi essa indisposição que culminou na entrada da PM na Cidade Universitária durante manifestações ocorridas em 2009: “Sou o governador das ruas, tiraria a bunda da cadeira e iria conversar. Eu jamais permitiria a entrada da polícia na USP. [O governador] não foi porque não quis, porque ele tem o poder da caneta para mudar as coisas”.

Leia a entrevista com Celso Russomano.


Importância na Produção Técnica-Científica

Fábio Feldmann (foto: Eliana Rodrigues)
Fábio Feldmann (foto: Eliana Rodrigues)

Com experiência na área do meio ambiente, Fabio Feldmann destaca a importância das universidades na produção técnica para a implantação das economias de baixa intensidade de carbono, criativa e da biodiversidade, que, segundo ele, “exigem muito conhecimento científico”. “Nesse sentido as universidades serão muito valorizadas”, afirma.

Para Feldmann, os últimos governos poderiam ter feito mais pelo ensino superior: “O PSDB cumpriu a tabela, mas não representou nenhuma visão estratégica do papel das universidades nesse mundo novo que nós estamos querendo entrar”. Caso seja eleito, o candidato diz que não tem a intenção de aumentar a verba destinada a elas: “Nós não pretendemos aumentar nada do que já está na legislação, que é um percentual vinculado ao ICMS”, diz.

Feldmann não considera a discussão sobre o pagamento de mensalidades crucial no momento e defende o modelo atual de escolha do reitor pelo governador: “A lista tríplice garante uma boa relação entre o governador e o reitor escolhido, ainda que não haja coincidência de mandato”. E acrescenta: “Isso não representa um impedimento da melhoria da universidade. Considero um modelo democrático”.

Sobre a utilização da força policial dentro do campus universitário, Feldmann se mostra cauteloso: “Toda solução negociada é melhor do que qualquer utilização de força. Mas em alguma situação limite, eu não vejo problema”, conclui.

Leia a entrevista com Fábio Feldmann.


Expansão da Universidade

Geraldo Alckmin (foto: Natália Natarelli)
Geraldo Alckmin (foto: Natália Natarelli)

Geraldo Alckmin (PSDB/SP) já foi governador de São Paulo entre janeiro de 2001 e abril de 2006, quando deixou o mandato para disputar a presidência. Mais uma vez candidato, pretende continuar a expandir a universidade para além do campus Butantã, através da construção de uma unidade da Escola Politécnica em Cubatão: “acho que é importante a Poli-USP em Cubatão em razão da questão do petróleo, do pré-sal, do gás, do porto e há uma falta grande das engenharias. Nós pretendemos, sim, ajudar a USP a instalar a Poli em Cubatão”, disse o candidato, que no seu último mandato inaugurou o Campus da USP-Leste. A verba para esse projeto, segundo Alckmin, virá, preferencialmente, dos recursos da própria universidade: “acho que a USP tem um recurso importante, que é o percentual do ICMS, mas, se houver necessidade, nós vamos ajudar com um recurso a mais”.

Além disso, outra proposta é transformar a Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo) em uma fundação para apoiar o ensino universitário. Quando questionado sobre o processo de escolha do reitor pelo governador, Alckmin, que já nomeou dois reitores – Adolpho José Melfi, em 2001, e Suely Vilela, em 2005 – é direto: “Eu entendo que, se a Universidade escolhe uma lista tríplice e eu sempre nomeei o primeiro convocado então, na verdade, é a universidade que escolhe”.

Leia a entrevista com Geraldo Alckmin.


Valorização da Autonomia

Paulo Bufalo (foto: Andressa Pellanda)
Paulo Bufalo (foto: Andressa Pellanda)

Paulo Bufalo é incisivo nas críticas à adequação progressiva das universidades públicas à lógica de mercado e a privatização do ensino que, segundo ele, vêm ocorrendo nos últimos anos e comprometendo a qualidade do ensino superior. Como solução, propõe uma mudança de modelo, que privilegia o ensino público e busca um maior investimento na área, através do combate a manobras contábeis que reduzem recursos e da destinação de 11,6% do ICMS para as universidades paulistas.

O candidato do PSOL, duas vezes vereador por Campinas, defende a valorização da democracia e autonomia das universidades. Nesse sentido, ele se opõe ao atual modelo de eleição do reitor da USP e à lista tríplice, apoiando que uma escolha direta seja feita pela comunidade universitária.

Sobre a atuação da polícia no campus, Bufalo afirma que ela “não será usada para reprimir trabalhadores nem estudantes”. Para, no entanto, garantir a segurança dentro da universidade, ele ressalta a necessidade de combinar a ação policial com uma reconfiguração do perfil da polícia, para que, instruída e preparada adequadamente, possa cumprir esse papel.

Perguntado sobre o Ficha Limpa, Bufalo diz: “Fui pra rua defender a lei”. Mas aponta que só uma legislação boa não é suficiente para garantir a aplicação da lei: são necessárias instituições competentes também.

Leia a entrevista com Paulo Bufalo.


Retorno à Sociedade

Paulo Skaf (foto: Divulgação)
Paulo Skaf (foto: Divulgação)

Paulo Skaf, ex-presidente da Fiesp é mais um que defende o aumento do número de vagas nas universidades públicas estaduais. Quando questionado sobre a manutenção do ensino gratuito na USP, o candidato foi enfático: “Claro! Ela é um patrimônio público de São Paulo e do Brasil. Não teria nenhum sentido mudar a condição da USP de universidade pública”. Porém, em uma série de entrevistas ele sugere que os alunos devolvam, de certa forma, o investimento do estado por mensalidade – aos que têm condições financeiras – ou serviço público.

Seu exemplo corrente é dos cursos de medicina. Skaf alega que depois de custar muito aos cofres do governo, o aluno que concluiu o curso geralmente abre uma clínica particular, que cobra pela consulta, não retornando à sociedade o que o Estado depositou nele. Então essa obrigatoriedade traria uma “justiça” nesse impasse.

Em uma nova contradição, ele reafirma a autonomia da USP, dizendo que “As universidades públicas estaduais são autônomas. Os governos paulistas, sejam quais forem, não têm muito espaço para fazer algo diferente na relação com as universidades, o que é bom que seja assim.”

Leia a entrevista com Paulo Skaf.