Jornal do Campus: Quais são as suas propostas para o ensino superior em geral?
Fábio Feldmann: De maneira geral, nós estamos defendendo a educação como essencial para o combate à desigualdade, igualdade de oportunidades, quer dizer, então isso como uma linha geral. E, mais do que isso, o programa de governo trabalha em três economias: economia de baixa intensidade de carbono, economia criativa e economia da biodiversidade e dos ecossistemas. Eu tô citando essas economias porque elas exigem muito conhecimento científico pra que você possa trabalhar nessas economias. Pra isso, as universidades paulistas são absolutamente estratégicas no sentido de avançar no que elas já fazem em relação a muitos dos sistemas. Eu vou só citar um, que eu participei que é o biota. É um programa feito pela Unicamp, que levanta a biodiversidade no estado de São Paulo, com recursos da Fapesp. Então pra nós, além da importância de um ensino superior em si, ele estrategicamente se torna um requisito essencial pra que nós possamos implementar essas economias.
JC: Você pretende destinar mais verbas para as universidades ou melhorar a distribuição que já existe?
FF: Você tem a vinculação das verbas. O que nós pretendemos é fixar parcerias com as universidades no sentido de garantir que elas possam exercer o seu papel de pesquisa, de desenvolvimento de tecnologia e garantir que elas possam cumprir o que nós achamos essencial no século XXI. Nós não pretendemos aumentar nada do que já está na legislação, que é um percentual vinculado ao ICMS, mas, no que for adicional, fazer através de parcerias com essas universidades.
JC: Você acha que os governos anteriores têm sido satisfatórios nesse aspecto?
FF: Eu tenho dito que nós temos uma visão do século XXI. Nessa visão nós achamos que realmente a universidade tem que ir muito além do que ela já está indo. E acho que junto com o poder público, representado pelo governo estadual e mesmo pelo federal, existe um enorme espaço de avançar essas questões. Nós estamos propondo um centro de desenvolvimento sustentável que vai articular as ações dentro da área de inovação, conhecimento que nós consideramos muito estratégico para São Paulo. Nesse sentido, eu acho que o PSDB, de certa maneira, cumpriu a tabela, mas eu não acho que ele representou nenhuma visão estratégica do papel das universidades nesse mundo novo que nós estamos querendo entrar. Então nesse sentido as universidades serão muito valorizadas.
JC: Algumas pessoas defendem o pagamento de uma mensalidade.
FF: Eu não acho essa questão essencial. Eu a acho altamente polêmica e complexa e em minha opinião drena o papel da universidade nas novas economias. Eu tenho até amigos que defendem o pagamento de mensalidades, dizem que o universitário que tem automóvel… Eu não concentraria o meu foco nessa discussão porque eu não acho que ela é a grande discussão do papel das universidades no século XXI e nas novas economias. Eu não trato como uma questão crucial.
JC: Outra coisa que é discutida é a eleição pelo governador…
FF: Eu defendo esse modelo. Eu acho que a lista tríplice garante uma boa relação entre o governador e o reitor escolhido. Ainda que haja uma tendência de o governador escolher o mais votado…
JC: Não foi o caso da última vez… Mesmo havendo muita oposição dos próprios alunos contra esse modelo. Há muita discussão dizendo que não há liberdade, que os alunos deveriam eleger…
FF: Eu acho que a universidade representa mais do que o corpo discente. Nós não podemos esquecer que quem financia a universidade é o contribuinte paulista. Nesse sentido ele também tem que estar representado nessa discussão. Eu acho que o corpo discente tem que participar, mas eles são apenas uma parte.
JC: Outro problema que temos é a falta de sincronia entre os cargos de governador e reitor.
FF: Mas aí o que você está propondo é que se criasse um ajuste de temporalidade. Mas eu acho que ainda que não haja coincidência de mandato, eu defendo a lista tríplice, eu a acho democrática, eu não acho que isso representa um impedimento da melhoria da universidade. Eu acho que a grande discussão é a sociedade participar mais na avaliação da universidade. Eu chamo transparência e prestação de contas, não só para as universidades, mas como é o contribuinte que paga essa conta, eu acho que ele tem todo o direito de ter acesso a todas as informações, monitorar o desempenho das universidades e isso garante estabilidade no tempo.
JC: E caso haja uma oposição, vai ter uma dificuldade…
FF: Eu acho que não. A autonomia da universidade está garantida na Constituição, você tem as universidades paulistas e especialmente a USP tem uma folha de serviços prestados enorme, é uma das principais universidades do mundo. Então eu acho que existe na verdade o reconhecimento nacional e internacional da importância das universidades. Isso é importante para que a universidade continue desempenhando o seu papel como vem fazendo. Eu não acho que a lista tríplice representa nenhuma ameaça à autonomia universitária, eu não acho que ela representa risco à manutenção da qualidade das universidades paulistas. Eu acho que a grande discussão, eu quero insistir, qual é o papel das universidades no mundo contemporâneo e eu acho que essa vai ser a preocupação nessa agenda sobre discussão sobre as universidades de São Paulo e do país, de maneira geral.
JC: No ano passado nós tivemos greves, invasão da reitoria e a PM contendo as manifestações, chamada pela reitora. A Polícia Militar…
FF: Olha, eu acho que é caso a caso. Depende. A minha geração é a geração conta o regime autoritário, eu vejo sempre com preocupação a necessidade do uso de força na universidade. Eu acredito que é caso a caso. Eu acho que você pode encontrar situações extremas e não. Eu acho que toda solução negociada é melhor do que qualquer utilização de força.
Em determinada situação, você pode exigir policial para preservar a integridade física dos alunos, pra preservar o direito de livre manifestação, mas a priori eu acho difícil. Em alguma situação limite, eu não vejo problema.