Filho de pai negro analfabeto, a vida de Jivaldo Matos tem um episódio comum a uma infinidade de famílias brasileiras: veio do interior da Bahia com os pais e os 10 irmãos para tentar a sorte em São Paulo, na década de 60, quando ainda não passava dos cinco anos.
Em São Paulo, só os três filhos mais novos tiveram a oportunidade de estudar – e Jivaldo era um deles. Soube aproveitar a chance. Passou a vida escolar toda na rede pública e, depois de formado, não conseguiu entrar para o curso de Engenharia da USP. Foi estudar Química numa faculdade particular, bancado pelo crédito educativo (programa do governo que financiava os estudos, a serem ressarcidos pelo aluno a partir de um ano depois da formatura). Conciliou estudos com trabalho – foi operador de laboratório e, mais tarde, auxiliar de ensino em outra faculdade privada.
Depois de formado, Jivaldo foi promovido a professor e passou a lecionar também na rede pública, sem abandonar os estudos. Na década de 80, veio fazer mestrado e doutorado na USP e, como projetava sua carreira docente na pesquisa, começou a prestar concursos. Lecionou na Unesp por dois anos, até ser selecionado para o corpo docente do Instituto de Química da USP. Hoje, além de professor, é coordenador de um laboratório de pesquisa e orientador de pós-graduandos. Já formou 30 mestres e doutores.
O professor Jivaldo é mulato e nordestino. Prato cheio para a discriminação. No entanto, nunca se deixou abater pelo preconceito – que, em seu caso, ele considera ser velado. Nunca foi discriminado, “mas a gente sabe que o preconceito existe”. Para ele, que sonhava estudar Química desde os 12 ou 13 anos, o lema é: “o que mais vale a pena é o nosso objetivo de vida”.