Estudantes, funcionários e professores se revoltam com falta de diálogo e com o que chamaram de “ação truculenta” da Reitoria
A Força Tática da Polícia Militar, comandada pelo tenente- coronel Claudio Longo, entrou na USP na madrugada de segunda-feira (1). A ação, determinada por liminar, é a primeira em 30 anos, quando a polícia invadiu a universidade para dispersar a primeira greve de funcionários durante a ditadura militar. “Nós já vimos isso antes”, afirma Magno de Carvalho, um dos diretores do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), “quando tivemos a coragem de fazer uma greve em plena ditadura”.
“Essa ação visa acabar com a greve e impor a política da atual reitora pela violência”, afirma Gabriel Casoni, diretor do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da USP. De acordo com o tenente coronel Longo, o ato é totalmente democrático, já que está balizado por uma ação judicial expedida pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Na liminar, a juíza Maria Fernanda de Toledo Rodovalho diz que a universidade busca “providência judicial que garanta o acesso de seus servidores e do público em geral aos prédios ocupados por grevistas”. Contudo, consta no documento que o intuito não é impedir a manifestação. “O direito de greve é garantido na Carta da República. No entanto, nem mesmo o direito de greve dá aos grevistas o direito de se apossar de prédios públicos. (…) A USP tem o legítimo interesse de ver-se reintegrada na posse dos locais ocupados”.
A assessoria da Reitoria, porém, afirma que a ação foi tomada para “não haver piquete novamente”. Para o Sintusp, essa é uma clara tentativa da Reitoria de fechar todos os canais de comunicação.
Na quarta-feira (3), uma comissão composta por membros do DCE e do Sintusp, professores e o deputado estadual Carlos Gianazzi (PSOL) foi convocada pela reitora para negociação. Mas a decisão deles foi a de entrar no prédio apenas para negociar a retirada da polícia de dentro do campus, que esteve presente na segunda e na quarta-feira. O pedido não foi concedido.
Para o Fórum das Seis (organização que reúne as entidades representativas de estudantes, professores e funcionários das três universidades estaduais de São Paulo), não há nenhuma possibilidade de negociação com o Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo (Cruesp) enquanto a polícia permanecer no campus. A reitora Suely Vilela disse para os funcionários que os piquetes são uma forma de coerção com os funcionários que não aderiram a greve e que a Força Tática pretende inibir essas práticas.
Segundo Magno, os piquetes foram votados nas assembléias dos prédios. “Essa é a única forma de não permitir que os funcionários sejam pressionados pela alta cúpula a voltar ao trabalho”, diz ele. De acordo com o sindicalista, os funcionários temem ser perseguidos pessoalmente caso não tenham o piquete como proteção.
O deputado Gianazzi afirma que a ação “representa um retrocesso de 40 anos em nossa história”. “O piquete é algo totalmente legítimo e legal, porque faz parte da organização sindical. Essa é uma greve como todas as outras de outros trabalhadores”, disse. “Não faz sentido chamar a PM para fazer reintegração de posse se não está tendo invasão ou ocupação”.
De reunião a ocupação
Na semana anterior, Cruesp e Fórum das Seis marcaram uma rodada de negociações para segunda-feira (25). Na ocasião, um ato foi feito em frente a Reitoria, com estudantes, professores e funcionários das três universidades estaduais. No momento da entrada dos representantes, Brandão foi impedido de entrar.
“Eles não permitiram que os dois estudantes de cada DCE participassem, eles queriam um só”, explica Magno de Carvalho, do Sintusp. Nesse momento, um grupo de estudantes forçou as portas dos fundos do prédio, quebrando- as. Para eles, era necessária uma ocupação até que permitissem que todos os representantes entrassem para negociar.
De acordo com o Fórum, naquele momento o Cruesp desmarcou a negociação, alegando que não haveria condições para tal com os “atos violentos”. Em nota, os reitores alegaram que o Fórum das Seis não compareceu a negociação. “A própria nota se contradiz”, diz Magno. “Eles alegam que o Fórum não compareceu, mas também dizem que fomos nós que quebramos as portas e entramos”. Após assebléia, os estudantes decidiram não ocupar a Reitoria, e saíram no mesmo dia. A Reitoria afirma que o prejuízo pelo ato foi de R$10 mil.