A construção ou reforma de estádios para a Copa do Mundo de 2014 pode trazer prejuízo financeiro após a competição, apontam especialistas. Eles vêem com ressalvas algumas das 12 arenas selecionadas e defendem a elaboração de um planejamento de uso para os estádios depois do torneio.
“É muito mais do que construir estádios, deveria haver um plano de sustentabilidade para as arenas”, opina Michel Fauze Mattar, pesquisador da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) e diretor de marketing do Grêmio Barueri. Para ele, os estádios não devem ser focados apenas na competição, pois apesar de ser um acontecimento global, “a Copa do Mundo é um evento pontual, que acontece durante duas ou três semanas”, diz o pesquisador. E completa que “depois a gente fica aqui com essa estrutura, que pode ser positiva ou um ônus”.
A professora da EEFE, Flávia da Cunha Bastos, especialista em marketing e administração esportiva, concorda com Mattar. “Do ponto de vista da gestão esportiva, quando se inicia uma ação, você tem que ter um plano”, resume, pois na falta de um planejamento adequando sobram “estruturas caríssimas para se manter, que não tem uso”. Como exemplo cita algumas estruturas do Pan-Americano de 2008 no Rio de Janeiro, que continuam sem uma definição até hoje.
Flávia defende que um dos meios de se evitar problemas é construir estádios menores, que atendam os requisitos da Fifa, mas que sejam coerentes com o uso posterior. Ela aponta ainda que o planejamento deve buscar as características locais de cada sede, estabelecendo um perfil da cidade, do consumidor e do espetáculo que este quer ver. “Passa pelo processo de se planejar e entender o que é, pela localização, pela oferta de serviço, pela oferta de produto, pela manutenção, por tudo”, resume Mattar.
Uma vez que o planejamento esteja feito, os dois especialistas concordam que a Copa pode trazer benefícios para a infra-estrutura das cidades. Para Mattar áreas como transporte, segurança e telecomunicações precisam ser melhoradas para que o evento se realize e por isso devem receber investimentos. “Só é triste que isso aconteça motivado por um grande evento, deveria ser algo inerente a administração pública”, lamenta.
“Há um comprometimento internacional de que a cidade vai se preparar para receber o evento”, diz Flávia. Isso, defende, garante que as melhorias aconteçam independente de disputas políticas e mudanças de governo. Ela acredita também que o torneio traga benefícios para o futebol brasileiro. “Espero que a gente aprenda a entender o futebol como espetáculo, porque a Copa do Mundo é tratada dessa forma, como um evento e um negócio”. A previsão inicial do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco) é de que seja investido R$ 50 bilhões na organização do evento, segundo o site especializado Máquina do Esporte. Assim, espera ela, o torneio pode servir para educar o torcedor, fazendo com que ele entenda que ir a um jogo “é como ir ver um balé no municipal, se não gostou do bailarino não pode ficar jogando cadeiras”.