O ensino superior à distância foi um dos temas discutidos entre os candidatos à reitoria nos debates realizados no dia 17 no ICB (Instituto de Ciências Biológicas) e na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) e gerou pontos de conflito.
O professor Glaucius Oliva, diretor do Instituto de Física de São Carlos, foi um dos maiores defensores desse tipo de aprendizagem. “Um aluno que tenha a habilidade de transitar pelas mídias da Internet e que acabe encontrando, nas fontes que ali identifica, grande parte do seu conhecimento; que é excepcional em lidar com informação e construir conhecimento; que faz as provas e tira 10; esse aluno pode ser reprovado por não ter 75% de presença em classe, mesmo comparecendo parcialmente às aulas para falar com o professor. Agora, aquele aluno que dormia no fundo da sala, que conversava com o vizinho, antes da prova estudava um pouco e, durante, dava uma olhadinha na do colega ao lado e tira 5, esse não é reprovado”.
Ele citou ainda a necessidade de haver, para todo curso presencial, uma página na Internet em que se possa ter acesso ao material de ensino e que facilite o contato entre aluno e professor.
Sylvio Sawaya, diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, foi enfático na defesa desse ensino. “Temos grandes progressos na comunicação digital e negar a Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo) é tapar o sol com peneira. É negar uma proposta importantíssima”. A Univesp é o programa de ensino à distância do governo estadual. O professor foi além e tocou num dos pontos mais polêmicos da questão. “Nós não podemos nos basear na idéia de que o diploma USP tem que ser exclusivo. A USP é de todo mundo, quanto mais melhor”.
Ruy Altafim, pró-reitor de Cultura e Extensão, no entanto, mostrou-se contrário nesse quesito, apesar de mostrar-se favorável ao ensino não presencial. “O aluno deve ser Univesp e não com um diploma USP”. Ele ainda reiterou que o processo não pode afetar a excelência e a autonomia da universidade, sendo endossado por todos os presentes.
A diretora da Faculdade de Educação, Sônia Penin, citou a necessidade de democratização da educação. “Estamos no olho do furacão de uma revolução digital sem precedentes. Devemos utilizar essa revolução a favor do desenvolvimento sustentável, da melhor qualidade de vida, do aumento do conhecimento para toda a população. Só 12% dos jovens entre 18 e 24 anos estão na Universidade no Brasil. Devemos aumentar o acesso à Universidade”.
A professora foi acompanhada por Wanderley Messias, coordenador da Coordenadoria de Comunicação Social, que defendeu o ensino à distância como forma de dar acesso ao estudante carente que mora longe da universidade. Mas ele ressaltou que o processo não deve ser acelerado e deve haver discussão. “A USP é conservadora no bom sentido. Aqui se discute mais”.
João Grandino Rodas, diretor da São Francisco, mostrou-se a favor da Univesp, mas fez ressalvas. “O aluno brasileiro ainda não tem a prontidão pedagógica para utilizar mais amplamente esses métodos modernos. O ensino à distância precisa de uma série de coisas que virão no futuro, não podemos julgar agora”. Ele também citou a necessidade de dar continuidade à digitalização dos livros das bibliotecas.
Armando Corbani, pró-reitor de pós-graduação, apesar de ser favorável ao ensino à distância, fez ressalvas. “Nunca se substitui a forma presencial de ensino. Deve ser uma forma complementar”. E falou ainda de transformações na educação. “Não só no ensino à distância, mas a utilização de toda a tecnologia disponível deve ser colocada como grande suporte para se criar um novo paradigma educacional”.
Já Francisco Miraglia, professor do Instituto de Matemática e Estatística, foi o único presente que se mostrou totalmente contra. “Eu considero o ensino presencial, para a formação inicial do estudante, como absolutamente fundamental. A convivência com os colegas, o acesso às bibliotecas e aos professores e a permanência estudantil são patrimônio da formação da pessoa”.
Ele, no entanto, admitiu que pode haver adoção do ensino à distância caso, após discussões, haja maioria a favor disso. “Eu não sou candidato a imperador da USP. Essa é a minha opinião apenas. Talvez ela acabe minoritária nas amplas discussões que devem ser promovidas. Nesse caso, a posição majoritária deverá comparecer. Mas a discussão deve ser mais aprofundada, levando em conta os diversos aspectos da formação acadêmica”.