Entrevista com João Grandino Rodas
JC: A USP tem um peso enorme nacionalmente e, como universidade pública, tem uma função social e política. Os últimos reitores têm se abstido do debate político…
Rodas: Creio que a questão é relacionada à participação da USP em políticas públicas do Estado, que é uma obrigação da universidade. Nesse sentido, se olharmos hoje, veremos que das três universidades públicas (de São Paulo) a que menos participa das políticas públicas é a USP. A universidade precisa participar e isso não significa que ela entregue sua autonomia. O Estado não pode vir aqui e dizer “você vai fazer isso” e ela vai e faz. O Estado diz, “nessa área nós temos essas problemáticas, gostaríamos que fosse feito algo e sugerimos esse caminho”. A universidade olha e diz “dentro desse caminho, nós sugerimos que seja assim, assim e assim. E aí nós participaremos”.
Isso não fere a autonomia, é uma obrigação e um aprendizado para todos os alunos de todas as áreas, desde energia até arte, pois eles vão participar da vida da coisa prática. Não que a universidade precise ser prática, ela precisa ser teórica, voltada a aspectos não absolutamente pragmáticos, mas, por outro lado, ela também precisa ter seu contingente, nem que seja parcial, de pé no chão através das políticas públicas.
JC: A Univesp encaixa-se nessa independência? Qual a sua opinião sobre o ensino à distância em geral?
Rodas: Sim, por isso precisamos dizer “eu até participo, mas as minhas regras básicas são essas”. Ensino à distância não existe e nem pode existir. Nós não estamos preparados para isso. Não temos a preparação pedagógica nem a prontidão psicológica. O que nós falamos é do ensino semi-presencial, que, aliás, é o ensino de hoje. Absolutamente presencial só na Idade Média, no começo da universidade, quando só havia um pergaminho do livro, aberto e lido pelo professor em sala de aula. Hoje, se um professor quer partir do zero, faz errado. Essas informações precisam já ser pedidas para os alunos. “Leia de X a Y e vamos discutir. Não vou contar a historinha para você”.
A problemática dentro da universidade seria a utilização no ensino dos meios modernos de tecnologia. Precisamos começar a tentar utilizá-los de forma maciça no ensino presencial, é algo que já está acontecendo no mundo inteiro, a USP não pode fugir. O que ela deve fazer é regulamentar, “Nosso mínimo é esse”. Ela precisa ponderar quais são os parâmetros mínimos que ela aceita para o ensino semi-presencial, tanto para usá-lo diretamente quanto para participar de outro, dentre os quais a Univesp.
JC: A atual gestão se vangloria bastante de sua atuação na área da inclusão. Qual a sua visão sobre a questão?
Rodas: Acho que foi positivo sim. O Inclusp tem um benefício que, por um lado, não anula o mérito acadêmico e, por outro, dá ajuda para aqueles que não tiveram um ensino médio razoável. O que a USP precisa fazer urgentemente é discutir a questão, ela está devendo isso. Existem vários meios. Uns falam em cotas. Elas podem ser por cor de pele, por questão sócio-econômica etc. O que vai acontecer eu não sei. Nossa obrigação é discutir, “Inclusp mais turbinado? Cotas?”, e verificar qual caminho devemos seguir. Assim, as partes todas não poderão dizer “Olha, vocês são uma das poucas universidades que não fizeram isso”.