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Projeto estimula maior empenho do professor – entrevista com Telma Zorn
Bonificação não se traduz em qualidade – entrevista com João Zanetic
Projeto estimula maior empenho do professor
Telma Zorn, pró-reitora de Graduação
Jornal do Campus: Como a bonificação pode melhorar a qualidade da graduação?
Telma Zorn: O “singelo” reconhecimento do aluno ao receber a oferta de uma boa aula já compensa. A maioria dos alunos, entretanto, não declara este conhecimento. Igualmente recompensador seria a menção das disciplinas melhor avaliadas. Um docente que vê seu empenho reconhecido, sentir-se-á mais motivado para se dedicar ao aprimoramento de suas disciplinas.
JC: A senhora acredita que a graduação é pouco valorizada na Universidade? Por quê?
Telma Zorn: Ela poderia ser mais valorizada, porque ainda não encontramos uma maneira satisfatória de medir sua qualidade. A qualidade da graduação não pode simplesmente ser medida pela quantidade de aulas e mesmo a pontuação dada às atividades didáticas são subvalorizadas. Assim a universidade precisa melhorar as condições de ensino, inclusive aquelas da estrutura física.
JC: Qual seria o motivo pelo qual os professores privilegiam a pesquisa ao ensino?
Telma Zorn: Por razões quais sejam: maior visibilidade e recompensa oferecida pela pesquisa. O que acredito que deva ser feito neste momento é não pensar “pesquisa versus graduação” e, sim, pesquisa para uma melhor graduação. Pensar que tão importante como criar um conhecimento novo é formar um profissional competente cientificamente, um cidadão responsável e comprometido com o desenvolvimento social e econômico de nosso país. No momento em que todos adquirirem a dimensão da importância desta atividade, creio que a graduação terá seu lugar privilegiado na universidade.
JC: A premiação por dinheiro ou viagens acadêmicas seria a melhor forma de reconhecer os melhores docentes?
Telma Zorn: Viagens acadêmicas são aquelas destinadas ao aperfeiçoamento. O processo de avaliação ainda não está consolidado. Sei que é uma questão polêmica. Concordo que “todos devem fazer bem suas atividades”. Esta é a expectativa que a USP tem. Mas não podemos ignorar as diferenças, muitas vezes profundas, que de fato existem, embora não devessem existir em uma universidade de padrão mundial como é a USP. Prêmios não quebram a isonomia. Todos podem recebê-los por mérito, isso é um processo normal e inerente da academia.
JC: Do seu ponto de vista, de que maneira as premiações podem resolver os principais problemas da graduação? Não existiriam outras questões a serem priorizadas?
Telma Zorn: Há de fato muito o que melhorar no ensino de graduação e iremos empreender todos os esforços para corrigir os desvios apontados pela comunidade universitária. A premiação não é a essência do meu projeto, mas poderá vir a ser concretizada quando tivermos instalado um sistema de avaliação consistente.
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Bonificação não se traduz em qualidade
João Zanetic, presidente da Adusp
Jornal do Campus: Qual a posição da Adusp frente à possibilidade de bonificação dos docentes?
João Zanetic: Nós somos contra qualquer tipo de prêmio, de quebra de isonomia salarial entre os docentes. É claro que há diferenças, mas se todos são empregados da mesma universidade, eles têm que ter o mesmo salário. Isso não significa que nós não tenhamos preocupação com o fato de que haja um privilégio das atividades de pesquisa face às de ensino. Nós acreditamos que as atividades de ensino têm que ser prestigiadas também, mas não no formato de prêmios. E no caso do ensino, em particular, ouvir os estudantes é muito importante. A Pró-Reitoria de Graduação tem também que seguir como anda o ensino, já que infelizmente o “publique ou morra” é o que predomina. É uma forma de termos noção se aquela unidade está oferecendo um ensino de graduação de qualidade. Mas é uma avaliação institucional, não é destacar um docente. São coisas que têm que ser trabalhadas, não premiadas e nunca castigadas.
JC: Se a premiação vier a ser aprovada, quais seriam os possíveis efeitos?
João Zanetic: Isso pode estimular o produtivismo. Nós queremos a produtividade, a qualidade, não a contagem, que é o que acaba muitas vezes resultando dessas medidas.
JC: Seriam as viagens acadêmicas e as bonificações as melhores formas de premiação?
João Zanetic: A única premiação que diz respeito ao ensino são as homenagens que os alunos fazem, como na colação de grau. É uma homenagem espontânea. Agora essas premiações são nocivas para o ato acadêmico. Isso é uma forma empresarial de tratar a questão educacional.
JC: O senhor concorda que a graduação é pouco valorizada?
João Zanetic: Isso é verdade. Mas há outros instrumentos de valorização. Na última avaliação da universidade, a Suely Vilela [antiga reitora] falou dos rankings, que levam em consideração a publicação de artigos. Para nós, a universidade é muito mais. Ela tem que formar os recursos humanos para o país e para cada um de nós, que queremos ser bem informados enquanto cidadãos. Para isso, ela tem que tratar de forma isonômica os três elementos constitutivos [ensino, pesquisa e extensão].
JC: Por que o senhor acredita que a pesquisa é mais valorizada pelos docentes? Tem relação com o produtivismo, como mencionado?
João Zanetic: Essa é a crítica que fazemos. É essa a ênfase: a quantidade. Em algumas áreas, você tem um número mínimo de artigos. A CNPq tem a bolsa de produtividade docente. Não é bolsa de qualidade, é bolsa de produtividade. Não é por aí que a gente avalia aula, nem pesquisa. Por exemplo, já que falam tanto de valorização da graduação, hoje é comum eu dar aula para uma sala com mais de 90 alunos. Isso é um problema de graduação muito mais sério do que querer diferenciar docentes e premiá-los.