Cerca de 150 manifestantes trancaram na manhã de ontem (17) o portão 1 da Cidade Universitária, reivindicando o pagamento de salário dos funcionários em greve. O cordão humano formado por eles entre as 6h e 10h irritou passantes e dificultou o trânsito nos arredores da USP. Depois do ato, os funcionários fizeram uma assembleia em que decidiram propor 5% de aumento retroativo a fevereiro.
A assembleia também aprovou reinvindicar que os salários descontados sejam repostos, sejam retiradas as faltas de trabalhadores de Ribeirão Preto, além do compromisso assinado de nenhuma punição aos grevistas, nem a reposição de horas não trabalhadas. Além disso, aprovaram lutar pela manutenção da isonomia entre funcionários e professores da USP, Unesp e Unicamp. O Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) e a reitoria se reunirão segunda-feira, às 9 horas, em frente ao prédio da Fuvest.
A manifestação do dia 17 tinha funcionários, mas a maioria dos manifestantes era estudante da USP. Também havia estudantes da Unesp: “Lá em Marília, ocupamos a diretoria do campus e barramos a terceirização do restaurante universitário”, contou Daniel Bocalini, do Centro Acadêmico das Ciências Sociais da Unesp. “Apesar disso, viemos para cá porque a luta só termina quando os trabalhadores da USP tiverem os salários pagos”.
Perto das 8 horas, estudantes, funcionários e pessoas que usam os serviços do campus passaram a.chegar à portaria, mas foram barrados e orientados a entrar por outros portões – como a portaria da CPTM, onde se formaram filas. Muitos discutiram com os manifestantes e um homem que se identificou como funcionário da FFLCH disse ter levado um murro.
Um dos estudantes xingou e fez um gesto obsceno para os manifestantes e foi xingado devolta: “Seu viado, aqui não é parada gay!”.
Os manifestantes permitiram a entrada de alunos da escola de aplicação com seus responsáveis, grávidas e usuários do Hospital Universitário. O atleta para-olímpico Luciano Luna, cadeirante e membro da seleção brasileira de remo também pode entrar. O carro que o transportava foi barrado, o que chamou a atenção dos repórteres e levou os dirigentes do sindicato a liberar sua entrada.
“O principal direito reinvidicado aqui não é o de ir e vir, é o de existir”, disse pelo carro de som o diretor do sindicato Claudionor Brandão. Segundo ele, esse direito foi ameaçado pelo corte de ponto.
“Eu acho válida qualquer manifestação desde que não prejudique os estudantes. Você tem que andar uma distância absurda para entrar e ir até o Instituto de Química”, disse a estudante Priscila Branas.
“A manifestação é um m.!”, disse o estudante Miguel Calle. “Atrapalha a vida e trabalho da gente. Os funcionários têm estabilidade e se aproveitam disso”.
O bancário Eduardo Souza encara a manifestação com naturalidade: “Se fizessem passeata dentro da Cidade Universitária, acabaria não tendo muita influência. A manifestação aqui faz um auê, atrai a imprensa e apressa a negociação”. Ele teve que esperar alguns minutos para ir ao trabalho e aproveitou para assistir o jogo entre a Argentina e Coréia do Sul.
A greve e a manifestação prejudicam taxistas que trabalham no campus. “O movimento cai bastante, por que não tem visitantes na greve”, diz o taxista Reinaldo Gomes. “É horrível. Greve tudo bem, mas de uma forma pacífica. Eles atrapalham todo o trânsito”.