Encontrar um responsável por problemas ocorridos em obras licitadas é um ato de perseverança, pois a culpa vai passando de mão em mão feito uma quadrilha de versos. Se uma estação do metrô em construção desaba e mata pessoas, o poder público (que deveria ter fiscalizado a obra) diz que a culpa é da construtora (que deveria tê-la executado corretamente) que culpa o terreno – que não pode passar a batata quente adiante porque ele, simplesmente, não fala.
O padrão se repete em situações sem tragédia mas, nem por isso, menos importantes como o atraso na construção de um conjunto habitacional ou de um edifício em uma universidade. A matéria “Biblioteca das obras raras, das obras atrasadas” (aliás, título estranho) registrou as justificativas de órgão ligado à universidade responsável pelo local que vai receber o acervo do bibliófilo José Mindlin. Mas ficou por aí. Parou na culpa do “terreno”, quer dizer, da “formação rochosa”.
Como é que uma empresa que não tem condições estruturais e técnicas de cumprir o que prometeu ganha um edital? Ligar para as empresas envolvidas seria fundamental para esclarecer isso. A universidade tem sido capaz de fiscalizar de forma correta as obras que se propõe a contratar? Problemas são decorrência das regras feitas para não serem cumpridas ou de incapacidade técnica, incompetência e má fé? Esse atraso vai custar algo para o nosso bolso de contribuinte? Aliás, a matéria não trouxe o valor da obra. Nada sobre a transparência, que tanto falta à encastelada Universidade de São Paulo.
E a família Mindlin, que não foi ao menos consultada? Com esses problemas, a coleção corre o risco de ir para outro lugar mais preparado para recebê-la?
Vale lembrar que a função do jornal oficial da universidade é dar um ponto de vista. A do Jornal do Campus é dar todos. Isso faz parte do papel de fiscalização que cabe à imprensa.