Acima de qualquer suspeita

A acusação de que professores da FMUSP tenham utilizado indevidamente o espaço público e fornecido informações privilegiadas sobre a prova da Residência Médica alarma alunos e funcionários. E os cidadãos que financiam o ensino público também são personagens dessa história? Ou ela está restrita à “comunidade acadêmica” como se tivesse vida própria e nenhum comprometimento com a sociedade?

As reportagens do valoroso Jornal do Campus poderiam romper essa abordagem que restringe os assuntos ao triângulo alunos-funcionários-professores. Se as denúncias relevantes da reportagem se confirmarem com a investigação pelo Ministério Público, certamente haverá repercussão em toda a sociedade. Usar um espaço público para auferir vantagem, seja ela qual for, envolve questões legais, penais, éticas e cidadãs. O mantenedor da Universidade de São Paulo precisa ser ouvido neste e em outros assuntos onde ele está diretamente envolvido. Este jornal pode abrir as portas, não só para divulgar, mas envolver a sociedade civil em debates e discussões.

Fica aqui uma sugestão de pauta: como agem outras faculdades públicas de medicina com os seus alunos que almejam conseguir a residência médica? Há alguma preferência para os seus próprios alunos? É possível fazer uma estatística de quantos alunos matriculados na residência são oriundos da própria escola? Elas dão cursos mais “identificados” com o que vai ser pedido no processo de avaliação?

O reitor João Grandino Rodas não quis se pronunciar sobre a decisão da Faculdade de Direito de considerá-lo persona non grata. É uma decisão respeitável, ainda que lamentável para que a opinião pública possa acompanhar o que ocorre na Universidade. A reportagem tentou ouvir Rodas sem sucesso. Fica evidente a preocupação do repórter em mostrar o outro lado. A opinião do reitor deveria estar relatada nos primeiros parágrafos. A informação de sua recusa está no último parágrafo do texto. A última publicação coincide com a divulgação da The Economist que a USP é a única da América Latina citada no ranking Times Higher Education entre 200 universidades e também é a primeira da América Latina no Quacquarelli Symonds e,sobre este assunto, certamente o reitor se pronunciaria.

A propósito. o JC poderia abrir um debate, haja vista que o artigo também diz que essa melhoria se deve ao crescente financiamento privado e intercâmbio com instituições internacionais. Tem mais polêmica: o artigo ainda levanta a questão do financiamento exclusivamente estatal da universidade pública “onde os estudantes não pagam nada, os funcionários não podem ser demitidos, e o currículo é antiquado e politizado”.

Heródoto Barbeiro é jornalista e escritor. Atualmente é editor-chefe e apresentador do Jornal da Record News. Você, leitor, também pode contatar nosso ombudsman. Basta mandar um e-mail para herodoto.jc@gmail.com.