Unidades sem grande histórico de mobilização política discutem segurança, propostas e formas de atuação do movimento estudantil
Em média 3 mil estudantes participaram das últimas assembléias gerais realizadas na Universidade para discutir os rumos da greve segundo dados do DCE. Além disso, tem havido uma série de assembléias de curso pelo campus, promovendo debates até em unidades com menor histórico de participação em tais mobilizações.
Pedro Serrano, diretor do DCE, comenta: “Muitos cursos que não entraram em greve realizaram assembleias ou rodas de conversa bastante cheias, como IME, IO, IAG. São lugares onde não se costuma sequer ter discussão política e tudo isso [os recentes acontecimentos na USP] motivou uma discussão”.
Na Assembleia geral que ocorreu no vão da História no dia 8, via-se um cartaz com os dizeres: “Se até o IME (Instituto de Matemática e Estatística) está aqui, é porque a coisa tá feia”. O diretor do DCE e estudante do Instituto, Adrian Fuentes, um dos idealizadores do cartaz, explica que, apesar de a ocupação da reitoria não ter sido bem vista tanto pelo DCE como pela maioria das unidades, houve uma demanda para que o IME se organizasse, por conta da violência da desocupação. Ele ainda espera que o movimento estudantil se reforce e que o debate da PM seja superado, para que se possam discutir outros assuntos relevantes da Universidade.
Instituto de Física
Xavier Jr., representante discente do Centro Acadêmico do IF (Instituto de Física) acredita que o grande número pessoas presentes nas últimas assembléias da Física, cerca de 200 pessoas na que ocorreu no dia 11, se dê pelo fato de o tema ser bastante polêmico e haver muita demanda por informações e soluções.
Ele concorda com Adrian ao dizer que a discussão deve ter seu foco aberto: “Esta é uma oportunidade de nos organizarmos e nos rearticularmos. Na última assembleia da Física, por exemplo, além do debate em voga, os estudantes começaram a questionar os problemas locais do IF e a necessidade de nos mobilizarmos por eles”.
IAG
Os alunos do IAG (Instituto de Astronomia Geofísica e Ciências Atmosféricas) decidiram em plebiscito não aderir à greve, mas mobilizar-se de outras maneiras em torno de eixos, por meio da adoção do plano de segurança que envolve maior iluminação do Campus e periodicidade do ônibus circular. A decisão foi tomada após duas assembléias, das quais participaram cerca de 50 dos 320 alunos do instituto. “Nós sempre discutimos pelos corredores e coloquialmente essas questões. Agora, vimos a necessidade de fazer algo mais organizado”, explica Murilo Bellini, delegado do comando de greve do IAG.
Murilo, no entanto, acha que a participação foi menor do que a ideal. Para ele, essa menor mobilização tem raiz na natureza dos cursos oferecidos no instituto e na falta de tempo dos alunos. “Não é todo mundo que pode ficar três, quatro horas numa Assembléia”, comenta.
Poli
O estudante Gustavo Lopes, do primeiro ano de Engenharia de Produção na Poli, acha essa mobilização importante, mas acredita que na Escola Politécnica ainda há muito a se fazer para que possamos falar em uma tomada de consciência política.
“A maioria das pessoas continua a ir às aulas e pronto. O ambiente recente propiciou uma mudança na Poli, embora bem menor do que no passado e menos ainda que em outras unidades como a ECA e a FFLCH”, aponta.
Ele vê como problema o fato da Poli só se manifestar quando algum tema atinge proporções muito grandes, como é o caso da morte do estudante Felipe Ramos de Paiva, da FEA, estopim para a decisão da reitoria de permitir a presença ostensiva da PM no Campus, e a questão da reintegração de posse.
Ele acredita que a mobilização tende a diminuir nas próximas semanas. “Por estar em época de férias e na semana que vem ter provas, a tendência é minguar o movimento. Não sei se as pessoas continuarão mobilizadas depois das férias, espero que sim, mas acho difícil”.
Críticas
Apesar de análises positivas, há quem acredite que as assembléias, da maneira como são conduzidas, não são a melhor maneira de tomar decisões na Universidade.
Para uma estudante da FAU, que não quis se identificar por medo de sofrer perseguição dentro de sua faculdade, “as assembleias, que deveriam ser democráticas, tornaram-se um meio de coerção”. Ela relata: “Na assembleia geral da FAU, um colega meu queria se pronunciar contra a greve, mas a pessoa que defendeu essa posição antes dele foi tão hostilizada que ele acabou desistindo”.
Além disso ela ainda critica a duração das assembleias que afastam os alunos que trabalham e aqueles que tem cursos integrais.
Murilo Bellini, do IAG, acredita que isso ocorra por conta da forma como elas ocorrem. “O modelo que nós adotamos aqui de plebiscito após os debates é algo que deveria ser adotado pelo DCE e pelo movimento estudantil em geral. Não dá para estar no século XXI e ainda fazer votação por contraste. As discussões das assembléias também poderiam ser feitas através das redes sociais, para que mais pessoas pudessem se manifestar num espaço em que não há a limitação de tempo que uma assembleia presencial costuma ter”.
Já Gustavo Lopes, da Poli, não concorda com esse método. “Votar por plebiscito possibilita que pessoas que não participaram dos debates venham e votem, alterando o resultado de uma decisão tomada por pessoas que estavam mais engajadas e mais envolvidas com tudo o que foi discutido”.