Nota se torna mais importante do que opção de carreira com a permissão de que candidatos com melhor desempenho preencham vagas remanescentes
A reescolha da Fuvest 2012 tem como objetivo dar mais chances para que os alunos com maiores notas consigam uma vaga na USP. A mudança permite que o candidato, a partir da 4ª chamada, tente ingressar em um curso diferente daquele no qual ele se inscreveu. Além disso, a nota mínima da primeira fase da fuvest passou de 22 para 27 pontos e um menor número de candidatos foi chamado para a segunda fase. As críticas à mudança giram em torno da possibilidade de aumento da evasão e da elitização da Universidade.
A Pró-Reitora de Graduação, Telma Maria Tenório, explica que a reescolha surgiu do temor de que o número de vagas ociosas na Universidade aumentasse, dadas as modificações mais restritivas feitas na Fuvest de 2012. Ainda assim, a Pró-Reitora afirma que aceitou “o desafio de garantir a qualidade com uma nota maior, correndo o risco de deixar mais vagas ociosas – até porque essas vagas depois vão para o processo de transferência, elas não somem”.
Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação (FE), critica esse ponto de vista. “Ela afirma defender a qualidade, mas o que é qualidade? Qualidade para mim é democracia, justiça. Mudar a composição social da universidade, isso é democracia”, declara. Para ele, a USP é uma universidade elitista, pois quer “formar uma elite a partir da elite, de um grupo que já passou por um processo de diferenciação social”.
Sobre o processo de elitização da USP, a pró-reitora reforça que ações para incentivar a inclusão social, como o Programa de Avaliação Seriada da USP (Pasusp) e o Inclusp, já têm mostrado resultados: houve um aumento de 9,7% na participação de alunos da rede pública nas matrículas em 2012 ante 2011. Entretanto, Ocimar acredita que essas medidas são “tímidas e inócuas” para aumentar a inclusão. “No conhecimento medido na Fuvest pesa a condição socioeconômica dos alunos”, afirma.
Escolha da carreira
A pró-reitora acredita que a reescolha ajuda a “quebrar um pouco a rigidez da escolha [de carreira], que às vezes é muito precoce”. Para alguns estudantes, isso é considerado um ponto positivo da mudança. Diana Cao prestou Medicina, mas entrou em Direito. “Não chego a amar o curso como muitos da faculdade, mas sinto que fiz a escolha certa, pois é uma carreira que eu já considerei fazer antes de ‘descobrir’ que queria Medicina. Estar matriculada na São Francisco agora me permite conhecer o curso de fato e sanar minhas curiosidades e dúvidas a respeito dele”, declara.
Para Julia Vanucchi, caloura de Publicidade e Propaganda, a reescolha também foi positiva, apesar de ela não ter conseguido ingressar em Arquitetura, sua primeira opção. “Foi bom entrar e experimentar o curso, nem que seja para acabar com as minhas dúvidas quanto à carreira”, comenta.
No entanto, tanto Diana quanto Julia contam que vão conciliar as aulas na faculdade com as do cursinho, já que não desistiram da primeira opção. Um provável aumento da evasão dos alunos é algo que foi muito discutido antes da aprovação da reescolha, mas é um risco que a pró-reitoria aceitou correr: “Pode ser que só se tenha segurado uma vaga dentro da Universidade, pode ser que não. Agora cabe ao curso conquistar o aluno”.
“Muitos jovens desistem da USP, porque hoje em dia eles tem que tomar decisões muito cedo, que afetam toda a sua vida”, afirma Ocimar Alavarse. Para ele, e desistência por parte dos alunos é um problema que ocorre independentemente do novo sistema de ingresso. “O problema [da reescolha] é que ela transforma em ponto central o ingresso na faculdade, não o curso escolhido”, critica.
Monitoramento
O número de vagas remanescentes após a 4ª lista, a primeira com o processo de reescolha, surpreendeu: 338. Por isso, foi aberta uma nova etapa da reescolha, que não estava prevista. Ainda assim, sobraram 184 vagas na USP, 18 a mais que em 2011. O assessor da Pró-Reitoria de Graduação, Mauro Bertotti, ressalta que o número de vagas oferecidas também aumentou, de 10.652 em 2011 para 10.852 em 2012. Proporcionalmente, a quantidade de vagas remanescente continuou quase a mesma.
Telma assume o compromisso de monitorar os efeitos da reescolha. “É nossa obrigação acompanhar esses alunos. Nós já estamos trabalhando para saber qual era a primeira opção de curso de cada um”. Segundo ela, a evasão ocorre predominantemente no primeiro ano de faculdade e no primeiro semestre. Portanto, um estudo dos primeiros seis meses deste ano já poderia traçar um quadro inicial das consequencias da mudança.
Cursos de baixa demanda
Telma afirma que, na grande maioria dos cursos, sobraram poucas vagas. Uma das exceções é a Gerontologia, que encerrou o período de matrícula com 14 vagas remanescentes. Isso ocorreu porque, apesar de aceitar o processo de reescolha, o curso optou por receber apenas candidados que já haviam escolhido Gerontologia desde o início.“A reescolha desse curso era o próprio curso. Só que não havia mais gente para chamar”, conta Mauro.
A coordenadora do curso de Gerontologia, Mônica Yassuda, explica que a decisão de não aceitar candidatos de outros cursos foi tomada a fim de priorizar a vocação para o trabalho com pessoas idosas. “[Se houvesse a liberação para outras áreas na reescolha], os estudantes com nota maior do que os que tinham prestado Gerontologia pegariam as vagas, nós não imaginávamos que não teríamos lista de espera”, declara.
Mônica reconhece que houve um erro de avaliação. “Nos próximos anos talvez a gente aceite alunos de áreas relacionadas, como psicologia, enfermagem (…) afinal, Gerontologia é uma área interdisciplinar, nós temos docentes de várias áreas”, diz.
Em contrapartida, alguns cursos de baixa demanda foram beneficiados com o processo de seleção. É o caso de Ciências da Natureza. “Desde que foi criado, o curso só preenchia 60 das 120 vagas, pois não tinha mais candidato para chamar. Nesse ano, sobraram apenas 15 vagas. Para esse curso, foi vantajoso”, afirma Telma.