A 17ª Semana de Arte e Cultura reuniu debates e expressões artísticas de uspianos e convidados focando na revitalização do espaço universitário
“Uma grande universidade carece de cultura e humanidades vivas” afirmou a socióloga e pró-reitora de Cultura e Extensão da USP, Maria Arminda do Nascimento Arruda, ao fechar o debate “Cultura a partir da Universidade”, último de uma série de debates e seminários realizados no Paço das Artes por
ocasião da Semana de Arte e Cultura da USP. Esta aconteceu entre os
dias 15 e 23 de setembro em todos os campi da Universidade, trazendo
debates, oficinas e produções da comunidade uspiana e de fora.
No encerramento, a discussão se centrou na relação entre a Universidade
e a produção de cultura. Para o sociólogo Ruy Braga, professor da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH), a produção cultural brasileira vive um processo de transição de um regime “estatista”, no qual é o Estado que media a produção de cultura, para um regime “pós-estatista”. Isso se deu após o regime militar, com a democratização, inserindo novamente a universidade no diálogo com as manifestações artístico-culturais da sociedade. Sérgio Mamberti, diretor da Secretaria de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, apontou a reaproximação, a partir do governo Lula, entre os ministérios da Cultura (MinC) e da Educação (MEC), que estavam desvinculados desde 1985, como uma das razões que possibilitaram que a universidade voltasse a “filtrar as relações entre arte, cultura e sociedade”.
Apesar do consenso sobre a importância da cultura na universidade, Irley Machado, diretora de Cultura da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), lembrou que os orçamentos das instituições destinam verbas menores às pró-reitorias de Cultura e Extensão. Irley ainda problematizou o fato da cultura
estar atrelada à extensão. “A cultura é o quarto elemento da universidade
pública, juntamente com o tripé ‘ensino-pesquisa-extensão’”, completou.
Ecoando a preocupação pelo investimento na extensão apresentado no debate, Juliana Maria Costa, Diretora da Divisão de Ação Cultural da Pró-reitoria de Cultura e Extensão da USP, enfatizou, em entrevista ao Jornal do Campus, a importância da participação de representantes de agências de fomento, as quais não investem em projetos de cultura e extensão. “O evento mostra a produção artístico-cultural da Universidade e discute forma de apoio, de fomento, para estas ações. Participam dessas mesas BNDES, Fapesp, agencias que podem fomentar essas atividades, podem garantir bolsas. É um pouco isso que essa Semana procurou trazer. Essas pessoas foram assistir a algumas dessas manifestações artísticas e puderam perceber qualidade. Ver o que está sendo produzido nas universidades brasileiras e, quem sabe, ter um outro olhar”, comenta.
Juliana afirma que a intenção principal do evento é a de revitalizar espaços que antes estavam desativados, apresentado a produção artístico-cultural da Universidade. “Essa semana tem todo um conceito, que é o espírito de preservação, de revitalização e de conservação desses espaços”, completa. Tal preocupação estava presente também nas considerações finais de Maria Arminda, pró-reitora de Cultura e Extensão da USP, no fechamento do evento. Ela destacou que, apesar de seu imenso acervo artístico-cultural, a infraestrutura da USP deixa a desejar, o que resulta na necessidade da reforma e construção de museus e da Biblioteca Brasiliana.
“Nós temos um espaço na USP que é muito raro, com árvores e grandes espaços abertos. É um lugar bonito, mas que não utilizamos”, é isso que pensa a professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA), Sumaya Mattar, responsável pela “Tenda do pôr-do-sol”, ateliê ao ar livre organizado durante o evento na Praça do Pôr-do-Sol. Para a professora, “alunos e funcionários precisam de um lugar de encontro,e se a arte puder propiciar isso, é algo fantástico”. Essa é a proposta da tenda, que pretende mostrar a passagem das estações e o começo da primavera.
O projeto se baseia em três oficinas simultâneas, a Ciranda dos Girassóis, Os Ovos da Fertilidade, e Pipa (Poesia, Imaginação, Prazer e Arte). Sumaya diz que o objetivo é que, nas oficinas, as pessoas tenham algum tipo de formulação poética, ainda que não cheguem a uma resposta, pois “o próprio fazer é a atividade poética”, diz. Na ciranda dos girassóis há duas atividades: pintar os vasos, com os quais ser fará uma ciranda, e plantar sementes. Caio, da Gestão Ambiental, explica a oficina de pipas: “Vamos aprender a fazer pipas e soltar mensagens. O que você quer soltar ao vento nessa primavera?”. No hemisfério norte a primavera é em março, daí vem a Páscoa e o ritual de enfeitar ovos, de onde surgiu o projeto da terceira oficina. “Pensamos nessa ideia das pessoas pegarem os sonhos, colocarem dentro dos ovos e prepará-los”, conta Renato França, aluno de Artes Visuais.