Reitoria falta a ato pela Comissão da Verdade na USP

Objetivo era entregar abaixo-assinado que reivindica que crimes da ditadura militar cometidos envolvendo a Universidade sejam apurados 

Cadeira reservada para Reitor ficou vazia (foto: Renata Garcia)

Aproximadamente cem cadeiras reservadas vazias. Essa foi a resposta da Reitoria e do Conselho Universitário (C.O.) da USP ao convite para Ato de Entrega do Abaixo-Assinado, realizado no último dia 7 de novembro pelo Fórum pela Democratização da USP.

Lançada em junho de 2012 no Auditório da FEA, a campanha Por uma Comissão da Verdade da USP reuniu mais de 4 mil assinaturas que requerem a constituição e instalação de uma comissão destinada a examinar e esclarecer as violações de direitos humanos, ocorridas durante a ditadura entre 31 de março de 1964 e 15 de março de 1985.

Convidados para o ato, todos os membros do C.O. e a Reitoria, somente o professor Flávio Ulhoa Coelho do IME compareceu. Renato de Figueiredo do Instituto de Física, assim como o pró-reitor de pesquisa, justificaram suas ausências. Para Marilena Chauí, professora aposentada da FFLCH, é compreensível que o reitor João Grandino Rodas não tenha comparecido: “ [ele] pertence à extrema-direita, ao grupo conservador que produziu esses efeitos.”

Desde seu lançamento, a campanha realizou diversas atividades, entre debates, palestras e atos. Até agora, seu saldo inclui o fomento da aprovação de uma Comissão da Verdade na Faculdade de Direito (FD) no dia 27 de setembro, cuja proposta é investigar casos de perseguições, demissões, aposentadorias compulsórias, delações e outras formas de colaboração com o regime que envolvam pessoas vinculadas à faculdade.

Dos mortos e desaparecidos durante a ditadura militar, pelo menos 47 tinham vínculo com a USP. De acordo com o professor da FD, Fábio Konder Comparato, que não pode comparecer mas gravou um vídeo para ser exibido durante o evento, houve “uma coautoria criminosa, a USP colaborou com o autoritarismo, não devemos ter ilusões: enfrentaremos muitas dificuldades em fazer com que se aprove a comissão”. Marilena Chauí concorda: “A USP mandou seus talentos para organizar e montar a grande institucionalidade da ditadura.”

Edson Telles, professor de filosofia da Unifesp, destacou que, enquanto nas outras universidades do Brasil, atos semelhantes ao da campanha vieram de seus conselhos universitários, na USP, ele vem de estudantes, professores e funcionários. A Comissão Nacional da Verdade enviou uma moção de apoio à iniciativa e ainda propôs um convênio de coordenação entre as comissões.

Este, aliás, é um dos próximos passos que o Fórum deve tomar: fortalecer a articulação do movimento e, externamente, estreitar alianças com as Comissões Nacional, Estadual e Municipal da Verdade, assim como com os movimentos sociais que lutam por memória, verdade e justiça. Segundo o procurador da república, Sérgio Suiam, a campanha na USP se insere em um contexto nacional de “tentativa de responsabilizar penalmente aqueles que cometeram crimes na ditadura.” Atualmente, há cinco ações em andamento. “A impunidade de ontem é a violência de hoje” é uma das frases que norteiam a campanha.
Estiveram presentes ainda familiares de alguns dos uspianos mortos ou desaparecidos pelo regime ditatorial, que assinaram a uma lista exclusiva. De acordo com o coordenador do Fórum, Fabio Nóbrega Franco, as listas seriam protocoladas na reitoria no dia seguinte e, no dia 21 de novembro, representantes do Fórum e da Reitoria se reunirão para discutir a proposta. A campanha se ancora em um dos versos proferidos em homenagem a Alexandre Vannucchi Leme, um dos estudantes assassinados pelo DOI-Codi: “Eles não morreram. A verdade ainda sobrevive.”