Jornalistas reclamam de passar por muita burocracia para conseguir entrevistas. Assessoria argumenta que muitas pautas são repetidas
Devido a dificuldades vivenciadas por diversos repórteres do Jornal do Campus em contatar dirigentes da Universidade, e a grande burocratização desses contatos por parte da assessoria de imprensa, o JC resolveu ouvir jornalistas que passaram pelo processo.
Adriana Cruz, assessora de imprensa da USP afirma que foi adotado como padrão que as entrevistas com dirigentes da Universidade para veículos impressos sejam feitas por email, “para agilizar o atendimento e não prejudicar o deadline do veículo”, afirma ela. A assessora também aponta que as perguntas sempre são intermediadas pela assessoria. Em alguns casos são respondidas pela própria assessora.
Ana Carolina Moreno, jornalista do G1, fez recentemente uma entrevista com o reitor João Grandino Rodas. Ela conseguiu um furo de reportagem ao falar com o reitor: “minha entrevista não foi gendada, fui num evento para falar com quem conseguisse”. Ela considera a dificuldade de acesso ao reitor justificável perante o cargo que ele possui. Ao ver Rodas no evento, Ana Carolina resolveu abordá-lo com uma pergunta sobre a Fuvest, “ele me atendeu com muita simpatia e acabei conseguindo 13 minutos de entrevista”.
Carolina Oms, ex-aluna da ECA, relembra que em março de 2009, quando fazia o JC, conseguiu uma entrevista razoavelmente satisfatória. “Era um assunto que interessava eles, o Tribunal de Contas do Estado estava questionando as contratações da USP”, explica Carolina que reclama da burocracia existente no processo. A entrevista foi feita com uma consultora jurídica que prestava serviços para a Universidade. Ela comenta que a grande dificuldade da entrevista por email é a impossibilidade de se contestar as respostas.
Apesar de confirmar que as entrevistas com dirigentes têm sido feitas apenas por email, Adriana defende que o processo não é engessado: “dúvidas podem ser esclarecidas pessoalmente e, em alguns casos, a entrevista também”.
Em maio deste ano, Mariana Soares, antiga repórter do JC, conseguiu uma entrevista com o superintendente de segurança Luiz de Castro Junior: “foram três semanas desde o primeiro contato com a assessoria até conseguirmos a entrevista pessoalmente”, conta Mariana. Ela precisou enviar as perguntas para o Castro preparar-se antes da entrevista e, no dia em que se encontraram, foi acompanhada pela assessora. “Em alguns momentos ela interferia e não deixava o superintendente falar”, relembra a repórter.
A Adriana explica a situação específica do JC: “ o que tem ocorrido sistematicamente é a repetição de pautas e perguntas. Dessa forma, a assessoria tem reiterado respostas dadas em outras ocasiões”.
Ana Pinho, repórter do JC no segundo semestre de 2011, conseguiu uma entrevista com o reitor após tentativas ao longo do semestre inteiro. “A resposta era sempre que o reitor não estava se pronunciando sobre o assunto, até que um dia o Rodas apareceu no Fantástico, eu fiquei muito irritada”, completa a estudante.
Na última edição do JC do ano passado, foi feito um encarte especial sobre a greve. Ana fez nova tentativa. “Faltando duas semanas para o fechamento, eu enviei um email para a Adriana lembrando como o JC estava sendo lido naquele momento e que seria muito bom na edição especial termos um contraponto do reitor”. Adriana pediu que fossem enviadas as perguntas “com seus formatos. Foram colocadas várias ressalvas, entre elas que não poderíamos editar nenhuma das respostas dele”, conta Ana.
Renata Garcia, atual repórter do JC, na presente edição fez uma matéria sobre os terceirizados. Para obter informações, contatou Salvador Ferreira, procurador da USP. Ele concordou em ceder uma entrevista pessoalmente. Entretanto, ela precisaria falar com Adriana Cruz antes. “Ele afirmou que não tem permissão de falar em nome do gabinete sem a presença da assessora de imprensa, o que quer dizer que não basta o entrevistado ter horário livre, mas que a Adriana tenha ao mesmo tempo que ele”, explica a repórter do Jornal.