Por meio de articulação nas redes sociais, 70 estudantes reivinvidicaram democratização da USP e fim da burocracia
Uma manifestação de estudantes da Universidade interrompeu a inauguração da Tenda Cultural Ortega y Gasset, localizada na Praça do Relógio, no dia 28 de outubro. Pedindo a democratização da USP e a melhoria das políticas de inclusão, os manifestantes usaram o palco da Tenda para expor suas reivindicações. Após 1h30 de protestos, os alunos se retiraram e o evento continuou.
Cerca de 70 estudantes atenderam à convocação feita pelas redes sociais e se aglomeraram às 14h na entrada da Tenda, com tambores e faixas com os dizeres “abaixo o poder dos burocratas”. O movimento prosseguiu para o auditório e questionava o uso de “valores milionários” para a idealização do espaço.
Segundo Ana Luiza Borges, da produção da Tenda, os alunos receberam o convite de fazer uma fala durante a abertura, mas recusaram, alegando que a manifestação “era uma responsabilidade para com o grupo”.
Para Marcela Fleury, estudante do sexto semestre de Artes Visuais da ECA, a ideia de “desinaugurar” a Tenda surgiu porque “o evento é totalmente burocrático, louva os reitoráveis e não diz respeito aos alunos”. Ela defendeu: “somos mais de 80% da comunidade USP e temos o direito de intervir e participar de tudo, o que não tem acontecido há tempos”.
Críticas
A abertura do novo espaço cultural sediou o seminário internacional “Emancipações”, que trouxe professores da USP e de outras instituições de ensino para debater questões sobre inclusão e exclusão após os 125 anos da Lei Áurea. O tema do debate também foi alvo de críticas pelos manifestantes, especialmente depois da ameaça de destruição do Núcleo de Consciência Negra (NCN), ocorrida na quinta feira anterior à inauguração da Tenda.
Graças à mobilização dos membros do Núcleo e estudantes, o espaço, que poderia ter sua mobilidade prejudicada, não sofreu danos. Mesmo sediada no campus Butantã, a entidade sem fins lucrativos não recebe apoio institucional ou financeiro da USP.
Maria José Menezes, a Zezé, colaboradora do NCN, durante a manifestação, criticou a ausência de intelectuais negros entre os convidados do debate. “O que é essa abolição? O povo negro continua excluído, e essa é uma mazela do processo escravocrata, que é um fardo para nós”, alegou.
A crítica ainda se estendeu às dificuldades de acesso da população negra e pobre do país à universidade pública. Segundo Zezé, as instituições de ensino são muito fechadas e justificam a ausência de cotas por meio da meritocracia. Ela rebateu: “Não existe meritocracia quando não há igualdade no acesso”.
“Espaço de liberdade”
Apesar dos protestos, a Pró-Reitora de Cultura e Extensão, Maria Arminda do Nascimento Arruda, defendeu que a Tenda é um local de reflexão e liberdade, aberto a toda USP. “Se as pessoas quiserem entrar e se manifestar, elas são livres. Esse é um espaço de liberdade, mas que precisa ser respeitado como local público e da Universidade”, afirmou.
Em resposta às críticas aos gastos “milionários” usados na Tenda, a Pró-Reitora questionou: “Será que quando se quebram as coisas não se gasta para recuperar? Não é menos do que aqui”.