À procura do público

Cinusp e TUSP encontram dificuldade em cativar espectadores que vão além de seus nichos e retomar público perdido com o esvaziamento da universidade

Em uma universidade com geografia tão espaçosa, o público em geral, quando pensa em espaços culturais, tende a associá-los a imagens de grandes museus e bibliotecas vistosas. No entanto, a USP oferece ao público universitário – e também aos visitantes que passam pelo campus no dia a dia –, espaços culturais de teatro e cinema que podem ser uma alternativa de lazer, mas que ainda não estão em total sintonia com as rotinas e com os desejos deste grande e variado público exclusivo da universidade.

Foto: Laura Viana
Foto: Laura Viana
O drama do teatro sem público e com salas em reforma

O ano de 2014 foi um tanto atípico para o TUSP, o Teatro da Universidade de São Paulo. A greve do ano anterior somou-se à reforma do edifício do Centro Universitário Maria Antônia, que já dura alguns meses, e gerou algumas dificuldades na programação. Só agora, no segundo semestre de 2015, com a estreia da peça O Jardim, da Companhia Hiato, que fica em exibição do dia 03 ao dia 26 de julho, é que o espaço se prepara para a retomada completa de suas atividades.

O novo cronograma afetou mostras tradicionais como a Experimentos, que há alguns anos reúne a produção das escolas de formação em teatro da cidade de São Paulo e, neste ano, entra em cartaz no final de agosto em vez do habitual primeiro semestre. Nela são apresentados não só espetáculos já concluídos, mas também processos em andamento de grupos oriundos de centros de formação dentro da própria USP, como o Departamento de Artes Cênicas e a Escola de Artes Dramáticas, e também de outros espaços, universitários ou não, como é o caso da SP Escola de Teatro.

Experimentos e outras ações produzidas ou apoiadas pelo TUSP, como o Programa Nascente, que premia iniciativas artísticas desenvolvidas na Universidade de São Paulo , têm ligação direta com o teatro universitário. Outras delas, como o Circuito TUSP de Teatro, que leva apresentações aos campi do interior de São Paulo, podem alternar, em suas edições, produções estudantis com espetáculos realizados por companhias profissionais.

A separação entre os dois tipos de produção nem sempre é clara, como coloca René Piazentin, orientador de Arte Dramática da instituição: “Estes espetáculos profissionais também dialogam com a produção universitária na medida em que muitos diretores são professores, têm uma carreira acadêmica. Muitas vezes esses universos, de certa maneira, já se comunicam”.

A seleção do que é exibido se dá por meio de três frentes: as ações continuadas, os espetáculos convidados e os editais públicos. Os dois primeiros reúnem ações de formação de público, mostras e festivais, e concentram, principalmente, grupos e atividades que já possuem certa ligação com o Teatro. É, portanto, por meio dos editais, que são abertos todos os anos e contam com comissão de avaliação externa, que a instituição procura variar seu quadro de exibições e abrir espaço para produções alternativas.

O público também não se limita à comunidade USP. Localizado na Vila Buarque, centro de São Paulo, o teatro atrai espectadores diversos, resultando em uma soma que René Piazentin classifica como “o público TUSP”. São pessoas que se tornam frequentadoras constantes do espaço, muitas vezes por conta de ações continuadas como o Ciclo de Leituras, onde os espectadores participam de leituras dramáticas de obras escolhidas. “Existe uma luta para formar público em São Paulo: o que você mais vê é que os espetáculos são, de certa maneira, vistos pela própria classe. Quem faz teatro normalmente é quem também acaba assistindo”, comenta ele, e completa dizendo que “o TUSP, como um espaço público, quer formar o seu público, quer fazer com que as pessoas saibam que não é apenas na Cidade Universitária que se tem acesso a programações vinculadas à USP”.

O charme da pequena sala de cinema, mas que ainda não está cheia

No caso do Cinusp, também houve uma diminuição do público nos dois últimos anos por conta da greve, que esvaziou o campus. Segundo o coordenador de produção do Cinusp, Thiago André, não houve uma recuperação do público: ” sinto que uma parte do nosso público perdeu o costume de vir ao Cinusp. E, de forma geral. o público deixou de frequentar esses espaços culturais da universidade”. Embora afirmando que a média de público do cinema é de 30 pessoas por sessão, e considerando “que é um bom público até para salas de cinemas comerciais, considerando as limitações da universidade”, Thiago admite que o cinema não vê muito sua sala cheia.

Thiago, no entanto, defende que sua “missão como programador de cultura é oferecer as opções para as pessoas e fazer um esforço de divulgação, mas além disso é uma opção delas”, explicando que o objetivo da sala não é “fazer público” mas sim “formar público”. “Todas as nossas mostras têm um texto que acompanha e apresenta os filmes, mas nós não podemos obrigar o público a discutir os filmes” apontou Thiago, defendendo que algumas iniciativas devem vir do próprio público. O coordenador também explicou que não é uma questão de popularidade de certas obras, porque algumas mostras que contaram com filmes populares não tiveram aumento de público por este fator.

Lucia Marques, estudante de biblioteconomia da ECA, acredita que “o Cinusp tem um problema” que se inicia com o extenso público que na teoria ele deve servir, este composto por “alunos, funcionários e professores da USP. Isso já cria uma faixa etária que varia entre 18 e 70 anos”.

“Fora isso, esse grupo vai do funcionário que está na USP por uma questão de vínculo empregatício e provavelmente vai ter interesse em um cinema mais comercial e atual, até os alunos de cursos como cinema, sociologia ou psicologia, que costumam procurar filmes por outros motivos que não só entretenimento”, aponta Lucia.

A resposta talvez seja a variabilidade de programação e maior número de salas disponíveis para os diferentes públicos, conforme concluiu a estudante Lucia, desejando que “seria interessante ter mais lugares que pudessem ser dedicados, parte do tempo, à projeção de filmes, e talvez peças de teatro também, e que a programação desses espaços pudesse ser dedicada ao lazer da comunidade USP, como é a utilização do CEPE-USP e da Praça do Relógio”.

Por Daniel Muñoz e Laura Viana