Moda e tecnologia se unem na EACH

Aplicativo vencedor de concurso faz ponte entre fabricantes e compradores de roupas sob medida
Grupo de alunos e professores comemora vitória do aplicativo 'Clothes for Me' em prêmio da Microsoft
Grupo de alunos e professores comemora vitória do aplicativo ‘Clothes for Me’ em prêmio da Microsoft

Antigamente era bastante comum que as pessoas fizessem suas roupas em costureiras, sob medida. No atual turbilhão que são as grandes cidades, porém, esse hábito acabou diminuindo. Um aplicativo desenvolvido na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, no entanto, promete tornar mais fácil esse tipo de hábito.

Baseado na multidisciplinaridade de sua equipe – que, segundo eles, “é a melhor forma para se desenvolver soluções importantes para a sociedade”-, reunindo profissionais de Têxtil e Moda, Artes Cênicas e Sistemas de Informação, o aplicativo permite conectar quem quer comprar roupas sob medida com quem pode produzi-las. O software venceu o Imagine Cup 2015, uma espécie de Copa do Mundo da Microsoft, que premia os melhores projetos em três categorias (veja no box como a competição funciona).

A ideia do Clothes for me surgiu em 2011, quando a professora Isabel Italiano, de Têxtil e Moda, conversou com o professor Luciano Araújo, da área de sistemas, e propôs a criação de um programa que ajudasse costureiras a criarem peças com maior valor agregado e mais qualidade. Seria preciso, para isso, entender como desenvolver um software que criasse moldes baseados nas medidas das pessoas. A professora conta que, para iniciar o projeto, eles convidaram a aluna de Têxtil e Moda, Juliana Pirani, que fazia Iniciação Científica com ela e, logo em seguida, o aluno de Sistema de Informação Daniel Tsuha, para que ele participasse do desenvolvimento do sistema.

Os problemas iniciais na geração desses moldes foram inevitáveis. Como eles não variam de forma homogênea e muitas curvas são irregulares, problemas matemáticos complexos tiveram que ser pensados e resolvidos. “Por se tratar de roupa sob medida, os resultados tinham que ser precisos, afinal, ninguém quer uma roupa sob medida que não sirva perfeitamente”, diz Isabel.

Nessa fase do projeto, Fausto Viana, especialista em figurino e também professor da EACH, foi convidado a integrar o projeto. Com ele, a equipe passou a pensar em roupas para teatro e cinema, ou seja, em trajes mais complexos como vestidos de princesa e trajes militares, por exemplo. “Vimos que tínhamos um software com muito potencial e, então, começamos a pensar em como criar um produto que qualquer pessoa pudesse usar”, conta a professora. Foi então que entrou a última integrante do grupo, a aluna de Sistemas de Informação, Bianca Letti. A ideia era desenvolver uma plataforma de venda de roupas sob medida, simplificando o processo de compra.

O processo se dá da seguinte forma: do lado dos clientes, eles escolhem as roupas que querem comprar, informam suas medidas, verificam a avaliação dos que oferecem as peças, pagam e depois recebem a roupa em casa. Do outro lado, estão as costureiras, alfaiates, confecções e marcas, cadastrados na plataforma para oferecer essas roupas. É possível ainda dizer que o aplicativo tem uma preocupação social. Segundo ela, a proposta inicial era justamente atender comunidades carentes, que tivessem um grupo de pessoas organizadas para costurar, como pequenas cooperativas de costura em comunidades. O software geraria os moldes, que podem ser impressos em uma impressora doméstica, e estas comunidades poderiam produzir as peças mais facilmente. “Isso gera renda e empodera mulheres em situação carente”, afirma.

A partir daí, a solução se expandiu para atender, também, grandes ou pequenas empresas da cadeia produtiva. “Atualmente, podemos dizer que qualquer porte de empresa ou de comunidade, e até mesmo uma costureira isolada no interior do Brasil, com uma máquina de costura doméstica, pode participar da cadeia produtiva, conectados pelo Clothes for me”, diz a professora.

A premiação que o grupo recebeu no Imagine Cup vai muito além dos 50 mil dólares ganhos. A equipe terá uma mentoria particular com Satya Nadella, o CEO da Microsoft, em breve, e ainda recebeu quatro semanas de aceleração internacional em uma das Microsoft Venture do mundo. “Um dos objetivos é justamente permitir que a startup consiga investimentos para se desenvolver e atuar globalmente”, explica Isabel.

As parcerias com costureiras, alfaiates, modelistas e outros profissionais participantes da cadeia estão sendo finalizadas para que o Clothes for me possa ir ao mercado. Ele vai rodar em computadores, celulares e tablets.

A competição Inicia localmente, em cada país. Em 2015, no Brasil, mais de 3 mil projetos participaram nas três categorias: Inovação,Games e Cidadania. O eFitFashion, time da EACH, enviou um projeto e, a partir daí, enfrentou uma série de etapas, como fazer um plano de negócios e uma apresentação para um grupo de juízes. Os 3 melhores projetos de cada categoria foram para a final brasileira, em Curitiba. Nesta etapa, a equipe foi vencedora na categoria Inovação. A Microsoft, então, os selecionou para representar o Brasil no campeonato mundial. A competição ocorreu em Seattle, onde disputavam mais 33 times, divididos nas três categorias. Lá foi feita uma apresentação de 10 minutos para um conjunto de juízes e uma sessão de hands on com cada um deles individualmente, onde os juízes usam o produto e fazem uma série de perguntas. O Clothes for me foi campeão da categoria Inovação e, na última etapa, em um auditório com mais de 4000 pessoas e três juízes no palco – além de Satya Nadella, CEO da Microsoft Corporation – os três vencedores apresentaram seu projeto em 3 minutos. Os juízes, então, escolheram o Clothes for me como campeão mundial.

Por Cesar Isoldi