Núcleo do centro acadêmico quer preservar memória do curso e do movimento estudantil
Estudantes do curso de Ciências Sociais, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), se organizam para preservar a história do departamento. Criado com o objetivo de facilitar o acesso à memória do curso e do movimento estudantil, o grupo, chamado Núcleo de Memória (NuM), resgata documentos antigos e os disponiliza em sua página no Facebook.
Fundado em 16 de outubro de 2015, o NuM surge de um evento realizado para comemorar o aniversário do CeuPES (Centro Universitário de Pesquisas e Estudos Sociais) Ísis Dias de Oliveira, que foi “desaparecida” durante a ditadura militar. Foram convidados professores que participavam do movimento estudantil e entre eles estava Carlos Henrique Menegozzo, antigo membro do centro, que havia feito um projeto sobre o movimento e tinha acesso aos arquivos. Dessa conversa nasceu a ideia de criar um grupo para os preservar e tornar mais acessíveis.
Segundo Luna Zarattini, estudante do curso e uma das coordenadoras do NuM, o núcleo tem aproximadamente dez pessoas regularmente engajadas e se reúne sempre que possível para pesquisar, sistematizar, analisar e publicar o material – atas, jornais e boletins informativos. Em poucos meses, ela afirma já ter havido várias surpresas.
“Certa vez encontramos um documento antigo relatando problemas em nossa grade curricular que, por sua vez, são alvo de reclamações do corpo discente até hoje”, diz. A privatização da universidade, a repressão aos movimentos sociais e a elitização da USP são outros assuntos recorrentes há décadas, de acordo com Luna.
Recentemente, foi encontrado um mapa da Cidade Universitária de 1973, época em que as Ciências Sociais ainda se localizavamprovisoriamente nos “barracões”. No documento, questionava-se, à caneta, quando seria construído o prédio definitivo para o curso.
Para os organizadores do NuM, é importante que haja maior acessibilidade a esses documentos, uma vez que a rotatividade do corpo discente é grande. Segundo eles, essa curta “mudança geracional” pode levar o movimento estudantil a não conseguir aprender nem com os erros, nem com os acertos do passado.
Em suas análises dos documentos, o grupo encontrou relatos com questões persistentes desde a década de 1970, o que, segundo Luna, tem a ver com a “falta de memória e do interesse em reivindicá-la para nossas decisões e mobilizações atuais”. “Os acontecimentos de hoje são discutidos como se fossem problemas da atualidade. Isso impede o diálogo com experiências passadas, nas quais poderíamos nos orientar para ideias mais efetivas de como enfrentar esses desafios”, declara.
Apesar de ainda pouco ter sido disponibilizado publicamente, o NuM pretende organizar e digitalizar todos os documentos durante o ano de 2016. Para isso, está nos planos fazer uma plataforma digital à qual qualquer pessoa consiga ter acesso.
A iniciativa de sua criação foi da antiga gestão “Motirõ” do CeuPES. A atual, no entanto, declara que suas atividades extrapolam os mandatos, tornando-se um grupo aberto a todos os estudantes de Ciências Sociais, independentemente de quem esteja na administração.
O NuM tem apoio do departamento de Antropologia e do CAPH (Centro de Apoio à Pesquisa Histórica), entidade criada também para preservação histórica. “O departamento nos fornece apoio para digitalização, compartilhando máquinas de scanner e espaço e o CAPH oferece um local para guardarmos todo o acervo físico”.