Número de alunos que deixa a universidade ainda é elevado, se comparado à média nacional
Um estudo realizado pela Pró-Reitoria de Graduação (PRG) entre 2000 e 2015 revela que a taxa de evasão de alunos na USP é de 20,2% – o que se encontra dentro da média das universidades estaduais públicas de São Paulo, porém acima da média nacional de evasão para o ensino superior público. Dentre os principais motivos relatados pelos alunos para a desistência da graduação estão: a dificuldade das aulas, a falta de didática de alguns professores, a pouca diversidade das grades curriculares, a falta de conhecimento a respeito do curso escolhido e, nos casos das faculdades localizadas no interior do estado, a falta de segurança e infraestrutura das cidades.
Em comparação com as outras universidades públicas do estado, a taxa de alunos da USP que não concluem a graduação é mediana: na Unesp, a taxa atual de evasão também é de cerca de 20%, mas a universidade estadual já registrou picos de até 30% (em 2014, por exemplo). A Unicamp também tem uma taxa média de evasão que oscila entre 15% e 20%, mas a universidade é uma das que mais consegue garantir a permanência estudantil, com taxas de evasão que já chegaram a 5,04% em 2004 e a 7,5% nos últimos três anos (um dos fatores que influenciam é a maior oferta de bolsas de auxílio pela universidade de Campinas). Entretanto, mesmo apresentando índices semelhantes aos das outras universidades paulistas, a taxa de evasão da USP ainda é superior à média nacional, que gira em torno de 18,3% para universidades públicas e 25,9% para instituições privadas, segundo um estudo do Semesp (Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior), feito com base em dados coletados pelo Inep.
Razões para desistências
Dentre as graduações com média de evasão superior à da Universidade, encontram-se os cursos da área de exatas: o de matemática na USP registra uma taxa de evasão de 38%, e no Instituto de Ciências Matemáticas e Computação (ICMC) da USP São Carlos esse índice chega a 48%. Matheus Marques, ex-aluno de engenharia civil da Escola Politécnica da USP, relata que a dificuldade para acompanhar as aulas era grande e levou à desmotivação com relação à carreira de engenheiro: “No começo do semestre, eu pretendia fazer diversas coisas dentro da faculdade e aproveitar ao máximo meu tempo lá dentro. Porém, com o passar do tempo, eu me esforçava demais para conseguir uma nota 5 em todas as matérias. O esforço necessário me fez repensar se era realmente aquilo que eu queria para a minha vida”. Outro fator relatado por Matheus é a falta de diversidade da grade curricular – agravada pelo fato de que os alunos só podem escolher disciplinas optativas a partir do segundo semestre. Hoje, Matheus deixou a Universidade e estuda para entrar em Medicina.
Para Bruna Pinhati, ex-aluna de História na Faculdade de Filosofia, Letras, e Ciências Humanas, o motivo da desistência estava mais relacionado aos professores do que com a grade curricular em si: “a grade não me desmotivava, os professores sim. Acho que fui com uma expectativa muito grande que não foi atendida”. A estudante permaneceu na faculdade durante apenas um semestre, em grande parte devido á qualidade das aulas oferecidas: “Eu até sentia que os professores eram preparados, mas não tinham uma coisa que é fundamental: didática”. Com relação a esse ponto, Marcos Neira, professor do Departamento de Metodologia do Ensino e Educação Comparada da Faculdade de Educação, comenta que “didática não pode ser entendida simplesmente por ‘domínio e uso de técnicas de ensino’. Na USP os alunos têm a oportunidade de estabelecer contato não somente com professores que conhecem bem o que ensinam, mas também o processo de construção daqueles conhecimentos.” O educador afirma que isso contribui para criar um outro patamar da relação professor-aluno, que iria além de ter ou não ter didática.
Evasão ou Desvinculação?
Um caso mais comum dentro da USP é o do aluno que decide trocar de curso, ao invés de deixar a universidade. A Pró-Reitoria explica que o termo para a migração interna do aluno de um curso para outro é chamada de desvinculação, e, portanto, difere-se da evasão (que ocorre quando o aluno de fato sai da instituição de ensino).
O caso de Lucca Palmieri ilustra uma situação de desvinculação: o estudante inicialmente cursava Astronomia, porém decidiu migrar para o curso de Ciências Sociais. “Eu decidi trocar por dois motivos: eu senti que o campo de trabalho não era muito apropriado para mim, e eu também sentia bastante falta de humanidades”. O estudante relata que tentou diversificar a grade com disciplinas optativas livres, porém teve dificuldade em conseguir uma vaga. “Eu fiquei um ano na Astronomia e até tentei, mas não consegui pegar nenhuma disciplina optativa livre”.
Outro exemplo de desvinculação é o caso de Matheus Conti, que estudava Engenharia Bioquímica em Lorena e atualmente cursa Engenharia Elétrica na Escola Politécnica. O estudante relata que, além de não ter gostado da área de Engenharia Bioquímica, o fato de o curso ser ministrado no interior de São Paulo teve influência em sua decisão de escolher uma nova graduação: “Gostava muito da minha vida lá, mas a cidade era um problema pra mim, porque me decepcionava estar numa cidade onde eu via que eu não ia pra frente, onde só ia fazer minha faculdade e voltar pra São Paulo depois. E eu achava a cidade muito insegura: meu amigo foi assaltado, o menino que morava comigo foi assaltado”.
De qualquer forma, tanto a desvinculação quanto a evasão dos alunos têm causas semelhantes: a falta de diversificação nas grades curriculares, a dificuldade das aulas, a falta de informação sobre o curso e a qualidade das aulas estimulam o aluno a mudar de curso e até de universidade.
O que pode ser feito
Neira afirma que a evasão possui múltiplas causas e que é necessária uma postura ativa da Universidade para combatê-la institucionalmente. “Uma parcela dos nossos alunos acaba se evadindo devido à dificuldade de acompanhar o curso, somada a outras exigências como o trabalho para sustentar-se e cuidar da família. A grande maioria dos nossos alunos trabalham. Muitos moram bem longe do campus. As políticas em voga não têm dado conta de garantir a permanência desses estudantes após a aprovação no vestibular”. O docente levanta também a questão dos professores da rede pública, e afirma que há pouco incentivo por parte do Estado para os docentes: “Especificamente na rede estadual paulista temos uma grande evasão de professores concursados. Muitos aprovados nos concursos sequer chegam a assumir as aulas porque encontram oportunidades mais atraentes em outras instituições ou profissões”.
A PRG afirma que realizou estudo sobre medidas de combate à evasão e o encaminhou às Unidades para que “pudessem avaliar e encaminhar sugestões”. Como exemplos de ações já efetuadas, a Pró-Reitoria cita o incentivo à reformulação de cursos e alteração da grade curricular, e a criação do Escritório de Desenvolvimento de Carreiras (vinculado à própria PRG).