Falta de estrutura esportiva e altas contrapartidas financeiras tornam a missão complicada
Quase todo estudante da USP já foi ou ao menos conhece alguém que já esteve em um inter. Os tradicionais campeonatos, que misturam esporte e integração, fazem parte do cotidiano e da experiência universitária de boa parte dos estudantes da maior universidade do país, tornando os feriados prolongados sinônimo de Jogos.
Quase sempre em cidades do interior paulista ou de estados próximos, como Minas Gerais, alguns dos principais inters unem faculdades públicas e particulares, como o JUCA (Jogos Universitários de Comunicação e Artes), o Economíadas, o Engenharíadas, os Jogos Jurídicos e o Intermed. Já outros, como o BIFE, a InterUSP e o CaipirUSP são disputados apenas por institutos e faculdades da Universidade de São Paulo.
Para conseguir realizar um evento que reúne milhares de pessoas – o último JUCA, por exemplo, atraiu cerca de seis mil universitários –, entretanto, é necessário muito trabalho ao longo do período que antecede o inter. A reportagem do Jornal do Campus conversou com integrantes das Comissões Organizadoras (CO) do BIFE e da InterUSP para entender como os jogos universitários tomam forma.
BIFE
Campeonato fundado pela Biologia, o IME, a FAU e a ECA, mas que este ano contará com dez atléticas, o BIFE terá sua décima sétima edição no feriado da Proclamação da República. Uma semana antes, as disputas individuais da natação e do atletismo ocorrerão na piscina da Medicina Pinheiros e na pista do CEPEUSP.
A menos de um mês do início das disputas, porém, ele ainda não teve local divulgado. Para Pedro Nepomuceno, estudante do IME e integrante da CO do torneio, uma das principais dificuldades para fechar uma cidade é a má fama desses eventos universitários. “Muitas cidades têm receio de nos receber principalmente pelo histórico de outros inters. Algumas já sediaram jogos que têm rivalidade entre as torcidas e causaram problemas nas praças esportivas. Outras tiveram as suas escolas depredadas no passado, e por isso não aceitam que as usemos de alojamento. O receio das prefeituras com a proximidade de eleições costuma também ser um problema”, aponta.
Sempre nos últimos meses do ano, o BIFE, que nesta edição estima atrair cerca de dois mil estudantes para a cidade, começa a ser organizado meses antes e é dividido em duas comissões – a balada e a esportiva. Para arrecadar dinheiro previamente, a CO balada realiza três festas durante o ano: o Desmame, o Engorda e o Abate. Paralelamente, a CO esportiva adapta o regulamento, contrata uma empresa para gerenciar a equipe de arbitragem, discute casos de atletas específicos e, principalmente, procura por uma cidade-sede.
Na carta-ofício que a organização envia para os municípios que demonstram algum interesse em receber o campeonato, são poucas as exigências por parte do BIFE. Solicita-se a utilização de uma estrutura esportiva mínima, como duas quadras, um campo de futebol, quadras de tênis e salões para a realização de outras modalidades, além da cessão de escolas – geralmente públicas – para o alojamento dos estudantes.
Em contrapartida, para além dos benefícios ao comércio local que a vinda estudantes naturalmente proporciona, as cidades costumam exigir uma contribuição financeira para a prefeitura e para as escolas utilizadas de alojamento. Segundo Nepomuceno, a organização também se responsabiliza por eventuais danos causados ao patrimônio público dos municípios, oferecendo cheques-caução à prefeitura.
Além das quatro fundadoras, o 17º BIFE contará com FFLCH, Física, Pedagogia, Química, Geociências, Veterinária e os institutos de Ciências Biomédicas e de Oceanografia, que competem em conjunto com a Biologia. Nesta edição, o BIFE contará com 13 modalidades, sendo que todas contemplam ambos os naipes. As novidades ficam com o futebol de campo e o rúgbi feminino, que terão sua primeira aparição no inter. Apenas IME (10 vezes), FFLCH (4) e a ECA (2) já faturaram o geral do torneio.
InterUSP
Iniciada em 1988, a InterUSP reúne algumas das mais fortes atléticas da Universidade de São Paulo. Em 2016, na sua 32ª edição, atraiu cerca de quatro mil pessoas para a cidade de Avaré, em quatro dias de disputas durante o feriado de Corpus Christi. Com público bem distinto do BIFE, ambos os inters se aproximam na dificuldade em fechar uma cidade-sede.
Segundo Matheus Giori, atual secretário da Liga InterUSP, pelo menos desde 2011 a organização do campeonato não consegue realizar o inter em cidades com a estrutura adequada, graças à resistência dos municípios em abrigar eventos universitários. “Você tem sempre que oferecer alguma coisa em troca hoje em dia. Não dá mais pra você conseguir uma cidade pelo incentivo ao esporte. Ninguém cai mais nessa. Além disso, há dificuldade de você, sendo aluno universitário, ter que ficar fazendo visitação em horários horríveis”, explica o estudante da Escola Politécnica.
A InterUSP, diferentemente do BIFE, promove uma licitação e contrata uma empresa para gerenciar a parte social do inter, limitando-se à organização esportiva do evento. Em pelo menos 15 reuniões ordinárias que costumam ocorrer nos finais de semana – já que o campeonato tem duas atléticas do interior paulista –, a Liga discute regulamento, orça arbitragem e premiação e, é claro, procura uma cidade.
Com maior número de modalidades em relação ao BIFE – a InterUSP contempla disputas pouco usuais no esporte universitário, como beisebol, softbol, polo aquático e karatê –, a organização exige das cidades também uma maior estrutura esportiva. Ao menos três ginásios municipais são necessários, sendo que dois deles devem ter arquibancadas em ambos os lados e no mínimo uma deve ter o tamanho oficial de 40m x 20m. Além disso, o campeonato necessita de campos para a realização do futebol, do rúgbi, do beisebol e do softbol, quadras de saibro para a disputa do tênis, piscina olímpica ou semi-olímpica e pista de atletismo.
Como garantias para a cidade-sede, a InterUSP arca com qualquer prejuízo causado pelos estudantes que estão participando do inter, além de garantir que não haverá consumo e nem estoque de bebidas alcoólicas dentro dos alojamentos. O grande benefício para as cidades, no entanto, acaba sendo o consumo dos mais de quatro mil estudantes no comércio local.
A Medicina Pinheiros é a grande campeã do InterUSP com 24 títulos, seguida pela Escola Politécnica, que já levantou o caneco geral em oito ocasiões. Além das duas únicas campeãs, o campeonato conta com a presença da FEA, da Odontologia, da Farmácia, da Faculdade de Direito, além das interioranas ESALQ e Medicina Ribeirão.