De grande importância para cinema nacional, ex-professor da ECA completa centenário em 2016
Crítico de cinema. Historiador. Militante. Escritor. Professor. 100 anos de legado incomparável para o cinema, para a cultura, para o Brasil. Paulo Emílio Sales Gomes foi todas essas coisas e mais um pouco. Engajado nas causas políticas, amante da sétima arte, professor universitário e escritor compulsivo, Paulo Emílio é lembrado por muitas de suas ideias e projetos, tais que não caberiam num simples artigo de meia folha.
Para começar, pode-se ressaltar seu lado militante político que começou muito cedo. Participou da Juventude Comunista e foi preso em 1935 por Getúlio Vargas, após a Intentona Comunista. Conseguiu fugir e se exilou na França por um período. Quando voltou para o Brasil, ingressou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Em 1941, com colegas da faculdade, fundou a revista “Clima”, que abordava assuntos como teatro, literatura, artes plásticas e cinema, na qual começou a escrever suas primeiras críticas cinematográficas.
Paulo Emílio foi fundador da Cinemateca Brasileira, uma dura batalha de dez anos à qual o crítico se dedicou com afinco. Tal empreendimento originou o ensaio “Cinema: trajetória no subdesenvolvimento”, que influenciou muitos jovens cineastas do “Cinema Novo”, como Glauber Rocha, David Neves, Paulo César Saraceni e Cacá Diegues, a pensar e produzir cinema no país de forma diferente. Nos anos 70, Paulo Emílio entrou numa fase “jacobina”, como costumava dizer, em que defendia o cinema brasileiro por vezes com atitudes e frases polêmicas, como “assistir ao pior filme brasileiro vale mais do que ver o melhor filme estrangeiro”. Tanto que, quando professor, incentivava os alunos a apresentarem seminários sobre qualquer filme nacional em cartaz, inclusive os pornográficos como os famosos pornochanchadas. Por tais polêmicas, em 1974 a reitoria da USP se recusava a renovar seu contrato, claramente por pressão política.
Além de crítico, Paulo Emílio era escritor de ficção. Escreveu duas obras em vida e publicou uma póstuma. A primeira foi lançada em Paris, em 1957: uma biografia do cineasta Jean Vigo (1905-34), recebida com bastante sucesso. A segunda foi “Humberto Mauro, Cataguases, Cinearte” (Perspectiva, 1972), resultado da sua tese de doutorado na FFLCH. E, por fim, a obra de publicação póstuma e única de ficção “Três Mulheres de Três PPPs”, de 1977, composta por três novelas, “Duas vezes com Helena”, “Ermengarda com H” e “Duas vezes Ela”.
Paulo Emílio morreu aos 60 anos de um ataque cardíaco fulminante, em 9 de setembro de 1977. Porém, seu legado continua vivo e pulsante no meio acadêmico, nas livrarias e nas salas de cinema. A academia nunca irá esquecer de sua importância, principalmente as Universidades de Brasília, na qual fundou o curso de cinema, em 1965, e a Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, na qual foi um professor renomado e querido por muitos. Nas livrarias, é possível encontrar novas edições de seus livros: a editora Companhia das Letras relançou em 2015 seu clássico de ficção e outra obra que reúne diversos ensaios críticos chamada “O Cinema no Séculos”, ambos sob a curadoria de Carlos Augusto Calil, professor da ECA e ex-aluno do consagrado crítico. Sua memória permanece viva também nas sala de cinema, como patrono da Cinemateca Brasileira e homenageado na sala de cinema da USP, o CINUSP Paulo Emílio. Como forma de celebrar o centenário desta grande figura, a Cinemateca em parceria com o CINUSP e o CINESESC, organizou uma mostra no mês de setembro, formada de obras nacionais analisadas pelo crítico, além de seminários e cursos sobre cinema brasileiro.